sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

PACHECO E AS NOVELAS DE PRIMEIRA HORA DA TV GLOBO

Raul Longo

O casal de amigos Pacheco e Milú, de Curitiba, não é bobo. Logo, não assistem as novelas da Globo. Mesmo assim Pacheco se espantou com uma das ficções da emissora quando alguma atriz da novela que há décadas exibem diariamente, subdividindo os capítulos cotidianos em 4 partes, recentemente acrescidos de uma a mais para madrugadores; afirmou que o golpe ao presidente Goulart ocorreu porque Jango teria prometido fazer as reformas populares "... Na lei ou na marra".

Preocupado, Pacheco me escreveu perguntando se eu teria lembrança de tal pronunciamento do personagem real que presidiu o Brasil até ser destituído por alguns generais do exército brasileiro e o embaixador Lincoln Gordon dos Estados Unidos.

Expliquei ao Pacheco que eu ainda era muito jovem na época, mas como no título do documentário de Camilo Tavares, “O Dia que durou 21 anos”, aquele 1º de Abril de 1964 para mim não foi apenas mais um Dia da Mentira. Muito pelo contrário! Foi o dia em que tardiamente, já então com 12 anos de idade, descobri a verdade de minha condição de filho de pai austero ao me dar conta de que os projetos do governo dos Estados Unidos para meu país e continente, poderiam ser mais traumáticos para o resto de minha vida do que a cinta do pai.

Deixando minhas realidades pessoais de lado e voltando ao universo ficcional da Globo, que superam em muito a virtualidade em voga nestes tempos informáticos, tive de explicar ao Pacheco -- que não é bobo -- que se a emissora jamais se preocupa com as informações que transmite é apenas por se aprimorar exclusivamente no ficcional de suas novelas.

Citei até a interpretação de uma de suas apresentadoras em um programinha da tarde, no papel de repórter cultural. Casualmente passando frente a um aparelho de TV sintonizado à emissora, chamou-me a atenção a bela paisagem de Búzios ao fundo e acabei ouvindo aquela atriz afirmar ter sido ali que Ronaldo Bôscoli compusera determinada música para Elis Regina.

Isso só poderia acontecer na cabeça dos novelistas da Globo, pois a música do Bôscoli, um clássico da Bossa Nova lançado pela Silvinha Teles nos anos 50, nunca foi gravada pela Elis que somente lançou seu primeiro long-play, “Viva a Brotolândia!” em 1960, quando ainda assinava como “Elís”, com agudo no “í”, e interpretava músicas do estilo “Jovem Guarda”.      

Pois exatamente por não ser bobo, Pacheco que não assiste a Globo acabou caindo na bobagem de acreditar que a emissora pauliroca, de produções meio paulista e meio carioca, designe parte de seus estúdios e interesses para produção de informativos. Aproveito esse engano do amigo para desfazer recorrentes maus entendidos dos que vivem acusando aquela emissora de mentir sobre a história e a atualidade político/econômica do país.

Não é isso gente! As pessoas é que entendem mal e acabam até elegendo e apoiando personagens criados pelo talento dos ficcionistas de uma empresa de comunicação exclusivamente especializada em produção de novelas. Já que o público confunde ficção e realidade e até elege personagens das telenovelas da Globo para cargos políticos, a empresa de comunicação resolveu explorar esse mercado ou preferência pública pelo gênero. E deu tão certo que acabam de ampliar as partes de capítulos exibidos diariamente daquela sua mais antiga novela que reproduz o que seriam atividades jornalísticas no mundo real.

A programação que se utiliza da criatividade de alguns atores habituados a papéis de comentaristas e repórteres, antes se iniciava numa sequência para despertar seus telespectadores com notícias terríveis sobre um país em constante falência e sem qualquer perspectiva de futuro, paradoxalmente intitulada “Bom Dia Brasil”. Mas aquela ambientação nada tem a ver com o Brasil real!

Por volta das 13 horas o capítulo do dia prossegue numa sequência mais amena que é pra combinar com o horário digestivo, mas lá pelas 20 horas retornam ao dramatismo. Por fim, cerca de meia noite encerram estimulando os pesadelos de uns ou oferecendo uma boa noite de sono a outros que percebem algum humor no ridículo da paródia ao final do capítulo de um dia que reiniciará no seguinte, como acontece invariavelmente há bem uns 50 anos, levando muitos a acreditarem que essa novela sem fim da Globo só acabará quando a emissora encerrar suas transmissões.

Pois desde segunda-feira desta semana anteciparam o início da diária exibição dos capítulos dessa novela, lançando nova sequência com o título “Hora 1”. Dizem que a estreia  já é um sucesso, mas o comentário é suspeito, afinal neste horário não há nenhuma novela concorrente nos outros canais. Portanto, como as apresentações cotidianas das demais sequências continuam perdendo IBOPE para os telejornais das outras emissoras, os analistas concluem pela inevitável progressão da decadência desse gênero de novelas da Globo que desde o início deste século parece ter cansado ou enjoado o público. Não deixa de ser uma  produção barata de alto patrocínio por grupos políticos nacionais e multinacionais, mas com esse descaso público será que continuará pregando mentirinhas de 1º de Abril no meu amigo Pacheco que exatamente por não ser bobo se espanta com as tantas mentiras da Rede Globo?  

Não sei se em qual das sequências desses capítulos o Pacheco ouviu dizer que Jango teria prometido fazer as reformas de base "... Na lei ou na marra".  Na verdade pouco importa se nas diurnas, noturnas ou no lançamento da vespertina; pois de toda forma em respeito ao meu amigo que não é bobo e mesmos aos que porventura levem a Globo para dentro de suas casas, é preciso advertir que história é uma coisa e ficção de novela é outra. Mesmo tentando reproduzir algum fato real, nunca tem nada a ver com a verdade do que realmente aconteceu ou acontece.

O fato verdadeiro e real pode ser visto e apreendido por aqui: 



Já a ficção da Globo é ficção e não se pode exigir nenhuma verdade de quem não tem nem pretende ter qualquer compromisso com a verdade dos fatos, tampouco interesse comercial em divulgá-los

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