sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Juztissa


(breve história de ninar gente grande)
Raul Longo
Não é erro de ortografia. No afã do tanto a escrever em tentativa de desconstrução de tão recorrentes farsas e hipocrisias, muitas vezes cometo erros, mas o título do que aqui se comenta é exatamente o que se tem: JUZTISSA.
Com Z de final do alfabeto. Z de derradeiro, de último, de acabou. Z de fim da picada, de não se ter mais pra onde ir.
O SS reporta ao duplo S da Schutzsffel, a tropa de elite que formava a guarda pessoal de Adolf Hitler, a famigerada SS, expressão máxima do fascismo: Toda impunidade aos meus. Toda intolerância aos teus.
Isto é o que substitui a antiga Justiça brasileira, conforme se comprova no comportamento cotidiano de pessoas de todas as classes sociais que indistintamente ignoram seus semelhantes seja qual for a idade, gênero, condições especiais ou apenas a mera condição humana.
Verdade é que em quase todo o mundo as leis sempre foram feitas pelas elites para garantirem seus próprios interesses, mas ainda assim é através das determinações e penalidades ao descumprimento das leis que se promove e se mantem a civilidade entre as sociedades. E se aperfeiçoando de civilização a civilização a Justiça vem se tornando um código universal, mal ou bem a serviço de todas as comunidades humanas.
Um país onde o próprio sistema judiciário se inverte e se transforma em garantia de impunidade para criminosos ou em instrumento para sentenciar exclusivamente aos desafetos de determinados grupos e facções, chegará a um tempo em que não haverá polícia ou exército que contenha os desajustados, os vândalos, os tarados, o quebra-quebra, a baderna.
Ali a mais pacífica e ordeira manifestação, seja de exaltação ou reivindicação popular, se tornará batalha campal, pois não haverá limites, códigos, padrões de comportamento e civilidade.
Há uma frase em Dostoievsky que exemplifica o que ocorre, referindo-se a Deus, pois que então seria a entidade suprema de representação da Justiça: “Se Deus não existe, tudo é permitido”.
Ateus ou crentes os cidadãos modernos não precisam de representações divinas para decidir quais seriam os comportamentos honestos e descentes. Mas precisam, sim, de certeza na existência da justiça. Não na dubiedade da abstração divina, mas na concreta e humana. Precisam acreditar na existência de penalidades para os que contrariam os códigos de civilidade, independentemente de grupo social, intelectual, étnico, econômico ou político.
Independente de gênero, orientação sexual, idade, o que for, precisam sentir que a justiça que condena o crime comprovado, também é a que absolve o injustiçado pela calúnia, pela denúncia vazia, pelo falastrão e o interesse escuso.
E, sobretudo, precisam estar convictos de que a justiça é igual para todos, pois justiça diferenciada não existe, não é justiça. E para não chamar de injustiça o que no Brasil é determinado pelo Sistema Judiciário, digo que o que aqui se determina é a Juztissa. Portanto, se há algo de errado com essa palavra não é a ortografia.
Não sou eu que demonstro o acerto dessa ortografia ou o erro de se referir ao STF ou ao Ministério Público como organismos de Juztissa e não de Justiça contra a qual depõem. É o Davis Ribeiro de Sena no seu Blog Palavra Livre, mas antes de chegar ao Davis preciso exemplificar o que quero demonstrar como nefasto efeito do desmonte de algum resquício de sistema judiciário que por ventura houvesse nesse país e o faço através de uma publicação de outro blog, o Blog da Cidadania do empresário Eduardo Guimarães.
Em O monstro da caixa de comentários”, Guimarães pede aos seus leitores que o auxiliem na identificação do autor deste comentário a um de seus textos:


   
É o próprio Eduardo -- que há anos tenta promover princípios de cidadania através de seu blog sem finalidades lucrativas -- quem explica que sua filha Vitória é uma menina de 15 anos, vítima de paralisia cerebral.
Antes de qualquer coisa peço calma aos que me escrevem indignados por não me deixar condicionar pelo mesmo senso de juztissa que os convence não haver necessidade de provas ou de materialidade de um crime para se condenar alguém como criminoso. Sei que pouco lhes interessa as preocupações do Eduardo Guimarães com suas filhas e não aceitarão que lhes estrague o prazer provocado pelas prisões da última sexta-feira com problemas domésticos alheios. Certamente imaginam que nesse andar acabarei chorando pitangas pelo delicado estado de saúde do Genoíno.
Tranquilizem-se! Não irei tratar aqui de crimes sem comprovação, apenas dos sobejamente comprovados e documentados.
Não discutirei improcedência e improficiência de charlatães a condenar por literatura ou domínios teóricos tão etéreos que o próprio autor da teoria teve de lembrar, lá de sua Alemanha, de que para haver o domínio é preciso ao menos existir um fato concreto como os que o levaram a condenar os criminosos da Segunda Guerra Mundial.
Não sou xamã, pajé, pai de santo ou mago para ressuscitar mortos nem afirmar ou negar a existência do que ninguém sabe, ninguém viu e sequer se achou na conta do exterior do Duda Mendonça que nem condenado foi.
Portanto não se assombrem nem se assustem e mantenham-se tranquilos no conforto de seus entusiasmos pela prisão de Delúbio, Dirceu e Genoíno, pois que não pretendo incomodar ninguém a esse respeito.
Durmam em paz que não vou aterrorizá-los com evidências de injustiças. Vou apenas tratar da Juztissa e o efeito que ela continuará provocando em doentes mentais como o suposto Heleno que escreveu ao Eduardo Guimarães.
É com eles que estou preocupado.
O que me preocupa é o tarado do bairro a molestar a sua filha. O garoto do vizinho que não o deixa dormir quando resolve aumentar o funk ao último volume no meio da madrugada. O vândalo que a cada manifestação incendeia um carro que algum dia poderá ser o seu.
O que me preocupa é a grosseria, a falta de educação e de civilidade de que todos somos vítimas no cotidiano das ruas.
Consequência da densidade de concentração urbana? Dos meios de massificação cultural? Da degradação familiar? Da falta de religião? Do governo?
Pode-se culpar a quem quiser e provavelmente se terá razão em boa parte das hipóteses, mas, sem dúvida alguma, seja entre qual povo for nada é mais estimulante à agressividade, ao conflito físico ou armado como único caminho de solução; do que a impunidade. Nem há maior incentivo à transgressão, a perversão, à prática criminosa, ao desrespeito.
Não adianta dizer que só escapam os com dinheiro para comprar a justiça. Juízes se vendem em todas as partes do mundo, mas em cada uma das partes do mundo onde se constroem e se mantém verdadeiras civilizações há uma instituição de representação máxima do código de conduta entre os integrantes de uma sociedade.
Claro que um ou outro sempre acabará escapando e ninguém é ingênuo para acreditar que em algum lugar do mundo exista um sistema judiciário de irrepreensível equidade. Mas ainda assim se preservar uma sistemática que consiste em código de conduta a nortear a sociedade, a exemplificar, a servir de padrão.
Por mais que a Mídia se esforce não fará de Joaquim Barbosa um Moisés Negro a entregar as tábuas dos 10 Mandamentos da civilidade ao povo brasileiro. As lendas bíblicas podem ser comoventes para alguns, mas mesmo para esses não se concretizam fora da Bíblia e por mais que Barbosa esconda o ilícito à sua função na sociedade brasileira com a manutenção de uma empresa estrangeira através da qual adquiriu um imóvel em condomínio de alto luxo em Miami; não seria apenas sua hipocrisia ou honestidade -- mesmo que existisse -- o que serviria de código de conduta ao povo desse país. Joaquim Barbosa ou Gilmar Mendes, quaisquer dos Ministros do STF, mais cedo ou mais tarde serão substituídos e tão pouco retidos pela memória popular quanto Cezar Peluso e Eros Grau.
Não serão os ministros, os procuradores gerais, as cortes judiciais e promotores de ministérios públicos, federal ou estaduais; que construirão a massa crítica e autocrítica da população brasileira. Mas esses que hoje impedem, inviabilizam, e se desviam de funções apenas pela vã vaidade de passar à história como provedores de Juztissa farão ideia de quantas gerações serão necessária até que a sociedade se recupere do prejuízo moral promovido por uma sistemática como a empregada pelo judiciário brasileiro?
É sobre essa sistemática que trata o blogueiro Davis de Sena, me fazendo lembrar de um fato da história do Japão. Os japoneses não cometiam haraquiri por depressão ou potencial genético ao suicídio. A prática do haraquiri ou seppuku era a base do Bushido, o código de honra dos samurais. Surgiu como providência do guerreiro caído em mãos do inimigo. Ao provocar a própria morte o samurai comprovava sua honra, demonstrando que não lhe foi tirado informações pela tortura.
Tendo a honra como orientação mestra de conduta, o haraquiri acabou sendo adotado inclusive pelos senhores dos samurais, os daimyos. A mais poderosa dinastia entre os daimyos se extinguiu quando Hôjô Ujimasa cometeu seppuku para comprovar a própria honra ao inimigo.
Claro que não se trata de querer que Barbosa se suicide para recuperar a imagem de paladino da justiça que a Mídia lhe construiu, mas despencou do palanque do Aécio Neves; do camarote de estádio de futebol do Luciano Huck, chefe de seu filho da TV Globo; do luxo da reforma do banheiro de seu tribunal; ou do alto de seus empreendimentos imobiliários em Miami. Mas se esse é o homem apontado como o exemplo de retidão e coragem, que ao menos seja reto e corajoso para julgar crimes que todo o sistema judiciário brasileiro mantém indefinidamente impunes.
O que aqui se considera não é o comportamento mais que repreensível do Joaquim Barbosa, mas onde, no nosso sistema judiciário o brasileiro comum pode encontrar algum exemplo que não seja o de um pulha? Quais de nossos magistrados, desembargadores ou procuradores não são meros empulhadores e alcoviteiros de escroques, falsários, chantagistas, contraventores, assassinos, estupradores e o que de mais vil há entre o pior da escória da sociedade brasileira?
Marco Aurélio de Melo anula recorrentes condenações a Vitalmiro Moura, o Bida, e Regivaldo Galvão, o Taradão, assassinos da freira Dorothy Stang. E pela TV vemos que é o mesmo Marco Aurélio quem alerta ao Presidente do Supremo para manter compostura no trato aos seus pares!
Supremo do quê? Conheço botecos de melhor frequência!
Que exemplo é esse? Que conduta se espera do nosso povo? Da nossa juventude?
O que se deseja para o futuro de nossos filhos? Com que tipo de vizinhança você quer que se relacionem? Alguém como esse que demonstrou conhecer quem são as filhas do Eduardo Guimarães? É com gente desse porte que você quer que suas filhas convivam?
Prometi que não o faria e não vou incomodar o entusiasmo de ninguém que queira comemorar a prisão de José Dirceu e do José Genoíno, ou do Delúbio Soares. Que durmam sossegados! Mas mantenham um olho aberto quando as esposas falarem em consultar qualquer médico, pois a cobertura do Gilmar Mendes à fuga e impunidade de Roger Abdelmassih deve ter incentivado potenciais Abdelmassih de hoje ou do futuro próximo.
E se o seu filho for parar numa delegacia por ter respondido mal a um policial, seja rápido! Lembre-se que o Coronel Brilhante Ulstra continua nas ruas e isso sempre é um incentivo a alguém que ingresse na polícia apenas para dar vazão a um latente sadismo.
Ainda que se sinta tranquilizado pelas prisões do feriado da Proclamação da República, lembre-se que a Juztissa brasileira continuará atuando contra a república como faz o Procurador do Ministério Público de São Paulo ao engavetar os pedidos de investigações pela Justiça da Alemanha ou da Suíça. Ou melhor... Descanse porque aí não é caso para se preocupar. Tanto que a Mídia não escandaliza quando você é lesado pelo Serra ou o Alckmin. Mas mesmo sem nada provado, fique no conforto e aconchego de sua consciência com a Juztissa feita ao Delúbio Soares, o Genuíno e o Dirceu
Mesmo assim permita-me lembrá-lo de que se na rua molestam sua filha e no mercado desrespeitam os direitos de sua esposa, ou se um sujeito esmurra sua cara porque você buzinou para alertá-lo da mudança de sinal ou no bullying da escola espancam seu filho; não é apenas porque tudo isso virou moda. Como você sabe isso tudo virou moda por diversos motivos, mas talvez não tenha percebido que essa moda também é promovida pelo o que o editor do Blog Palavra Livre, Davis Ribeiro de Sena Filho expõem emBreve diálogo sobre o STF, a politica e a violação do Direito no Brasil.
Compreensivelmente Davis se esqueceu de citar vários outros exemplos, pois realmente é impossível lembrar todos num país onde a sistemática das mais altas entidades e instituições judiciárias é garantir a impunidade de determinadas facções criminosas e apenas condenar as menos rentáveis ou criminalizar atividades de determinadas classes sociais. Mas, ainda assim, suficientemente Davis relaciona casos emblemáticos com os de Eduardo Azeredo, Pimenta Neves, Luiz Estevão, Nicolau dos Santos Neto, Brilhante Ulstra, Salvatore Cacciola, Naji Nahas, Antério e Norberto Mânica, Roberto Arruda, Demóstenes Torres, Daniel Dantas, Joaquim Roriz, Carlos Cachoeira, Fernando Henrique Cardoso, Abdelmassih, José Serra, Bida, Geraldo Alckmin, Regivaldo Taradão, Gilberto Kassab e por aí siga elencando os de sua memória.
Mas nem por isso se assuste e mantenha a serenidade conquistada com a prisão do Dirceu, do Genoíno e do Delúbio, pois embora lembrando que apenas aventada e nunca provada ou consubstanciada, o Davis de Sena também incluiu a aludida importância do que se acredita como o maior esquema de corrupção da historia do país, entre uma relação de importâncias comprovadamente aferidas por investigações com as quais a Mídia não lhe tira o sono.
Também por compressível impossibilidade humana de lembrança de tantos eventos, afinal só no governo Lula foram mais de mil investigações da Polícia Federal, Davis deixou de lado alguns casos que, de qualquer forma, não arrepiaram sua indignação à flor da pele. Entre os esquecimentos do Davis, aleatoriamente relembro apenas dos já referidos Mensalão Tucano do Eduardo Azeredo e o Trensalão da Simens/Alstom/PSDB investigado na Alemanha e na Suíça.
Calma neném! Feche os olhinhos que a Cuca não vai pegar, pois a Juztissa e a Mídia que velam pelos seus sonhos já prenderam os bichos-papões. Apenas fique aí com a listinha de alguns pesadelos do chato do tio Davis, mas tenham bom sono:
1)   Privataria Tucana – R$ 100,155 bilhões;
2)   Banestado – R$ 42,155 bilhões;
3)   Vampiros – R$ 2,450 bilhões;
4)   TRT – R$ 1,850 bilhão;
5)   Anões do Orçamento – R$ 855 milhões;
6)   Sonegação da Globo – R$ 615 milhões;
7)   Operação Navalha – R$ 610 milhões;
8)   Máfia Fiscal Serra/Kassab – R$ 500 milhões;
9)   Propinoduto Tucano – R$ 425 milhões;
10) Sudam – R$ 214 milhões;
11) Sanguessugas – R$ 140 milhões;

12) Mensalão – R$ 55 milhões.

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