sexta-feira, 2 de agosto de 2013

A PSICÓLOGA QUE CASTROU A CLASSE MÉDICA BRASILEIRA


Raul Longo

Em algum autor freudiano, ou no próprio, há muito tempo li que a prepotência é sintoma típico de complexo de castração. Incautos imaginam que o complexo de castração seja problema exclusivo das meninas quando se dão conta de serem despossuídas daquele pedúnculo balouçante do papai. Ledo engano, pois o próprio Freud explicava em A Dissolução do complexo de Édipoque “a menina aceita a castração como fato consumado, enquanto que o menino teme sua ocorrência”.
Ou seja, a garota logo descobre que não depende do apêndice para se divertir, mas o gurizão vai passar o resto da vida traumatizado: “se um dia eu perco esse troço, acaba minha diversão”.
Uma preocupação que ao longo da existência muitos tentam disfarçar se fazendo de superiores, melhores que seus semelhantes, acima! Acreditam que a empáfia possa lhes conferir imagem de maior dotação e acabam inoculando inclusive suas colegas de trabalho que, naturalmente desprovidas, utilizam seus narizes como símbolos fálicos, alçando-os como se todos os problemas dos demais seres humanos se acumulassem no segmento final do trato digestório.
Em verdade isso não é uma especificidade da categoria, pois no Brasil esse trauma psicológico aventado por Freud, o complexo de castração, chega a ser epidêmico e tem como principal foco de infecção os ambientes acadêmicos.
Mas é entre brasileiros profissionais de medicina que a sintomatologia deste distúrbio psicológico vem se expondo como fratura occipital exposta. E ainda há poucos dias, numa manifestação da categoria contra o programa “Mais Médicos” do governo federal, verifiquei quanto o trauma provocado pelo complexo de castração interfere na postura de toda a coluna vertebral dificultando, inclusive, sua articulação; posto que de tão empertigados os manifestantes sequer provocavam dobras em seus alvos e vincados aventais a refletir a luz solar.
De tão impecáveis me deram uma primeira impressão de absurdo desfile de modas, onde todos os manequins trajassem o mesmo modelo e na mesma cor. Só pude distinguir o que realmente se tratava ao perceber o destaque metálico dos estetoscópios pendurados ao pescoço de cada um daqueles manifestantes.
Como nunca vi uma manifestação de operários com capacetes de segurança e ferramentas de trabalho, tampouco de professores com giz e lousas ou bancários com caixas registradoras, os estetoscópios também me pareceram símbolos fálicos. E conclui pelo complexo de castração.
Leigo que sou, pensei em expor essa minha conclusão à minha amiga psicóloga Guida Losso. Coincidentemente, antes que o fizesse, Guidinha (como a chamo por puro carinho, ainda que em estatura física realmente não corresponda ao tamanho da sua personalidade) me enviou algumas considerações que escreveu sobre situação advinda do ano de 2002, baseada em notícia da época.
A atualidade da notícia e das considerações se caracteriza pela reincidência dos sintomas do complexo de castração que, mesmo aos menos versados na “ciência que trata dos estados e processos mentais, do comportamento do ser humano e de suas interações com um ambiente físico e social” (na definição de Antonio Houaiss) denotam edipiana implicância com outros que exerçam funções a que não estão dispostos, disponíveis ou disponibilizados por fatores de maturidade quanto aos padrões éticos que ao senso comum deveria reger a profissão.

Quem sou eu, que de psicologia só tenho algumas leituras esparsas por mera curiosidade, para tecer considerações sobre os métodos terapêuticos de minha amiga, mas tenho a impressão de que sejam muito radicais, pois pelo que se pode depreender da leitura do texto abaixo reproduzido, Guida deitou a classe médica no divã e, para extrair-lhes o complexo de castração, castrou-os de vez.
Quando muito posso cogitar que, sendo mulher, tenha preferido optar pela perspectiva freudiana para que a classe médica resolva seus traumas aceitando a castração como fato consumado.
Para uma avaliação prévia sobre a necessidade ou exagero do método empregado pela amiga, primeiramente disponibilizo o link para reportagem que de certa forma exemplifica outros desvios da classe profissional. Ainda que sem referência direta aos pontos tratados por Guida Losso, a observação dessa reportagem exemplifica o processo psicológico onde um distúrbio comportamental sempre desencadeia outro, e mais outro, e mais outro.


ATO MÉDICO - minhas considerações:
“Em mais um dia de protestos contra o Projeto de Lei do Senado (PLS) 268/2002, conhecido como Ato Médico, profissionais da saúde e estudantes... pedem o veto do inciso 1º do art. 4º do PL, que estabelece o diagnóstico de doenças e a prescrição terapêutica como atividades privativas dos médicos, alegando que o dispositivo da forma que está diminui a autonomia das demais profissões da saúde.”
Por minha formação universitária, Psicóloga formada pela Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC - 1987, que após dois anos de formada foi convidada pela OMS –Organização Mundial de Saúde, a apresentar em Cameroon- África, trabalho intitulado: Acompanhamento Voluntário de Pessoas com SIDA/AIDS desenvolvido junto aos Hospitais do Rio de Janeiro (Fundão, Gafreé Guinle e outros); teço as seguintes considerações sobre os critérios pouco criteriosos elencados pelo PLS(268)/2002:
 
• Passados 26 anos de formação, desafio aos doutores a questionar minha conduta terapêutica, pois tendo aprendido “por amor” (motivo básico e gerador do esforço voluntário) através de trabalhos desenvolvidos junto ao GAPA/RJ (Grupo de Apoio à Prevenção à AIDS/SIDA) e lidando com a massa desfavorecida e ambulante das ruas, me tornei um profissional capaz de diagnosticar, SIM!Obviamente que dentro da minha habilitação profissional.
Nesse campo (área do comportamento) sei o que posso e não posso. Sou Psicóloga, portanto apta a mensurar o comportamento humano e se necessário, emitir atestado médico, SIM!
• Acrescento que utilizo ferramentas diagnósticas a exemplo dos testes psicológicos, mas somado a eles existe uma formação consistente, com disciplinas exaustivamente praticadas tanto na formação como nos estágios exigidos para conclusão do curso de Psicologia. Portanto, não há lógica para a tutela pretendida pelo inciso.
• O que faz crer à classe médica sobre o que venha ser condições para diagnóstico de doenças e a prescrição terapêutica de ser exclusiva aos “doutores”?
Vamos ao conceito (histórico) dessa palavra proveniente do Latim doctus - , “instruído, o que aprendeu”, de docere – “mostrar, ensinar”. Dedoctor - aquele que ensina.
• O grau acadêmico de doutor é o mais elevado dos sistemas de ensino e comprova a capacidade do seu titular para desenvolver investigação num determinado campo da ciência, atribuído por uma universidade ou outro estabelecimento de ensino superior autorizado, em regra após a defesa de uma tese, ato que pode ser antecedido pela frequência de um curso de Doutorado ou Doutoramento. O que não ocorre ou não ocorreu com a maioria dos que exercem a profissão de médicos, embora o título lhes seja indevidamente outorgado, quando não exigido. 
O que presencio é a própria classe médica se atropelando de forma bárbara sobre seus próprios colegas de profissão, e sobre a competência por mérito de tantos outros profissionais da área da Saúde, não respeitando a especialidade de cada um. É prática comum um clínico geral avançar o sinal, atropelar e depois fugir descaradamente, ou seja invadir a prescrição médica feita por seu colega psiquiatra e seu colega psicólogo convencendo ao paciente em comum de que não “necessita de atendimento psicoterápico, mas sim de Zoloft” ou qualquer outro medicamento de sua maior simpatia, independente de suas reações adversas ou colaterais.
Quem desrespeita quem? Se determinados profissionais médicos se graduam, fazem sua residência e “c’est –fini”, sem continuar se especializando, apenas engrossam a extensa fila de “doutores” por mera convenção e não por competência de fato.
Da mesma forma tem sido caso muito sério a banalidade com que muitos organismos públicos: municipais, estaduais e federais e inclusive as Forças Armadas; recebem atestados clínicos emitidos por psicólogos e depois sutilmente os substituem por atestados médicos para que o documento seja “considerado” legal. Por que no Brasil o atestado do profissional em psicologia seria ilegal se dele se exige o cumprimento de estudos regulamentares e comprovações de conhecimento similares as exigidas em quaisquer dos outros países? Em português esta ciência não tem os mesmos valores do que em outros idiomas?
Voltando a minha atuação especificamente, para que se possa avaliar o que realmente seja competência seria necessário que estes mesmos médicos que invadem territórios de conhecimentos aos quais não são especializados, apenas para garantir mais uma consulta, se compenetrassem de que as realidades individuais de seus pacientes são bem diferentes daquelas diagnosticadas como disfunções de determinados órgãos. Órgãos que podem ser fisicamente afetados, mas além de organicamente fragilizados, muitos desses pacientes carecem de especialistas com capacidade para auscultar as reais e silenciosas origens de distúrbios físicos, muitas vezes provindos de disfunções emocionais ou existenciais às quais os conhecimentos médicos não têm acesso por ausência de prática e experiência.
Psicólogos não estão aptos a tratar disfunções orgânicas, assim como médicos não estão aptos a tratar disfunções emotivas e existenciais que não podem ser resolvidas com comprimidos estimulantes ou sedativos prescritos por “doutores” que sequer demonstram competência para evitar invasões antiéticas a seus pacientes e colegas.
O próprio SUS – Sistema Unificado de Saúde, ao implantar programas de atendimento/acompanhamento interprofissional, demonstra entender que essa “mania” de controle sobre as demais profissões revela acima de tudo a insegurança produzida pela incapacidade de profissionais médicos em retomar, recuperar, seu “campo de atuação”. Se mais se especializassem no que se propuseram em suas opções ao longo do período de estudos acadêmicos, até no sentido próprio e real de doutoramento, então, sim, poderíamos reconhecer um verdadeiro “olhar especializado”.
Tenho formação em Psicologia e para desenvolver meus conhecimentos estagiei em Psicologia Escolar/Educacional na Escola de Aplicação da UFSC, anexa ao Campus Universitário, em Psicologia Clínica junto ao SAPSI, e em Psicologia Organizacional no Asilo Irmão Joaquim, Fpolis/SC.
Realmente concluí minha formação universitária de forma condizente com minhas propostas profissionais, me estendendo por áreas correlatas como a NEUROANATOMIA. E muito me assusta em meu cotidiano o testemunho de tanto corporativismo, tanto protecionismo, tantos enganos e erros médicos acobertados, enquanto Psicólogos que denunciam ou revelam demandas de violência e, sobretudo, falta de ética, são severamente fiscalizados mesmo quando mantém o sigilo e éticas pertinentes à suas funções.
O Psicólogo que cotidianamente atua em clínicas, escolas, ou universidades, sabe muito bem o solitário caminho que é se tornar um excelente “salvador de vidas”, e creio que o CFP – Conselho Federal de Psicologia, deva juntamente com demais Conselhos firmarem posição, haja visto o tempo que transcorre, desde 2002, sem que concretamente, nós, Psicólogos tenhamos assegurado o mínimo de respeito a nossa atuação profissional.
GUIDA MARIA LOSSO
CRP 12/00648

Florianópolis, julho de 2013.

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