"Minha filha,
...o
sistema político do Brasil funda-se na opinião nacional, que, muitas vezes,
não é manifestada
pela opinião que se apregoa como pública."
Dom Pedro II Imperador do Brasil
em carta de 03 de maio de 1871 à Princesa Isabel [1]
"Mario Sergio Conti relata: “Em Veja, o método foi refinado... Gaspari inventava um raciocínio para avivar uma matéria e mandava um repórter achar alguém famoso que quisesse assumir a autoria. A frase “O povo gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual” nasceu assim, proposta a Joãozinho Trinta. O truque... Tinha algo de molecagem, mas ficava nos limites das normas, na medida em que ninguém era forçado a encampar uma declaração...”
Em junho deste ano, enquanto aguardava por um lugar à mesa de
um restaurante classe média em Porto Alegre, ouvi a conversa de duas
senhoras na qual, uma delas, comentava sobre (sic) “o perigo que é essa novela da Globo botando minhoca na cabeça
das empregadas...” [i.e a possibilidade das
empregas domésticas imaginarem que possam seguir a carreira artística]. Foi. cit. In: Porto Alegre, Brasil,
segunda década do século XXI. Pois é: Brasil. O mesmo país onde em 2002, em
outro restaurante, na cidade do Rio de Janeiro, no auge da campanha para a
Presidência da República, descontente com a possibilidade de elegerem como
presidente o candidato do Partido dos Trabalhadores, uma jovem manifestou a
intensidade de suas convicções políticas arrancando a dentadas -no recinto- o
dedo de uma, assim percebida, adversária. E, no decorrer destes dias de julgamento
no STF do chamado “mensalão”, expressos por pessoas pertencentes a níveis
sociais de renda elevada a revelar contrariedade com o fim das práticas que
consagraram Torquemada e Savanarola, é possível deparar-se nas redes sociais
com comentários do tipo:(sic) “a
sociedade deveria invadir o STF e linchar esses safados. A China é que está
certa: corrupto é fuzilado e a familia ainda tem de pagar a bala” ou [referindo-se
a um ministro da Suprema Corte] (sic) “Este
vagabundo tá absolvendo todo mundo, uma esculhambação,
virou piegas este Supremo” ...
"Mario Sergio Conti relata: “Em Veja, o método foi refinado... Gaspari inventava um raciocínio para avivar uma matéria e mandava um repórter achar alguém famoso que quisesse assumir a autoria. A frase “O povo gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual” nasceu assim, proposta a Joãozinho Trinta. O truque... Tinha algo de molecagem, mas ficava nos limites das normas, na medida em que ninguém era forçado a encampar uma declaração...”
Então ficamos assim: inventar declarações e atribuí-las a
terceiros faz parte das normas jornalísticas, desde que favoráveis a essas
fontes.
E a fraude só causa revolta quando contraria os
envolvidos."
Sylvia Debossan Moretzsohn em
Informação seletiva e intolerância fundamentalista são,
respectivamente, as sugestões implícitas nas verbalizações arquetípicas
exemplificadas através das ‘falas’ acima,
das quais o incidente no restaurante do Rio de Janeiro é o paroxismo. Avanti!
Pois bem, para além da ignorância, do obscurantismo, da
delinquência e da desordem mental inerentes ao arquétipo fascista, lamenta-se,
aqui, a persistência entre nós, brasileiros, da mentalidade responsável pelo
suicídio de Vargas; pela deposição de Joâo Goulart; e pela tentativa(s?)
midiática de impeachment de Lula
-sintomaticamente os únicos presidentes brasileiros, até então, verdadeira e
profundamente comprometidos com o bem-estar e desenvolvimento da classe
trabalhadora.
Refiro-me a uma mentalidade lacerdista, quero dizer sempre pronta a enviesar os fatos no sentido de suas conveniências golpistas (since 1950). Habilíssima no exercício da hipocrisia que lhe é peculiar: desqualificar as massas populares ou seus representantes, acusando-lhes pelo cisco, incapazes porém de retirar do próprio olho as traves da incompetência, da ignorância, do despreparo, enfim, de todas as resultantes de séculos (cinco ao todo) do mais restrito desfrute de um butim... inebriante.
Considerando que jamais -em tempo algum de suas vidas- qualquer um dos três mandatários acima citados se pronunciou a favor da extinção de privilégios que, ao contrário, desejavam universais, pergunta-se (a modo coloquial): qual o problema? Qual o motivo desta tendência de setores via-de-regra dominantes e influentes da sociedade brasileira manifestarem-se de modo reacionário em face a quaisquer tentativas de alterar um quadro social flagrantemente vergonhoso? Quem tem a perder (ou temer) com a diminuição da miséria e da ignorância (esta em todos os níveis sociais) da sociedade brasileira?
Eis algumas das incógnitas de uma equação ainda não solucionada, embora formulada já ao tempo do avô da Princesa mencionada na epígrafe, quando então parte da oposição temia a possibilidade de instituir-se no Brasil “uma aristocracia hereditária, ajustada ao senado vitalício, em breve também hereditário.... bloqueando a circulação de baixo para cima do poder.”[2]
Refiro-me a uma mentalidade lacerdista, quero dizer sempre pronta a enviesar os fatos no sentido de suas conveniências golpistas (since 1950). Habilíssima no exercício da hipocrisia que lhe é peculiar: desqualificar as massas populares ou seus representantes, acusando-lhes pelo cisco, incapazes porém de retirar do próprio olho as traves da incompetência, da ignorância, do despreparo, enfim, de todas as resultantes de séculos (cinco ao todo) do mais restrito desfrute de um butim... inebriante.
Considerando que jamais -em tempo algum de suas vidas- qualquer um dos três mandatários acima citados se pronunciou a favor da extinção de privilégios que, ao contrário, desejavam universais, pergunta-se (a modo coloquial): qual o problema? Qual o motivo desta tendência de setores via-de-regra dominantes e influentes da sociedade brasileira manifestarem-se de modo reacionário em face a quaisquer tentativas de alterar um quadro social flagrantemente vergonhoso? Quem tem a perder (ou temer) com a diminuição da miséria e da ignorância (esta em todos os níveis sociais) da sociedade brasileira?
Eis algumas das incógnitas de uma equação ainda não solucionada, embora formulada já ao tempo do avô da Princesa mencionada na epígrafe, quando então parte da oposição temia a possibilidade de instituir-se no Brasil “uma aristocracia hereditária, ajustada ao senado vitalício, em breve também hereditário.... bloqueando a circulação de baixo para cima do poder.”[2]
______________________________________________
[1] In Faoro, Raymundo Os Donos do Poder vol. 1 p. 388
col. Grandes Nomes do Pensamento Brasileiro ed. Publifolha São Paulo SP 2000
Carvalho,José Murilo de Dom Pedro II pg 88
col. perfis brasileiros ed. Companhia das Letras São Paulo 2007col. Grandes Nomes do Pensamento Brasileiro ed. Publifolha São Paulo SP 2000
Carvalho,José Murilo de Dom Pedro II pg 88
[2] In Faoro, Raymundo op. cit p. 325
http://passalidadesatuais.blogspot.com.br/2012/08/notas-para-posteridade-de-um-pais.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário