Novembro 22nd, 2011
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Ok, vamos discutir Belo Monte?
Mas que tal fazermos isso com base em dados reais? Sim, porque qualquer
discussão baseada em suposições, falseamento, mentiras, não vai levar a
lugar algum. Só vai desvirtuar o debate e promover mais ignorância.
Então, a partir dos dados fidedignos, podemos nos posicionar contra ou a
favor e, melhor, podemos exigir que se cumpra o combinado. Foram
décadas de discussão sobre o projeto, que foi alterado para atender
muitas das demandas, como não-alagamento de terras indígenas, diminuição
dos impactos na região, melhoria das condições de vida das populações
das cidades do entorno.
Não podemos cair na 'esparrela' das Reginas Duartes
da vida, que aparecem aqui e ali pontuando com a cara constrita que
estão "com medo". Ainda mais quando a causa do medo é informação
deturpada. O pior é ver ambientalista tarimbado alimentando essa
falcatrua, comemorando por exemplo o sucesso de um vídeo de artistas
que em vez de jogar luz sobre o assunto, prefere fazer terrorismo
barato, com base em informações defasadas, falsas até - chegaram a
afirmar que o Parque Nacional do Xingu,
que fica mais de 1.300 km ao sul do local da usina, poderá ser
inundado!! Pô, aí não, vai... muita apelação! (não acredita? Veja aqui a distância de um para o outro)
Como bem disse o Gilberto Camara, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), recentemente em seu blog,
os ambientalistas estão perdendo a oportunidade histórica de conseguir
avançar, exigindo que o governo e a iniciativa privada promovam a
sustentabilidade em seus projetos. Em vez disso, estão apelando para o
obscurantismo, a desinformação, o marketing raso, e com isso perdem
credibilidade. Uma pena. Quando sentam para discutir e negociar
honestamente, conseguem boas vitórias - como a moratória da soja,
que envolveu sojeiros da Amazônia, Greenpeace e até o McDonald's. É
assim que funciona numa democracia moderna: os diferentes sentam à mesa,
colocam seus argumentos, 'senões' e 'poréns' e tentam chegar a um
denominador comum. Isso foi feito com Belo Monte, tanto que o projeto
mudou da água pro vinho nesse meio tempo e hoje tem tudo para ser
exemplo para outras obras do tipo que virão - e virão, não tem pra onde
correr - para a Amazônia.
Mas enfim, vamos aos fatos sobre Belo Monte, que estão longe do bicho-papão pintado por aí:
* O lago de Belo Monte terá 503 km2, dos quais 228 km2 já são o leito
do próprio rio Xingu. E boa parte da área restante já está desmatada
por criadores de gado, agricultores e madeireiras ilegais. O
desmatamento efetivo por conta da usina, portanto, é muito pequeno se
comparado com o tamanho do empreendimento, a energia que fornecerá e os
benefícios que trará à região. E o lago, uma vez criado, servirá para
proteger o entorno de cerca de 28 mil hectares (280 km2), já que vira
uma Área de Preservação Permanente (APP).
* É normal que empreendimentos hidrelétricos, e quase todas as fontes
de geração de energia, tenham uma capacidade de geração e um fator de
potência - ou seja quanto dessa capacidade será possível gerar em média
em um ano. No caso de Belo Monte, que tem capacidade instalada de 11.233
MW, a geração média é de 4.571 MW, ou 41%. Esse número é o suficiente
para abastecer 40% do consumo residencial de todo o Brasil. Ao longo de
sua elaboração, o projeto Belo Monte foi modificado para restringir os
impactos que poderia causar ao meio ambiente e à população da região,
reduzindo-se a área de inundação prevista em 60% em relação ao projeto
inicial. Isso diminuiu a geração média de energia, mas foi importante
para a diminuição do seu impacto.
É pouco? Nem tanto. Dá uma olhada nos dados que este blog
compilou sobre a média em outros países (na China é 36% e nos EUA, 46%)
e mesmo no Brasil, em outras usinas já em operação, como Itaipu,
Tucuruí.
* A média nacional de área alagada é de 0,49 km2 por MW instalado, em
Belo Monte essa relação é de apenas 0,04 km2 por MW instalado.
* 70% da energia a ser produzida por Belo Monte destinam-se ao Sistema Interligado Nacional (SIN)
e apresenta o segundo menor valor por MW / hora entre todos os
empreendimentos elétricos dos últimos 10 anos (R$ 78 por MW/h). Aquele
papo de que a energia de Belo Monte beneficiará apenas esta ou aquela
empresa, é balela, lenda. A energia gerada pela usina será conectada ao
SIN e, com isto, gera energia para todo o país. O mesmo acontece com
TODAS as demais usinas construídas por aqui.
* Há duas maneiras de se construir uma usina hidrelétrica: basear-se
exclusivamente no critério de eficiência, em que tería que dispor de um
lago enorme, como era o projeto original de Belo Monte de 1980, alagando
amplas regiões, ou um sistema energeticamente menos eficiente - o de
geração de energia em cima da corretenza do rio, denominado fio d'água -
justamente para privilegiar questões ambientais. Belo Monte é desse
segundo tipo, não sendo tão eficiente como a média das hidrelétricas
brasileiras (na faixa de 50%) justamente em respeito a questões sociais e
ambientais.
* Nenhum índio terá que sair de suas terras por causa do projeto e os
ribeirinhos que serão realocados vivem, em sua maioria (quase 7 mil
famílias), em palafitas nos igarapés de Altamira, em condições
sub-humanas. O governo pretende realocar essas famílias para condomínios
habitacionais que ficam em torno de 2 quilômetros de distância de onde
estão hoje. São cerca de 18 mil pessoas. A promessa do governo é que
essas pessoas receberão casas em locais totalmente urbanizados, com
saneamento básico, postos de saúde, escolas e locais de lazer, tudo
antes do final de 2014. É anotar e cobrar.
* Substituir a energia de Belo Monte por eólicas e energia solar
parece fácil, mas é praticamente impossível. Precisamos de 5 mil MW por
ano de energia adicionada ao sistema para garantir o mínimo necessário
para que o país continue se desenvolvendo e gerando emprego e renda, e
garantindo a inclusão de milhões de brasileiros que hoje estão à margem
de todo e qualquer consumo. Isso não é possível, no curto/médio prazo,
com eólica e solar. O Brasil até tem investido bastante nessas duas
formas de geração de energia, somos o país que mais tem atraído empresas
do setor para cá, mas é coisa para médio-longo prazo. Enquanto isso,
fazemos a transição - mas com energia de baixo impacto e limpa, como a
hidrelétrica. Nenhum outro país do mundo consegue isso - EUA, China,
Europa, Ìndia, todos estão fazendo investimentos em energia renovável
(eólica, solar, etc) com base numa economia sustentada por energia suja -
nuclear, térmicas a carvão ou óleo diesel.
Para se ter uma ideia, para ter o mesmo potencial energético de Belo Monte, seria necessário instalar mais de 6 mil aerogeradores, de 3MW cada, ocupando uma área de 470 km2 - ou quase o tamanho do lago de Belo Monte (503 km2).
Bom, tem muito mais coisa para se pontuar, mas já tem um bocado aí
pra refletirmos, né mesmo? As coisas nem sempre são tão simples como
querem fazer crer uns e outros, nem o diabo é tão feio.
Tem mais informação boa circulando por aí, seguem algumas dicas -
quem quiser indicar outros bons textos, coloca na área de comentários
que acrescento à lista abaixo:
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