Raul Longo
O
saudoso Sérgio Porto ou Stanislaw Ponte Preta como era mais conhecido
pelos inúmeros leitores que riam à “bandeira despregada” -- para usar
uma expressão da época em que a truculência dos milicanalhas se mesclava
a hilárias manifestações de burrice -- registrou no “Febeapá – Festival
de Besteiras que Assola o País” uma forma muito peculiar dos
brasileiros reagirem às próprias desgraças: com humor.
Comprova-se
pela circulação do jornal de maior tiragem naqueles anos de chumbo
quente: O Pasquim. E ao contrário do que afirma o editor da Folha de São
Paulo a ditadura não era branda com ninguém: fez prender todos os
articulistas do semanário. Para isso contribuiu também a influência do
associado ao crime de sequestro nacional: Roberto Marinho.
Então
construíam o emissário submarino de Ipanema e a resposta do pessoal do O
Pasquim foi uma manchete de contra-capa ilustrada pela foto das obras:
ROBERTO MARINHO SERÁ LANÇADO À 3 KMS. DA PRAIA. Na foto, um banhista ao
lado da obra observa o próprio pé e por balãozinho lamenta: “- Xiiii!
Pisei num Roberto Marinho!”
A
ditadura acabou, aparentemente a democracia do país foi saneada e até
alguns daqueles que naqueles anos ou em posteriores colaboraram com O
Pasquim, passaram a prestar serviços para as organizações do Marinho.
Mas não é de hoje que o esgoto refluiu e transborda não apenas em
Ipanema, mas por todo o país.
A
merda, em todos os veículos de comunicação e na cabeça de alguns que
até foram brilhantes nas décadas em que usavam da inteligência que então
possuíam contra o regime ditatorial, é a vingança que herdamos do
Roberto Marinho por aquela manifestação de humor do O Pasquim.
Não
sou de acreditar que isso de rogo de praga, funcione. Ainda mais de
morto como o Marinho (que Exu o tenha bem guardado!), mas no caso da
merda que fede impregnando narizes e mentes do país, é fácil de detectar
o ponto do refluxo do esgoto vazando e escorrendo a céu aberto pela
internet, páginas de revistas e jornal, ondas de transmissão de emissora
de rádio ou imagem de TV.
Foi
por acaso que descobri que todo esse coliforme fecal a se espalhar por
cada domicílio brasileiro vem do refluxo que o emissário de Ipanema
canaliza para o reservatório Marinho no Jardim Botânico instalado na
capital do Rio de Janeiro, num final de tarde em que ao entrar num
boteco daqui do Sambaqui, Florianópolis, sou atingido por um troço
emitido pelo dono do bar me dando a notícia da tragédia do mal fadado
pouso de uma aeronave da TAM, ocorrida 5 minutos antes no aeroporto de
Congonhas em São Paulo, como responsabilidade pessoal do então
Presidente Lula.
Atônito,
não conseguia imaginar quem haveria enfiado aquela pedaço de merda na
boca do meu amigo e respeitado dono de tradicional botequim desse
bairro, quando o pobre, de olhos injetados de tão sufocado pela
excrecência enfiada goela abaixo, me aponta o aparelho de TV.
Pura
escatologia à qual, quando questionado, o editor de jornalismo da Globo
tentou explicar como “jornalismo de hipóteses”. Melhor se houvesse
recorrido ao tradicional “perfume de feira”, pois o aromatizante que
inventou não disfarçou em nada. Pelo contrário, realçou a fedentina que
senti, já no primeiro momento, entalada lá na garganta do inocente e
ingênuo dono de botequim .
Mas
o reservatório Marinho não empesteou apenas os bons ares bairro do
Jardim Botânico, como exalou por diversas outras centrais da mesma rede e
em São Paulo se instalou uma cloaca tão grande quanto, ou quase, se não
maior. E naquela maior capital do país a merda se alastrou de tal forma
que se tornu impossível detectar onde o vazamento do esgoto é mais
intenso ou de maior fluxo. Apesar do sumidouro da editora Abril
transbordar profusamente a cada semana pela Revista Veja, verdadeiros
gêiseres de fezes podem explodir a qualquer momento por capas de jornais
diários como o O Estado de São Paulo ou a Folha de São Paulo, como se
viu ocorrer no caso da falsificação de ficha policial da Presidenta
Dilma Rousseff.
Enquanto
isso, tentam a todo custo fechar as válvulas dos encanamentos que
dariam vazão às grandes cagadas de seus aliados. Mas é o mesmo que
apertar um pedaço de excremento com a mão, pois o que escorre entre os
dedos atinge a olfatos ainda sensíveis e não constipados pelo cheiro da
nauseabunda matéria manipulada pelos empregados limpa-fossas das
oligarquias midiáticas. Foi o caso que ocorreu com Amaury Ribeiro que
detectou e indicou intenso os pontos de intenso vazamento pelo livro “A
Privataria Tucana”, mas aquelas famílias simplesmente viraram o nariz.
Pudera! Apesar de empinados, esses narizes estão atolados na latrina.
Através
do PAC o governo federal vem fazendo alarde da ampliação da rede de
captação de esgoto em todo o país, mas a verdade é que a merda tem
escapado por toda parte revelando a total insalubridade das mentes
brasileiras. Não muitas, é certo, mas o mal cheiro que exalam é
insuportável como o que ocorreu ainda esta semana quando o cagalhão
Adriana Vasconcelos, correspondente do jornal O Globo e coordenadora de
comunicação do PSDB, emasculada por outro bostinha de blogueiro que
imitando o Ali Kamel (o defecante editor da TV Globo) criou a hipótese
da boite Kiss de Santa Maria pertencer a um deputado do PT daquele
estado.
Em
que o merdinha se baseou para publicar o que está lhe custando um
processo perpetrado pelo acusado? Em nada, pois bosta não se baseia,
bosta apenas boia e foi com esta frase que a globalete coordenadora de
comunicação do PSDB: boiou pelo twitter “Está
explicado por que a alta cúpula do PT se deslocou para ficar fazendo
encenações! Sabem por que a boate Kiss funcionava a todo vapor sem
fiscalização? Porque seu proprietário é o deputado do PT-RS, Paulo
Pimenta. Dilma e suas lágrimas de crocodilo não convenceram”
Vejam
o furo no papel higiênico de péssima qualidade pelo qual a Adriana
tentou limpar a merda que fez, quando ameaçada de ter de responder o
mesmo processo: “Não deveria ter retuitado. Esse, às vezes, é um erro que cometemos por impulso nas redes sociais”
De
fato, o impulso da diarreia mental dessa gente é incontrolável e
compulsivamente defecam pela oralidade ou pela escrita. É preciso
cuidado porque essas excreções nós expõe a todos ao vibrião colérico que
se transmite exatamente pelos dejetos fecais seja lá por onde for que
os expilam.
Vejam
aí adiante, na análise comparativa do Paulo Nogueira, que até o Chico
Caruso já foi contaminado. E o Chico ou seu irmão, Paulo, se não ambos,
foi colaborador do Pasquim.
Alguém
já disse que se sentiria saudade do tempos da ditadura e tinha razão,
pois dá mesmo saudade do tempo em que ainda era possível se escrever uma
crônica com a elegância do saudoso Sérgio Porto. Hoje não dá mais! A
merda é tanta que se tornou impossível omiti-la.
Me desculpem! Nunca pretendi por a mão na merda, mas se até o Chico Caruso já desceu ao nível do “humor” excrementício de um Massaranduba do Casseta&Planeta ou Rafinho Bastos do CQC, não me restou outra saída.
Álcool
à 90º e muito desinfetante, por favor! Abram as janelas do país e
esborrifem tudo o que houver de aromatizante: limão, jasmim, citronela,
lavanda. Qualquer coisa é melhor do que essa fedentina!
Caruso X Latuff
PAULO NOGUEIRA 28 DE JANEIRO DE 2013 43
Duas charges sobre Santa Maria mostram como chargistas podem ser brilhantes ou infames perante tragédias.
No blog, Noblat acrescentou a palavra “humor” a essa charge de Caruso
Fazer charge num drama como o de Santa Maria é uma tarefa para poucos.
É fácil fazer bobagem, e é difícil fazer coisa boa.
Na
tragédia de Santa Maria, tivemos as duas situações. O cartunista Carlos
Latuff, que se celebrizou no Brasil há pouco tempo depois de ser
acusado de antissemita, brilhou.
Latuff
ironizou o abominável comportamento da mídia diante de calamidades como
a da casa noturna Kiss. Um repórter tenta extrair palavras de um
familiar da vítima no enterro, numa exploração abjeta da dor alheia.
Clap, clap, clap. De pé.
Latuff
deu voz a milhões de brasileiros que somaram à tristeza pelas centenas
de mortes a indignação pela atitude de jornalistas que não respeitam a
dor alheia e simulam, como canastrões, uma dor que não sentem.
O
lado B veio com Chico Caruso, no Globo. Ele fez uma prisão em chamas,
na qual ardem as pessoas ali dentro e da qual se exala uma fumaça
sinistra. Dilma, sempre Dilma, observa de longe e exclama: “Santa
Maria!”
Era
para rir? Os leitores acharam que não. Mas viria uma segunda etapa.
Numa decisão estapafurdiamente incompreensível, Ricardo Noblat
republicou a charge em seu blogue com o acréscimo da palavra “humor”.
Latuff captou o comportamento abjeto da imprensa
A
reação nas redes sociais foi imediata. Caruso e Noblat foram
simplesmente triturados. No próprio blogue de Noblat, habitualmente
frequentado por arquiconservadores como o próprio blogueiro, os leitores
manifestaram repúdio. Um deles notou que a dupla conseguiu unir
petistas e antipetistas na mesma reprovação torrencial.
Noblat
defendeu Chico Caruso, e sobretudo a si próprio, em linhas
antológicas: quem não gostou da charge, foi o que ele essencialmente
disse depois de uma cômica interpretação do desenho, não a entendeu. Os
leitores são burros, portanto.
Tenho
para mim que parte da raiva se deve ao fato de ambos estarem fortemente
identificados com a Globo. Alguma coisa da rejeição que existe em boa
parte da sociedade à Globo se transmite a seus funcionários.
Mas
a questão vai além. É complicado, ficou claro, fazer charge decente
para as Organizações Globo. A de Latuff jamais seria publicada pelo
Globo. O espesso conservadorismo da empresa acaba por ceifar a
possibilidade de iconoclastia, de inconformismo de cartunistas da Globo.
Se
nas colunas políticas o reacionarismo nos veículos da Globo não chega a
chocar, porque é esperado, na charge aparece como um estigma. De
artistas se espera uma atitude diferente, mais arejada, mais
provocativa.
Caruso,
nos anos 1980, se destacou como um dos melhores chargistas de sua
geração. Prometia mais do que entregou, é certo, mas fez uma carreira
boa.
Agora,
vai passar para a história como o autor da charge mais repudiada e mais
infame da mídia brasileira em muitos anos — em parte por um mau
momento, em parte por carregar no peito o crachá das Organizações Globo.
TAGS » Blog do Noblat, Caruso Santa Maria, dcm, Latuff Santa Maria, Organizações Globo, tragédia de Santa Maria
Paulo
Nogueira é jornalista e está vivendo em Londres. Antes de migrar para o
jornalismo digital e dirigir o site Diário do Centro do Mundo foi
editor assistente da Veja, editor da Veja São Paulo, diretor de redação
da Exame, diretor superintendente da Editora Abril e diretor editorial
da Editora Globo.
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