6/1/2013 14:03
Por Marilza de Melo Foucher - de Paris
Por Marilza de Melo Foucher - de Paris
“O
Grupo Abril e o Grupo Globo se sentem intocáveis e assumem sem complexo
o controle absoluto de quase todos os veículos de comunicação”
A
evolução da imprensa escrita, como vetor de informação para o grande
público, será muito lenta, ela vai surgir num ambiente de censura e de
controle de informação. Esta incrível fabrica de informação terá como
marca registrada a liberação da palavra pública, por esta razão, ela
será sempre associada aos principio democráticos.
A democracia surge para colocar o cidadão no centro do sistema político. Nesse sentido, a imprensa joga um papel fundamental na difusão das correntes de pensamentos e opinião,
contribuindo, assim, para a livre confrontação de idéias. O aumento
geral do nível de conhecimento nas democracias modernas foi vetor da
promoção do pensamento crítico. O pluralismo contribui também para
suscitar interrogações e ceticismo.
O avanço das tecnologias tem acrescentar na diversificação dos meios de comunicação. Tanto a imprensa escrita como a evolução de outros meios de comunicação
representam a grande utopia de que podemos ser livre para pensar e
opinar sobre a realidade. Ao dispor também do pluralismo, os indivíduos
passam a usufruir de uma real liberdade na escolha dos meios de
comunicação.
A consolidação da democracia
brasileira exige pluralidade dos
meios de comunicação
brasileira exige pluralidade dos
meios de comunicação
A centralização da mídia leva à cartelização do conteúdo
No
Brasil ainda estamos longe desta realidade. A história da imprensa se
confunde com a história das oligarquias regionais, que apenas foram se
modernizando. Todavia, pensava-se que com o avanço da democracia
brasileira e a chegada de governantes progressistas, os meios de
comunicação seriam democratizados e regulamentados, no sentido de
garantir sua pluralidade.
Logicamente, para os
que açambarcaram os veículos e o mercado dos meios de comunicação a
tentativa de regulamentação é associada como uma ameaça à liberdade de
expressão. Em nenhuma ocasião, eles vão pensar no interesse público e
coletivo, do qual usufruir do pluralismo é também uma conquista da
democracia. O que é normal num país que viveu mais de duas décadas sob a
ditadura. É normal que até hoje muitos brasileiros lutem pela
democratização dos meios de comunicação.
Como aceitar
que a democracia brasileira se consolide e que continue a conviver com
uma espécie de coronelismo mediático, que usa e abusa do poder de
concentração? Esta é uma questão que poderíamos fazer aos dirigentes e
políticos brasileiros.
Entretanto,
na Constituição Brasileira de 1988, ela define no capitulo § 5 que “os
meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser
objeto de monopólio ou oligopólio”. Todavia, basta consultar os estudos
realizados recentemente sobre este assunto para verificar que a própria
constituição é por vezes usurpada.
A mídia conservadora é muito unida
A concentração dos meios de comunicação os colocam nas mãos de poucos. O Grupo Abril e o Grupo Globo
se sentem intocáveis e assumem sem complexo o controle absoluto de
quase todos os veículos de comunicação. Abril controla 74 veículos,
entre revistas, o canal MTV, internet e a TVA, a cabo, em parceria
estratégica com a Telefônica. O Grupo Globo lidera o Sistema
Central de Mídia Nacional e, desde 1965, mantém seus associados
regionais, são 35 grupos ligados à rede. No total eles controlam 340
veículos de comunicação.
O poder mediático de que a Globo dispõe é enorme, graças às 3.305 redes de transmissão de TV (RTVs). O grupo Globo
mantém parceria em todos os Estados brasileiros o que permite um enorme
controle do conteúdo das informações. Além da televisão, são 33
jornais, 52 rádios (AM) 76 (FM), 27 revistas, 105 emissoras de TV, 17
canais e nove operadoras. Além disso, a Rede Brasil Sul de Comunicação,
é afiliada da Globo, é a terceira maior organização de mídia privada do
país, com 57 veículos, entre jornais, rádios (21 emissoras), TV (18
emissoras) e 259 retransmissoras.(1)
Estes mesmos
grupos compactuaram com a ditadura e aproveitaram do apoio de seus
governos para instalar o império do Quarto Poder. Estes grupos do Quarto
Poder, até hoje, têm dificuldades de aceitar a conquista da cidadania
política brasileira. Muitos dos cidadãos e cidadãs brasileiros
conseguiram entender alguns processos de manipulações da opinião
publica, hoje estão emancipados das estratégias de comunicação posta em
pratica pelos dois grandes grupos e seus aliados.
A
grande mídia brasileira na realidade se diz autônoma, imparcial com
relação os poderes. Muitos jornais fazem uso de uma prática deliberada
de induzir os leitores, ocultar e fragmentar os fatos, de maneira a
desfazer e recriar o mundo à sua maneira, criam os famosos “buzzs” com o objetivo de criar um ruído entre os leitores para deformar a realidade ou oculta-la.
A
prova do avanço da cidadania política no Brasil é que a grande mídia
foi derrotada por três vezes consecutivas, apesar de dispor de um vasto
domínio mediático espalhado em todos os rincões do Brasil. O padrão Globo pensava ser imbatível. Assim como a revista Veja da Rede Abril, seus jornais e afiliados funcionam como verdadeiros aparelhos de propaganda contra os governos legitimamente eleitos.
Além
da concentração do poder midiático, existem certas aberrações não
dignas da República brasileira. Alguns deputados, senadores,
governadores, prefeitos, vereadores detêm participação, ou são
proprietários de meios de comunicação, ferindo os princípios
republicanos. Até hoje, pouco se faz para impedir que estes políticos
sejam enquadrados na Lei por violação constitucional.
Como garantir a pluralidade dentro deste contexto?
Na jovem democracia
brasileira, os jornalistas deveriam estar atentos sobre qualquer forma
de violação de direitos e abusos de poder. Eles deveriam ser os
primeiros a defender a pluralidade. Certamente, estariam dando uma
excelente contribuição na consolidação da democracia no Brasil. Além
disso, teriam um leque maior de opções profissionais e poderiam exigir
melhores salários e melhores condições para exercer, de modo
independente, um verdadeiro jornalismo. Aquele jornalismo imparcial que
provoca o verdadeiro debate, que analisa, contextualiza e coloca a nu
certas contradições, cujo conteúdo leva o leitor a refletir sobre sua
realidade.
Infelizmente, nesses últimos anos, o debate
político no Brasil perdeu o brilho da racionalidade que exige a boa
análise. As cenas de desrespeito republicano passaram a ser marcantes.
As duas últimas campanhas presidenciais disputadas pelo presidente Lula
foram de grande violência verbal, nunca se viu tanto racismo, tanta
discriminação, tanto ódio na boca e nos escritos de certos políticos e
jornalistas. Este tipo de politicagem é perverso para a democracia e
nada acrescenta à educação do povo brasileiro. A grande Nação Brasileira
merece que o jornalismo seja praticado dentro do rigor intelectual
necessário.
O comportamento dos donos dos meios de
comunicação nas últimas décadas de democratização, deixa muito a
desejar. Chega a dar impressão de querer forjar uma democracia de
opinião capaz de influenciar no processo eleitoral. Essa grande mídia
esquece que o exercício do poder supremo é originado da vontade
popular. É interessante observar o modo como ela agiu, durante as
campanhas presidenciais de Lula e de Dilma. A posição do presidente da
Associação Nacional dos jornais (ANJ) foi esclarecedora ao admitir,
publicamente em março de 2010 que, tendo em vista a fragilidade dos
partidos de oposição, a imprensa estava fazendo, de fato, a oposição ao
governo.
A sociedade civil organizada começa, ainda que timidamente, a protestar contra o cartel dos meios de comunicação
Este
papel de oposição era notório. Todavia, a partir desta declaração, a
ANJ oficializou os governos de Lula e Dilma como adversários. Com este
tipo de comportamento, a grande mídia sai fragilizada, pois não é o
papel da imprensa de liderar as massas, exceto se ela quer ser governo e
eliminar os partidos políticos.
Nem tampouco é papel
do governo entrar no jogo da provocação, afinal, ele deve garantir a
livre expressão de todos. O interesse público, no entanto, assim como as
boas regras do comportamento republicano, deve predominar dos dois
lados. O governo não deve ceder à pressão dos donos da mídia e,
urgentemente, organizar o funcionamento do espaço nacional de
Comunicação Social para obter um melhor equilíbrio, a fim de garantir a
pluralidade que determina a Constituição brasileira.
Este
espaço deve ser mais representativo de diversos grupos sociais. Talvez
esta seja uma das últimas conquistas para consolidar a jovem democracia
brasileira.
Somente a democratização dos meios de comunicação permite a livre confrontação de idéias.
Marilza de Melo Foucher é economista, jornalista e correspondente do Correio do Brasil em Paris.
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