terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Tirem as patas da Petrobras!!!!

OTC 2015: recebemos pela 3ª vez maior prêmio da indústria de petróleo e gás

Este prêmio é o maior reconhecimento que uma empresa de petróleo pode receber na qualidade de operadora offshore
Em maio de 2015, em Houston (EUA), receberemos pela terceira vez o prêmio OTCDistinguished Achievement Award for Companies, Organizations, and Institutions em reconhecimento ao conjunto de tecnologias desenvolvidas para a produção da camada pré-sal. Esse prêmio é o maior reconhecimento que uma empresa de petróleo pode receber na qualidade de operadora offshore. Em 1992, recebemos o prêmio por conquistas técnicas notáveis relacionadas ao desenvolvimento de sistemas de produção em águas profundas relativas ao campo de Marlim e, em 2001, por avanços nas tecnologias e na economicidade de projetos de águas profundas, no desenvolvimento do campo de Roncador.
Em carta comunicando a premiação à Petrobras, o presidente da Offshore Technology Conference (OTC), Edward G. Stokes, destacou: “este prêmio é um reconhecimento das conquistas notáveis, significativas e únicas alcançadas pela Petrobras, e das grandes contribuições para a nossa indústria (óleo e gás offshore). O comitê de seleção (da OTC) ficou extremamente impressionado com esta nomeação. As conquistas que a Petrobras fez na perfuração e produção desses reservatórios desafiadores são de classe mundial. A indústria aprendeu muito a partir das informações compartilhadas pela Petrobras sobre o pré-sal nos artigos e sessões apresentados na OTC. Nós todos nos beneficiamos do seu sucesso.”
Produção no Pré-Sal 
O recente recorde de produção de óleo na camada pré-sal, de 713 mil barris diários de petróleo, obtido em 21/12/2014, demonstra a robustez das tecnologias aplicadas.



 
















Principais feitos tecnológicos do pré-sal 

1. Primeira Boia de Sustentação de Risers (BSR)
2. Primeiro riser rígido desacoplado e em catenária livre, chamado de Steel Catenary Riser (SRC)
3. Mais profundo Steel Lazy Wave Riser (SLWR)
4. Mais profundo riser flexível
5. Primeira aplicação de risers flexíveis com monitoramento integrado
6. Recorde de profundidade de lâmina d'água (2.103m)
Para perfuração de um poço submarino com a técnica de Pressurized Mud Cap Drilling (PMCD) com sonda de posicionamento dinâmico.
7. Primeiro uso intensivo de completação inteligente em águas ultraprofundas, em poços satélites
8. Primeira separação de CO2 associado ao gás natural em águas ultraprofundas - 2.220m - com injeção de CO2 em reservatórios de produção
9. Mais profundo poço submarino de injeção de gás com CO2 - 2.220m de lâmina d’água
10. Primeiro uso do método alternado de injeção de água e gás em água ultraprofunda - 2.200m

Grécia, os EUA e o golpe neoliberal

Vila Vudu...
Já somos todos gregos (em graus diferentes) 

Grécia, os EUA e o golpe neoliberal 

“Essa ‘conversão’ de dívidas privadas em dívidas públicas é ‘item’ que nunca falta nos ‘planos’ neoliberais.”

E onde tantos tanto falam de“políticas de austeridade”, deve-se dizer sempre “políticas de arrocho”: é o que são, arrocho; ‘austeridade’ é coisa muito diferente. [NTs]
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Desde os primeiros momentos da calamidade econômica que desabou sobre o ocidente em 2007, a resposta ‘oficial’ sempre foi apresentada como sucessos modestos, com alguns poucos erros políticos. A realidade é outra: o que se tem é uma elite distante e seus agentes dedicados a aplicar políticas punitivas sob o disfarce de limitações econômicas materiais. Nesse contexto, a eleição de Alexis Tsipras e da coalizão “Syriza” na Grécia parece ser uma virada radical à esquerda, enquanto as propostas econômicas realmente apresentadas e que estão sendo discutidas não passam de ideias de economia de manual de meio-de-percurso que precederam o golpe neoliberal dos anos 1970s nos EUA. E, embora o ministro Tsipras entenda muito mais dessa economia[1] e de estratégias de decisão econômica que os líderes da União Europeia e dos EUA, as alavancas do poder permanecem presas firmemente em mãos desses líderes que lideram para o desencaminhamento.

Dito de outro modo, o sofrimento econômico de tantos é gratuita, violenta predação econômica executada sob o falso pretexto de inexistentes pressões materiais. Como no caso da Argentina, no início dos anos 2000s, a Grécia tinha uma ‘cleptocracia’ nativa, ou ‘interna’, ligada numa aliança ‘externa’ a banqueiros internacionais, mediante mecanismos econômicos para promover o endividamento do país.

O governo dos EUA poderia, se quisesse, ter expulsado os fundos “cheios de vento”, para gerar empregos para os norte-americanos desempregados, mas escolheu não o fazer. No caso da Grécia, essa solução potencial é impossível, porque a Grécia é membro da União Europeia, sob condições que impedem esse procedimento. Foi em larga medida o que se viu no ‘alívio’ das hipotecas, com  os programas do Federal Reserve para comprar patrimônio nos EUA. Mas empréstimos subsequentes dos europeus aos gregos só ajudaram a reconstruir os cofres dos banqueiros europeus montados às costas do povo grego.

[Gráfico em
http://www.counterpunch.org/wp-content/dropzone/2015/01/uriegreece1.jpg]
Gráfico (1) acima: em dezembro, 2014, estima-se que haja mais de 6 milhões de trabalhadores potenciais nos EUA, gente que quer trabalhar mas desistiu de procurar por causa do mercado de trabalho completamente adverso. O Economic Policy Institute (EPI) comparou estimativas de crescimento do mercado de trabalho e o crescimento real, e descobriu esses 6 milhões de trabalhadores. Porque esse método já levava em conta os aposentados previstos e outros que se previa que deixassem o mercado de trabalho, resta a economia, para explicar o altíssimo número de desempregados. Como FDR mostrou com os programas de trabalho do New Deal nos anos 1930s, o governo dos EUA pode criar empregos para os norte-americanos, se desejasse fazê-lo. Muito semelhante ao que se constata no modo como a elite alemã vê o povo grego, a elite norte-americana também pressupõe que os desempregados estejam desempregados por falta de motivação e empenho para encontrar trabalho. Fonte: EPI.
A ascensão da coligação Syriza na Grécia é desenvolvimento bem-vindo, se o Sr. Tsipras e seu governo compreenderem bem contra o que estão lutando, e agirem adequadamente. Seja sincero ou apenas tático-eleitoral o compromisso de não se retirar da União Europeia, fato é que as regras da UE proíbem inúmeras ações na economia grega, mesmo que sejam de simples organização interna da economia nacional. Reorganização da economia grega, pôr rédeas na cleptocracia e fazer os cleptocratas pagarem, usando esse dinheiro para melhoramentos sociais, é ideia que colide cabeça com cabeça contra as políticas de exploração máxima que a troika vive de infligir à Grécia.

O que os liberais ocidentais chamam de ‘austeridade
[de fato, são políticas DE ARROCHO. “Austeridade”, traço típico de quem é “austero” é coisa completamente diferente do que dizem banqueiros, ‘especialistas’ de academia e ‘analistas’ na imprensa-empresa, metidos a entender de tuuuuuuuuudo. Mais um golpe ‘de narrativa’, no qual muita gente boa cai, sem nem perceber (NTs)], pode também ser interpretado pela experiência do último meio século de políticas de arrocho [sempre ditas ‘austeras’] que o Fundo Monetário Internacional, FMI, impôs em vários pontos do mundo, para assegurar que os bancos sejam pagos, não importa a catástrofe social que resulte do arrocho, digo, da ‘austeridade’.

Essa longa história serve como contexto às políticas infligidas à Grécia. O ‘modelo’ norte-americano na América do Sul e na América Central era/é para instalar no poder, nos vários países, déspotas ‘pró-business’, cleptocratas nativos apoiados pela CIA, para que saqueiem ‘por dentro’ os próprios países, ao mesmo tempo em que mantêm a boa ordem favorável aos interesses das empresas norte-americanas. Dito ‘esquerdista’, mas sempre eficaz ferramenta neoliberal, o presidente Carlos Menem levou a Argentina ao fundo do poço da 
crise argentina no início dos anos [ver também “Memoria del saqueo” (2004), filme de Fernando “Pino” Solanas (NTs)]. Por ordens do FMI, Menem implementou políticas de ‘austeridade’ que levaram ao colapso da economia argentina e, na sequência, levaram ao colapso também de dois governos argentinos. Só quando o povo argentino rebelou-se e recusou a ‘austeridade’ imposta pelo FMI é que foi possível arrancar a Argentina do fundo do poço.
No Brasil, o ‘intelectual’ e ‘progressista’ que se curvou a todas as imposições do FMI, mostrou a bunda aos oprimidos e quebrou o país três vezes, foi Fernando Henrique Cardoso – como se vê, com todas as letras [letras excessivas, demasiadas, de vomitar], em https://www.youtube.com/watch?v=t_W4kkhJndI [NTs].

Assim também, o FMI teve participação ativa em grande parte da ruína econômica do leste da Ásia e da Rússia nos anos 1990s, com políticas ditas de ‘desenvolvimento’ baseadas em dogmas neoliberais apoiados em políticas de ‘austeridade’ [de fato, são política DE ARROCHO, não de ‘austeridade’] – até que tudo deu errado, como daria 
inevitavelmente errado. 

Embora houvesse sem dúvida muitos verdadeiros crentes entre os banqueiros que promoveram então o programa neoliberal, assim como também os há no Banco Central Europeu hoje, as políticas que de fato estavam sendo implantadas eram projetos de banqueiros, que só interessavam a banqueiros, programas de repagamento que bancos aplicam a devedores delinquentes sem qualquer atenção às implicações nas políticas públicas. Equivale a dizer que as teorias econômicas apresentadas como de apoio às políticas do FMI quase sempre eram ‘teóricas’, e exigiam que os países deixassem de considerar vários séculos de história imperial; e nunca se basearam em exame racional dos ‘fatos’.

Na Argentina no início dos anos 2000s praticamente não havia qualquer dúvida sobre os interesses aos quais o FMI servia. A dívida ‘pública’ que o FMI exigia que fosse saldada era na origem dívida privada, que foi socializada, riscos bancários e empresariais em geral convertidos em ‘deveres’ e ‘dívidas’ e ‘obrigações’ que passaram a pesar sobre todo o povo argentino, não muito diferente dos trilhões em ‘valores’ e depósitos bancários que os governos de George W. Bush e Obama desviaram de agências do governo federal dos EUA para salvar Wall Street em 2008. Essa ‘conversão’ de dívidas privadas em dívidas públicas é ‘item’ que nunca falta nos ‘planos’ neoliberais.

E a ‘privatização’ de ‘bens’ gregos que agora a coligação Syriza repudia, foi o mecanismo usado para saquear a Argentina pela mesma cleptocracia internacional, como política chave do FMI.

Tudo isso para sugerir que os programas de arrocho que a troika quer aplicar à Grécia pouco têm a ver com economia teórica e tudo têm a ver com as ambições imperiais do ocidente. As políticas podem parecer ‘lógicas’, como teoria econômica, mas é ‘lógica’ que emergiu de vários séculos de prática imperial.

Outro modo de ver as questões é perguntar onde o banco central dos EUA, o Federal Reserve, descobriu os $4 trilhões para comprar ativos financeiros nos seus programas de “Alívio Quantitativo” [orig. QE (Quantitative Easing)]?

O dinheiro apareceu ‘do ar’, mediante algumas entradas digitais contra os bens comprados. O Banco Central Europeu também se serve desse ‘Fiat moeda’; fabrica dinheiro à vontade. Se falta dinheiro para fechar o balanço nos livros do Banco Central, qualquer valor nominal, tipo a moeda de um trilhão de dólares de cocô-de-gato proposta já há algum tempo nos EUA cairá perfeita, como vinda do céu. A questão é que o Banco Central Europeu pode resolver tecnicamente – embora politicamente não possa fazê-lo -- a dívida pública grega, com algumas simples entradas.

Mas o caso é que a troika está usando a dívida como porrete político e econômico contra a Grécia, mais ou menos como aconteceu na Argentina nos anos  2000s e está acontecendo atualmente no caso dos EUA. O ‘déficit’ de orçamento que está sendo usado para vender ‘austeridade’ [de fato, é ARROCHO] é pura ficção, foi inventado. Não é que a contabilidade não seja ‘real’; é que aquela contabilidade representa mal o modo como os gastos do governo são realmente financiados, e é apresentada de modo deformado, para atender a interesses de grupos políticos no poder.

Gráfico (2) acima: assim como fatos imperiais são expostos por economistas e cientistas políticos como disputas entre teorias, como ‘escolhas políticas boas’ versus ‘escolhas erradas’, também se expõe como se fosse ‘coincidência’ que políticas fiscais que beneficiariam as classes pobres e médias seriam ‘impossíveis’ por causa de limitações de orçamento... MAS o Fed ‘encontrar’ $4,5 trilhões de dólares para comprar papéis e beneficiar os mais ricos é possível!
        Em décadas recentes, os ganhos de capital pelo aumento do preço de venda de bens por cortesia do Fed encaminharam-se quase exclusivamente para os mais-mais ricos. A
troika agora está pondo os contribuintes alemães em guerra contra os gregos ‘maus-pagadores’. Mas a verdadeira linha de combate está demarcada, isso sim, entre os banqueiros aos quais o Banco Central Europeu serve e o povo grego. Fonte: Emmanuel Saez.

O ponto de aproximar as vítimas de uma Grande Depressão forjada na Grécia com o suplício dos argentinos no início dos anos 2000s e com a subclasse sempre crescente dos muito pobres nos EUA é fazer-ver que os problemas são sociais – luta de classes, não alguma função de limitações materiais.

Cada uma dessas circunstâncias representa uma luta por recursos sociais; as diferenças são de distribuição econômica, não são limitações ‘naturais’. Os banqueiros do Banco Central Europeu podem até acreditar realmente que políticas de “austeridade expansionista” permitiriam aos gregos pagar dívidas impagáveis. Mas ao implantar políticas que tem história longa como políticas de saque, aqueles banqueiros tropeçam nessa história à qual devem satisfações.

A capitulação serial da chamada ‘esquerda europeia’ a essas políticas neoimperialistas só faz sentido se os líderes desses partidos ditos ‘de esquerda’ veem-se, eles mesmos, como ‘insiders’ do lado do império.

A situação agora é clara: ou o Sr. Tsipras e Syriza livram-se de vez dessas ilusões liberais, ou arrastarão o povo grego, junto com eles, para o fundo da cova.

A onda racista mal disfarçada que vem do norte da Europa e apregoa que o problema da Grécia é efeito de um “caráter nacional” encontra sua irmã gêmea nas elites norte-americanas, que veem o problema econômico como resultado do crescimento do número de pobres nos EUA. O modelo de Mitt Romney, dos “fazedores versus roubadores” é sabedoria consagrada nos guetos de banqueiros e altos executivos de empresas em todos os EUA.

Começa agora um esforço para auditar a dívida grega e compreender como, para quê, com que objetivo o país endividou-se. Enquanto cortavam-se serviços sociais na Grécia, prosseguiam os negócios de compra e venda entre o governo grego e empresas alemãs e francesas fabricantes de armas, tudo pago com o suor do povo grego. Quando se auditou a dívida argentina, descobriu-se que 70% do ‘devido’ era dívida inventada, resultado de fraudes, dívida privada tomada por interesses privados e no interesse de empresas privadas, convertida em dívida pública para roubar o povo argentino.

As políticas econômicas forçadas contra a Grécia estão sendo impostas em diferentes graus por todo o ocidente. Os sistemas de educação pública nas grandes cidades como Chicago, Filadélfia e Detroit estão sendo sistematicamente saqueados por ideólogos neoliberais e ‘gerentes’ que trabalham a favor do próprio interesse. A ideia é promover a ‘eficiência’ econômica como se fosse eficiência operacional: o mínimo serviço prestado, pelo máximo lucro auferido. Cortam-se aposentadorias sob o pretexto de que faltariam fundos, quando impostos e taxas concebidos para manter aquelas aposentadorias são desviados ou cortados para criar ‘mercados’ de onde os mais ricos podem arrancar lucros. E o governo Obama deixou milhões de famílias roubadas nos empréstimos de hipotecas predatórias com dívidas maiores que o valor das próprias casas, enquanto os bancos que fizeram os empréstimos-assaltos são ‘resgatados’ e voltam a operar normalmente.

Na Grécia, o Sr. Tsipras continua até aqui a dizer as coisas certas.[2] E o que está dizendo só é ‘radical’ no contexto da virada em direção à direita mais reacionária pela qual passa o neoliberalismo nos últimos 40 anos.

As políticas econômicas impostas contra a Grécia são mais draconianas que o que se vê no núcleo de EUA e Europa, mas só no grau, não no tipo. Wall Street, que inclui grandes bancos alemães e franceses sempre usaram crises inventadas para intervir em golpes ‘soft’ pelo mundo, ao longo de décadas. A dívida é usada como arma. O povo grego tem batalha muito difícil a enfrentar. Mas o golpe neoliberal é internacional e internacionalista. Norte-americanos e europeus do norte que creiam que estejam do lado ‘vencedor’ apenas ainda conservam o emprego e a poupança; até que também lhes sejam roubados.

Em maior ou menos grau, já somos todos gregos. ******

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Obama: O golpe ideológico da hora

Vila Vudu...
Miséria econômica (de ‘classe média’) & dominação (de classe dominante): Obama: O golpe ideológico da hora 28/1/2015, Norman Pollack, Counterpunchhttp://www.counterpunch.org/2015/01/28/ideological-trick-du-jour/#.VMlA-woG9MI.email

Por que tentar agora uma discussão teórica do capitalismo, embora esquelética e fragmentada, quando tanta coisa acontece pelo mundo, a militarização da cultura dos EUA com reforço social para sua postura hegemonista – mais ameaçada do que nunca antes desde a 2ª Guerra Mundial pelo crescimento de outras nações e respectivas economias políticas, no que se vai rapidamente tornando um sistema internacional multipolar? A pergunta quase se autorresponde.

Os EUA correm cada vez mais apertados, talvez já com medo, nada habituados a que alguém desafie seu domínio exclusivo unilateral sobre o tal sistema, apoiado em “amigos e aliados” servis e na FORÇA, real e de reserva, para implementar a suserania norte-americana.

Essa semana, foram Índia e Arábia Saudita: fazer a sintonia fina do Império, negociar e/ou renovar alianças militares, oferecer garantias de segurança-proteção, processo sem fim de pôr um dedo no buraco para fechar a represa, sendo o buraco, nesse caso, a aspiração das pessoas a uma vida livre de exploração, acordos comerciais enviesados e tortos, o cogumelo nuclear engordando sempre no céu e escurecendo todos os futuros.

Por que agora, outra vez? Talvez pela mais transparente das razões, o discurso Estado da União de Obama, com seu mais recente cliché de enganação: a chamada economia de classe média, para encobrir a diferença escandalosa entre ricos e pobres, para, assim, enrijecer a estrutura de classes nos EUA, com consequências mais antidemocráticas a cada dia.

Novos dados da distribuição de renda explicam o golpe, pelo menos em parte. Mas não explicam tudo, porque o poder cresce geometricamente quanto mais amplas sejam as fundações, e quanto mais seja dado por indiscutível e confirmado pelo povão (submisso, doutrinado, engambelado, acostumado).

Em nenhum lugar mais que nos EUA, com seus mentirosos clamores de democracia, de superação das classes, de guardião da paz do mundo e do estado de direito, o poder traz com ele mais falsa consciência, com a IDEOLOGIA que vem à tona na estabilização e aprofundamento do capitalismo.
Daí, a economia de classe média, que não passa de capitalismo de monopólio embrulhado em papel-de-seda para parecer política inclusiva de oportunidades feita conforme a receita: Todos somos capitalistas! Todos somos altruístas! Somos todos iguais – posto que todos somos norte-americanos.

O subterfúgio é velho como as montanhas – Tocqueville bebeu no mito, as modernas empresas de relações públicas/propaganda/publicidade vivem da coisa, desde então, e o Evangelho dos Ricos opera sem parar, executivos de empresas & bancos, glutões in extremis, varrendo a entrada.

Obama é talhado para nossos tempos, sujeito sem nenhum escrúpulo, agente avançado da plutocracia. Com seus predecessores, a chicanería era óbvia, Clinton, o Democrata, mãos-nas-mãos com Bush, o Republicano, passo a passo na arena da desregulação, penetração no mercado do outro lado do mundo, e estímulo econômico de preparação para a guerra, solenemente pronunciado “segurança” e “defesa”.

Mas quem leva a taça é Obama, enterrando o processo de acumulação de riqueza nas platitudes do norte-americanismo, a mais modernosa economia de classe média.
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Herbert Marcuse em Razão e Revolução,[1] um dos trabalhos mais significativos da filosofia política do século 20, diz no Epílogo que a sobrevivência do capitalismo dependeria de ele absorver a própria negatividade, tarefa crítica para que fosse bem-sucedido, mas superior aos seus meios. Dito de modo mais simples, o capitalismo é suas contradições, não como alguma fórmula abstrata (para mim) de materialismo dialético, mas nos modos políticos e estruturais mais pão-com-manteiga, de comportamento sistêmico que leve à formação e à manutenção de um estado-classe no qual os trabalhadores em termos relativos, aproximam-se muito do exército industrial de reserva de Marx, via uma condição de subconsumo que o mantenha onde está, e o princípio da HIERARQUIA firmemente intacto no dia a dia.

Contradições que são como código, então, para normalizar a repressão. Mas... não! Pode-se chamar a coisa toda, mais simples, de “economia de classe média”.

Discuti recentemente nessas páginas aquele discurso, o golpe de
Ben e Rebekah [convidados de Michelle Obama para assistirem ao discurso na Casa Branca] para personificar e miniaturizar o capitalismo avançado, Todos & Todas sentados à mesa do café da manhã preparando a lista de compras do dia, enquanto Johnny sai para a escola – um conto de Megacapitalismo digno, como escrevi, de Goebbels.

Mas voltemos à distribuição de renda, não com Kuznets, ou melhor, Gabriel Kolko de “Riqueza e Poder”, para contrabalançar o piegas social-democrata de Michael Harrington “A Outra América”.

Em vez disso, tomemos o artigo de Dionne Searcey e Robert Gebeloff no New York Times, “
Nos EUA, a classe média só encolhe, com mais gente saindo dela, do que ascendendo para ela“ (Jan. 26), como resposta informal à economia de classe média. Começam assim: “A classe média que o presidente Obama identificou em seu discurso do Estado da União semana passada, como o fundamento da economia norte-americana vem encolhendo já há quase meio século.” Nada mau para o The Times, até aí.

Mas eles também desapontam, usando uma banda elástica de renda, de $35 mil a $100 mil, para definir a classe média, onde se encaixavam, no final dos anos 1960s, metade dos lares norte-americanos. Ninguém (exceto, claro, os que foram expulsos da ‘classe’) percebeu a mudança em curso, porque muitos mais estavam “ascendendo a ladeira econômica para as faixas mais altas.”

Nesse ponto, Searcey-Gebeloff ficam mais sérios (digo isso, porque estatísticas pré-2000 mostram quadro diferente, quando os níveis de renda são mais precisos, incluindo a proporção nos 2/10 inferiores de renda): “Mas desde 2000, a faixa de classe média continuou a diminuir nos EUA. A razão principal da diminuição é que mais gente passou a escorregar para faixas inferiores. Ao mesmo tempo, poucos e cada vez mais poucos dos que estavam nesse grupo enquadram-se na imagem tradicional de casal casado com filhos em casa, espaço preenchido cada vez mais por idosos.” E os autores admitem: “Mesmo assim, independente da renda, muitos norte-americanos identificam-se como ‘classe média’.

O termo é de tal modo amorfo, que políticos muitas vezes citam esse grupo ao introduzir propostas para as quais buscam apoio amplo.” (E, ideia minha: nem pensar que Obama estaria usando o discurso do Estado da União para fazer a mais reles propaganda!) Mesmo nessa faixa de renda, “muitos norte-americanos que fazem mais que $100 mil se autoconsideram de classe média”, especialmente “quem viva em regiões caras”, como a Costa do Nordeste e a Costa do Pacífico. Quase dá pena dos que estão na ou acima da faixa dos $100 mil – mais uma vez: a minha; os jornalistas observam: “Contudo, as linhas estão traçadas, é claro que milhões estão lutando para não perder itens que a maioria dos especialistas consideram essenciais para uma vida de classe média.”

As mudanças demográficas na composição da “classe média” são instrutivas. “A classe média passou por uma transformação, ao mesmo tempo em que encolhia” – escrevem eles. – Idosos trabalhando depois de se aposentarem caem aí; casais com filhos pequenos caem abaixo dessa faixa como a vemos hoje. Significa que “em anos recentes, o componente de mais rápido crescimento da nova classe média têm sido lares chefiados por pessoas com mais de 65 anos,” com as aposentadorias garantindo alguma proteção, “agora que norte-americanos idosos cada vez mais trabalham até bem depois da idade tradicional de aposentadoria.” Por outro lado “casais com crianças – a categoria que mais encolheu – são a categoria que também diminui mais rapidamente de toda a classe média.” Mulheres casadas na força de trabalho vêm impedindo que esse grupo caia ainda mais. “A mais recente recessão pôs fim a qualquer avanço mesmo nessa categoria em geral bem-sucedida. Sua porcentagem na classe média caiu três pontos percentuais, e o grupo que vive com menos de $35 mil dólares/ano aumentou.”

Mas vai tudo bem no Mundo Todo Feito de Pirulitos de Obama.

Adiante, o comentário que enviei ao New York Times, sobre o artigo de Searcey-Gebeloff:

Enquanto alguém falar de “classe média”, seja estatisticamente (a faixa de $35 mil-$100 mil é absurda) ou como tópico de narrativa, continuaremos a ser enganados, induzidos a pensar que a distribuição de renda é mais democrática do que é, e que o poder está distribuído mais equitativamente do que na verdade está.

A tal “classe média” de Obama não passa de bordão de Relações Públicas, truque deliberado para não deixar ver a realidade. O presidente apela às almas boas para que vejam os EUA em termos não estruturais de não classe, ocultando assim a concentração de riqueza e varrendo para baixo do tapete tudo que só faz aumentar a DESIGUALDADE.

Ao usar esse quadro de referências que, claro, foi predominante por décadas, The Times contribui para a visão de que pobreza e riqueza possam ser analisadas e discutidas em termos não sistêmicos. Mas... E se a desigualdade estiver inscrita nas fundações da sociedade norte-americana?

E o quanto, para o bem ou para o mal, têm a ver com o fracasso econômico demográfico, o gasto militar massivo, a guerra, a intervenção e o militarismo em geral?

Os EUA como nação dependemos do militarismo. Os números seriam ainda piores se não estivessem aí esses gastos e essas políticas militaristas. E nem se fala do empurrão artificial que a economia recebeu.

O discurso “Estado da União” de Obama foi solene farsa, em plena discussão séria sobre “em que pé estamos?”. O imposto para empresas que ele propõe é inferior ao que temos vigente hoje. A ‘desregulação’ de Obama só faz promover a consolidação financeira de vários modos da acumulação de capital. Ponha na mesma conta a inflação, e o que se tem, seja por decisão política ou por consenso bipartidário, é muita gente lutando para não morrer.
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[1]HERBERT MARCUSE [1898-1979] (1941) Razão e Revolução. Hegel e o surgimento da teoria social, Rio de Janeiro: Paz e Terra [NTs].