terça-feira, 26 de março de 2013

Festival Internacional de Filmes Curtíssimos


Abertas inscrições para a 6ª Edição Nacional do Festival Internacional de Filmes Curtíssimos, 4 e 5 de maio, no Museu Nacional da República em Brasília- DF

A 6ª Edição Nacional do Festival Internacional de Filmes Curtíssimos e a  15ª Edição Internacional      des Très Courts, consiste numa mostra internacional de filmes de até 3 minutos de duração e também numa Competição Nacional. As inscrições são gratuitas e estarão abertas durante o período de 12 de março de 2013 até 22 de abril de 2013 valendo a data Postal ou Upload do filme.

O foco do Festival é a participação de filmes em qualquer formato de captação tendo como regra  não ultrapassar 3 min fora título e créditos.

O Festival de Internacional Très Court teve origem na França e acontece simultaneamente em mais de 80 cidades de 15 países. Um evento mundial único, com projeções organizadas nos cinco continentes, uma verdadeira ponte entre culturas, conectadas de Paris a Ramallah, de Brasília a Belgrado, de Singapura a Genebra.

O Regulamento e a Ficha de Inscrição encontram-se no site do Festival



Assessoria de Imprensa: I-MAGE
Cristina Moysés
 21 7434-9889 / 21 3734-9607 ( fixo) / 61 9279-7332
cristina@filmescurtissimos.com.br
Dúvidas: secretaria@filmescurtissimos.com.br

domingo, 24 de março de 2013

Situação do Brasil quanto a matriz energética nuclear,

Minha posição hoje é bem diferente sobre a energia nuclear. Há um mito muito grande e exagerado sobre os riscos de acidentes nucleares. Há que se discutir muito sobre essa questão pois ela deve ser considerada como uma das alternativas mais razoáveis para o desenvolvimento do planeta, mesmo com o desastre na usina de Fukushima. 

Situação do Brasil quanto a matriz energética nuclear

quarta-feira, 20 de março de 2013

Phillip Marshall, pesquisador, escritor e ex-piloto da CIA, foi encontrado morto.


E ainda tem quem duvide que eles (EUA) seriam capazes de matar Chávez. 
São os verdadeiros terroristas do mundo...morro de medo da maldade dessa gente!!!

TODOS NO GOVERNO AMERICANO SÃO SUSPEITOS DESSAS MORTES.

Phillip Marshall, pesquisador, escritor e ex-piloto da CIA, foi encontrado morto em 2 de fevereiro de 2013, com sua esposa e filhos, até o cão da família foi morto. De acordo com aqueles que o conheciam Phillip, ele vivia com medo desde que publicou seu livro "The Big Bamboozle: 9/11 e a Guerra ao Terror", que acusa o governo dos EUA pelos ataques. 
http://metabunk.org/threads/1149-Phillip-Marshall-9-11-Conspiracy-Theorist-Apparent-Suicide-Or-What

domingo, 17 de março de 2013

ORIXÁS

Raul,
Comecei a ler. Ando um pouco sem tempo, mas vou ler aos pouquinhos. Mas não quero esperar para divulgar essa obra, que tenho certeza ser do nível sempre excelente dos seus textos.
Abraço. 

Olá Cari!

Como vai você?
Estou enviando o PDF anexo porque finalmente consegui cumprir meu compromisso com o parceiro Édison Braga. Compromisso que se completa com essa postagem, conforme explico nas duas primeiras páginas da apresentação do arquivo anexo e peço que as leia.
O restante do arquivo é bastante grande, praticamente um livro, e como acho cansativo ler arquivos tão extensos por computador ao invés de numerar os títulos de cada episódio do seriado “Orixás”, no índice da página 3 transformei-os em links seguidos de breve epígrafe para que possa ir direto àqueles que lhe parecer interessante ou sinta alguma identificação com o arquétipo representado pelo orixá a que se refere.
Se preferir conferir a sequência da história dos personagens criados pelo Édison, imprima o arquivo e boa leitura.
Conforme conto na apresentação, alguns desses episódios foram distribuídos assim que acabei de escrever cada roteiro. Mas aqui estão todos revisados e melhorados, até onde me foi possível fazê-lo na expressão cinematográfica em que tenho pouca ou nenhuma habilidade.
Meu esforço em promover a cultura afro-brasileira e o desejo do Édison -- que em suas palavras dizia pretender que fosse “a chave de ouro do fechamento de minha carreira” -- só se complementará com a colaboração de muitos na distribuição do anexo ao maior número de pessoas possível, juntamente com esta mensagem endereçada aos seus correspondentes para que a proposta se multiplique e se expanda pelos que consideram importante o desenvolvimento de uma linguagem de TV baseada na realidade e na cultura brasileira. Gostaria muito que todos houvessem conhecido o Édison para saberem o quanto ele merecia essa boa vontade de cada um.
Tanto que apesar das muitas atribulações no ano que passou, fui tentando desenvolver a história desses personagens para servirem de elo entre as histórias que escrevi quando vivia na Bahia.
E aí estão: a perspicácia do homossexual Bibi, as dúvidas militares do Tenente Ambrósio, os delírios de Ronald, o cineasta estadunidense a quem dotei do antiamericanismo emprestado de alguns amigos daquele país; e, sobretudo, a paixão da Marli que em comum eu e Édison idealizamos para construção da liberdade das mulheres brasileiras... De todo o mundo, na verdade.
Sentirei saudades desses personagens criados pelo Édison em nossa breve parceria. Inclusive do Dodô Excelência que originalmente Édison não imaginou de tão deturpado caráter, mas no decorrer da história foi se me revelando uma representação de certo político baiano de projeção nacional.
Espero que esses filhos do Édison a mim confiados para alimentá-los, também o comovam e divirtam bastante. Se gostar deles, por favor, apresente-os a todas as pessoas de seu relacionamento.
Ficaremos muito agradecidos!
Por mim e pelo Édison Braga, grande abraço!
Raul Longo
P.S.: aguardo sua opinião, críticas, comentários e sugestões.

quarta-feira, 13 de março de 2013

"G" de Globo e de Golpe

segunda-feira, 11 de março de 2013

Por Murilo Silva, no blog Conversa Afiada:
 
 
O Centro Acadêmico XI da Escola de Direito do Largo São Francisco promoveu nesta segunda-feira (11) um debate sobre a “Regulamentação da Mídia”.

Participaram o professor de Direito da PUC-SP e colunista da Carta Capital, Pedro Serrano; o professor titular da ECA, José Coelho Sobrinho; a diretora-executiva do Centro de Mídia Alternativa Barão de Itararé, Renata Mieli; e o jornalista Paulo Henrique Amorim.

O primeiro a falar à plateia de estudantes e professores foi Serrano, que fez uma ampla análise das diferenças entre Liberdade de Expressão e Liberdade de Imprensa.

Segundo ele, a Liberdade de Expressão é um princípio, que se limita no confronto natural com outros princípios. Ele dá como exemplo a Lei do Fumo, onde o princípio da liberdade se confronta com o princípio da saúde pública, e, nesse embate, se encontra um equilíbrio.

Já a Liberdade de Imprensa é uma garantia constitucional, “é a garantia de informar e sobretudo a garantia de a sociedade de ser informada”: “essa, sim, tem de ser regulada”, diz ele.

E informar, disse ele, é informar de forma verdadeira.

Para o professor Serrano, a regulação deve se dar na indústria da comunicação e, não, no conteúdo propriamente dito. Nessa matéria, ele qualifica a Constituição de 1988 com “um terror”.

De acordo com Serrano, os contratos de rádio-difusão deveriam ser licitados. “Por que a família Marinho e não outra família?”

Deveria haver uma licitação, com isonomia, como em qualquer concorrência publica.

A radio-difusão no Brasil é estatal – o Estado é o dono do espaço limitado de radio-frequência. Nos Estados Unidos e na Inglaterra, a radio-frequência opera no sistema de “utility”: de propriedade privada, com observância do Estado.

A Constituição brasileira prevê que esses contratos sejam renovados “automaticamente”, sendo cassados, apenas, com 2/3 dos votos do Parlamento: “isso não é um contrato é uma capitania hereditária”, completa. “É medieval”, ele disse.

Sobre os veículos impressos que, segundo ele, estão na esfera do privado – não dependem de concessão pública – também demonstram graves distorções de mercado. Para Serrano, o governo não pode obrigar ou controlar a atividade da imprensa escrita, mas pode incentivar novos empreendimentos que favoreçam a pluralidade no mercado editorial, e sobretudo, pode e deve combater o monopólio: “a revista Carta Capital, por exemplo, é distribuída por uma empresa da Editora Abril, que controla a distribuição de revistas. Não é à toa que uma edição da Carta que tratava do Carlinhos Cachoeira não chegou a Goias”.

“Penso que o CADE [Conselho Administrativo de Defesa Econômica - órgão responsável por garantir a concorrência nos mercados] poderia facilmente tratar disso se quisesse.”

Serrano revelou que ajudou Sergio Motta, ministro de Fernando Henrique Cardoso, a redigir um projeto de Comunicação de Massa que tinha as seguintes características – clique aqui para ler “Ley de Medios ? Por que não a do FHC ?”:

– proibia o monopólio; quem tem tevê não pode ter jornal; limitação do direito de a rede central determinar a programação regional; e estimulava a atividade privada.

O Estado não pode intervir na imprensa escrita, mas pode criar mecanismos para fomentar novas industrias – como faz em todos os outros setores da Economia, lembrou Serrano.

A regulação da mídia não tem nada a ver com censura. Regular a mídia é uma “questão banal”, ele enfatizou. Todo mundo regula.

Renata Mielli, do Barão de Itararé, concorda em que a “concentração do mercado” é danosa e deve ser combatida, mas vai além. Para ela, a regulamentação deve, sim, tratar de conteúdo, a posteriori, e chamar as empresas à responsabilidade; sobretudo no que diz respeito à classificação indicativa de programação – dispositivo que discrimina a faixa etária adequada.

Ela relembrou o caso de um estupro, ao vivo, no Big Brother, conforme denuncia inicial da vitima.

Renata denunciou a “judicialização” da questão. Por conta da omissão do Congresso em regulamentar os dispositivos constitucionais – que vem desde 1988: “a bola esta cada vez mais com o Judiciário, em especial com o STF”.

Clique aqui para ler sobre as ADINs do professor Comparato, que entrou no Supremo para punir o Congresso por omissão diante dos capítulos da Constituição que tratam da Comunicação.

Renata Mielli ainda enumera pontos importantes que esperam por decisão do Supremo – entre eles, a própria classificação indicativa por idade.

Quatro juízes já votaram contra a classificação – inclusive o ex-presidente Ayres Britto - , porque consideram ingerência estatal na programação das empresas e na decisão das famílias.

O que, segundo ela, cria “um conflito absurdo entre o direito da criança e o direito de expressão.”

Paulo Henrique Amorim vê o debate sobre a mídia no centro do debate político: “Não estamos discutindo a imprensa. Isso, como diz o professor Roberto Schwarz, é uma ideia fora do lugar. Estamos discutindo a Política.” Política que cada vez mais se desdobra no plenário do Supremo Tribunal Federal.

Já que falava para estudantes de Direito, que vão trabalhar no exercício da Lei e da Justiça, o ansioso blogueiro abriu a apresentação lembrando da iniciativa de um Juiz de São Paulo de permitir a transmissão ao vivo do julgamento do acusado de assassinar Mércia Nakashima:

“A culpa é da TV Justiça, que institucionalizou a invasão da TV no processo judicial. O IBOPE participa da administração da Lei. O espectador é como aquela massa enfurecida, que, nos filmes de faroeste, tira o suspeito da cela e o enforca em praça publica.”

Não deixe de votar na enquete do Conversa Afiada, “o que mais a TV Justiça deve mostrar ao vivo ?”

Assim como o Supremo na Ação Penal 470, esse Juiz vai levar a TV e seus interesses empresariais e comerciais para o território em que se celebra a Lei.

Paulo Henrique lembrou aos estudantes de Direito as palavras do ministro Lewandowski, professor titular daquela casa: “como disse o ministro Levandowski, o problema será quando o domínio do fato chegar a todos os juízes do país. O problema será quando todos os julgamentos forem televisionados”.

Paulo Henrique lança ainda um olhar ao ponto mais nevrálgico do monopólio:

“A Globo tem 40% da audiência e 80% da verba destinada à TV aberta, que, por sua vez é 50% de toda a receita publicitária do país. Se você somar à Rede Globo a Globosat, a radio Globo e a CBN, o jornal Globo, o Valor etc etc, a Globo terá, sozinha, uma empresa de capital fechado, sozinha ela terá MAIS DO QUE 60% DE TODA A PUBLICIDADE DO PAIS.

“Em nenhuma democracia jovem do mundo, Bolívia, Paraguai, Uruguai, Chile, Venezuela, Argentina, Portugal, Espanha… em nenhuma há uma concentração como no Brasil”.

Paulo Henrique disse aos estudantes o que os leitores do Conversa Afiada já sabem há muito tempo: a imprensa é o verdadeiro partido de oposição no Brasil.

“O PiG (*) tem o poder! O PiG tem o poder de matar Vargas, o PiG tem o poder de derrubar João Goulart, o PiG tem o poder de impedir Brizola de ser Presidente, de tentar derrubar o Lula, de tentar derrubar a Dilma [...] De julgar o mensalão. Dizer quem vota e a que horas vota. Mas o PiG não tem o poder de ganhar eleição. O poder do PiG é o poder de gerar crises, desestabilizar instituições: tirar o povo da jogada !”.

É o Partido da Imprensa Golpista, o PiG, expressão cunhada pelo Deputado Fernando Ferro, ao se referir a um artigo de Ali Kamel, diretor de jornalismo da Rede Globo.

Para o Professor Coelho, o quadro se mostra desolador. A influência dos meios de comunicação se reflete diretamente na omissão crônica do Congresso: “o que esperar de um Congresso onde muitos dos seus representantes são donos de emissoras de rádio e TV, que fazem uso político das outorgas que recebem.” Segundo ele, “a regulamentação no Brasil é uma ficção”.

O professor Serrano, nos debates, insistiu em que quando se trata de regulamentação da mídia, na verdade, se trata de discutir a soberania popular: até que ponto a República respeitará a soberania popular ?

O Direito não é uma abstração, lembrou Serrano. Não está fora do espaço vivido pelos cidadãos. E os agentes do Direito usam o Direito com intenção – com intenção política.

E não se pode esquecer, disse Serrano, que a Constituição americana foi feita para conter os avanços democráticos dos estados da jovem republica americana.

Que a primeira Constituição francesa previa o voto censitário, era uma Constituição burguesa.

E o que está em jogo, disse ele, é determinar até que ponto a soberania popular será respeitada.

Para Renata Mielli, a regulamentação é um desafio que só pode ser superado pela mobilização social: “a sociedade precisa se apropriar desse debate”, diz ela.

Renata conclui dando o tom do movimento pela regulamentação: “Paulo Bernardo [ministro das Comunicações] passou três anos enrolando a sociedade para admitir que o debate está fora da pauta do governo. Agora vamos sem o Governo, sem os empresários. Vamos mobilizar um milhão e meio de assinaturas, e vamos apresentar um projeto de iniciativa popular. Vamos levantar esse debate na sociedade. Vamos à luta!”.

Paulo Henrique Amorim concorda com Renata.

É muito difícil a Presidenta Dilma e o Congresso tomarem a iniciativa de enfrentar o PiG .

Ele lembrou que a discussão sobre a regulamentação na mídia não é uma questão de Direito, uma questão de administração técnica de meios eletrônicos ou impressos de comunicação.

No Brasil, a questão do PiG é A questão Politica.

O PiG é mais do que Imprensa.

O PiG é Poder.

E, hoje, no Brasil, como no Paraguai, quem dará o golpe final no Golpe contra a Dilma será o Supremo.

“O PiG não ganha eleição, o PiG dá golpe. O ‘G’ de Globo é o ‘G’ de Golpe”, disse o ansioso blogueiro.

sábado, 9 de março de 2013

Homenagem a Chávez


MÁRIO DE ANDRADE OU GONÇALVES DIAS? Uma evocação a Hugo Chávez

Raul Longo

Na literatura brasileira há uma evocação a Hugo Chávez resumida numa frase: “Meninos, eu vi!”
Aqueles que sabem que “o herói de nossa gente” em verdade foi baseado em um mito indígena venezuelano, logo imaginarão que estou me referindo ao Macunaíma. E confirmarão esta certeza se também souberem que Mário de Andrade reproduziu no herói de sua rapsódia a irreverência do Oswald de Andrade.
Como Oswald e Hugo Chávez, Macunaíma também falava o que lhe vinha à cabeça e não tinha pejo nenhum em blefar para confirmar suas certezas e convicções.
Célebre, por exemplo, o recurso utilizado por Oswald numa roda de intelectuais integrantes da Semana de Arte Moderna, para convencê-los de sua afirmação: “Villa Lobos é melhor do que Stravinsky”.
A turma até concordava com a qualidade musical das composições do brasileiro, mas daí a sobrepô-lo ao maestro russo, então o mais apreciado em todo o hemisfério norte, não se pôde aceitar.
Sem respaldo em conhecimentos musicais quanto em talento literário, Oswald não se apertou nem ficou por baixo: “- É sim, porque o Mário disse.”
Aí a conversa era outra! Se Mário disse, tá dito. Afinal, de todos, nenhum tinha mais autoridade do que Mário de Andrade que nem músico era, mas ainda hoje o registro de suas pesquisas é básico para quem queira estudar a expressão musical brasileira.
Quietos, porém de indignação latejando, foram lá reclamar com o Mário pela conclusão que a eles se evidenciava excessiva.
Preocupado com a própria imagem de douto no assunto, Mário ligou para o primo: “- Como é que você afirma que eu disse que o Villas é melhor do que o Stravinsky, se nunca falei nada disso!”
Do outro lado da linha a resposta foi curta e sintomática: “- Eu menti!”
Mais tarde, ao compor a obra, Mário de Andrade pôs essa sincera reconhecimento na boca do Macunaíma, o herói sem nenhum caráter.
Os apressados já vão achar que estou acusando o Hugo Chávez de falta de caráter, comparando-o ao Oswald e a todo o povo latino americano, inclusive à nossa gente brasileira.
Pergunto-lhes: de quem é o caráter? Daqueles que ainda hoje macaqueiam e só reconhecem valores no que é de fora, de lá do norte, lá de acima da linha do Equador?
Aí é que me pego com a hipocrisia da ética cheia de “ós” e “us”, própria dos incapazes de se reconhecer num “i” quando desmascarados em suas mentiras de quererem bancar os de lá, sem serem de lugar algum.
Como fazer enxergar a essa gente que aqui não consegue se reconhecer, de nossos próprios valores? Como lhes arrancar o cabresto?
Para que deixassem de se ensurdecer pelos ventos das estepes siberianas e escutassem em suas almas a poesia do resfolegar e do apito do trenzinho caipira, Oswald teve de mentir àqueles intelectuais. E por que é ao Macunaíma que conferem falta de caráter?
Se à picardia e inventiva de Macunaíma para recuperar sua muiraquitã, enfrentando o gigante Piamã, é o que se acusa de ausência de ética e caráter; que se explique qual a ética e o caráter dos baba ovos de Venceslau Pietro Petra.
Mas nem é aos esforços do Oswald ou à sagacidade de Macunaíma que comparo o heroísmo de quem mandou a “Alca al carajo!”, mas à uma obra do romantismo ao qual os modernista se opuseram: o Y Juca Pirama do Gonçalves Dias.
Quem conhece a obra e sua história também acusará de exagerada essa minha exaltação à Chávez, achando que o comparo ao guerreiro Tupi que no Canto IV chora e clama por sua vida aos inimigos Timbiras para poder cuidar do pai cego. Ou haverão de imaginar que o comparo àquele pai envergonhado maldizendo a covardia do filho e que no Canto VII implora aos Timbiras pela execução do filho.
Nada disso! Em verdade nem é ao Chávez que comparo a algum dos personagens do Y Juca Pirama. Comparo, sim, aos seus inimigos. Àqueles que nunca imaginaram serem mandados “al carajo”  por um governante latino americano.
E os sabujos dos inimigos de Chávez, como bons baba ovos de Piamãs, que o acusem de mentiroso ou farronqueiro, pois a missão do venezuelano foi cumprida. E seus inimigos lá no hemisfério norte por muitas noites vão contar de um guerreiro que os enfrentou como nunca imaginaram serem enfrentados no quintal da latino-América.
Quando os de suas futuras gerações duvidarem, repetirão como fez o velho Timbira na conclusão do Canto X da obra do Gonçalves Dias:
“- Meninos, eu vi!”
Ao serem babados, os ovos obstruem a visão dos que não reconhecem suas gentes e suas tribos, mas nem por isso se pense que os Timbiras do hemisfério norte sejam cegos. E que à Venezuela não falte Macunaímas como Hugo Chávez, um herói da realidade de nossa gente latino-americana.

Story of Stuff - Completo e legendado em português


Hugo Chávez: "donos da Globo são filhotes do Império" (LEGENDADO)


Chávez na História

Tereza Cruvinel

Durante os 14 anos em que exerceu o poder na Venezuela, e mesmo antes, Hugo Chávez foi demonizado pelo liberalismo ocidental. Sua figura atípica, seu estilo atrevido e sua liderança insólita desconcertavam os adversários. Irritavam e inquietavam. Com absoluta falta de cerimônia ele era chamado de caudilho, déspota, ditador. Agora que ele se foi, o rascunho começa dar lugar ao texto da História, e os adjetivos cedem lugar a algumas verdades, como o fato de que nunca exerceu um dia de poder que não tenha sido legitimado pelo voto popular. Sua morte física deve permitir também a melhor compreensão de seu papel na construção da atualidade política do continente e do mundo.
A morte abranda ódios e paixões, favorece a mais justa reflexão e aclara os contextos do passado, no que pese a obscurantista reação de um líder do Partido Republicano americano, que celebrou sua morte dizendo que já ia tarde, contrastando com a civilidade da oposição venezuelana.
Quando o texto definitivo da História for escrito, Chávez não surgirá como santo ou como infalível, o que não era, mas sua importância e o significado de sua liderança contrastarão com as crônicas implicantes do tempo em que viveu. Quando Chávez foi eleito pela primeira vez, em 1998, era lembrado o tempo todo pelo fato de ter participado de uma fracassada tentativa de golpe, com ideário nacionalista e reformador, em 1992. O governo venezuelano estava desmoralizado mas o neo-liberalismo reinava inconteste, fechando as portas para os países pobres e periféricos. Isso não justifica o ato mas realça a ousadia política de desafiar o consenso. O mundo seguia nesta marcha quando ele tomou posse pela primeira vez em 1999. O fim da socialismo soviético, a queda do muro do Berlim e a crise no paraíso cubano não deixavam espaço para utopias. Estavam arquivados discursos sobre revolução, transformação, soberania, integração latino-americana, justiça social. Muito antes de todos os presidentes progressistas do continente que viriam a ser eleitos, como Lula, Kirchner, Morales e Mujica, Chávez começou a reabilitar estas utopias e a implementar políticas desenvolvimentistas e de cunho social. Ele é uma espécie de produto da resistência ao neo-liberalismo, e não das lutas revolucionárias, como Fidel. Era algo novo, chamado de velho.
O estilo confrontador e a linguagem áspera têm a ver com o contexto da mudança política na Venezuela. Aqui, e mesmo no Chile e na Argentina, houve uma transição. Lá houve uma ruptura com o antigo sistema oligárquico, mesmo que pelo voto, depois da quartelada de 1992. A economia estava deprimida e a pobreza assolava o pais. O dinheiro do petróleo, drenado para as oligarquias e para o exterior, passa a ser usado para financiar políticas sociais. A reforma agrária é realizada e provoca reações. Diversos setores da economia são estatizados, acirrando o conflito com algumas empresas de comunicação, o que culmina com a não renovação da concessão da RCTV. Chávez firma acordos para fornecer petróleo a preços subsidiados aos países da Aliança Bolivariana, como Cuba e Nicarágua. Sua liderança transcende a Venezuela. Governantes como Evo Morales, da Bolívia, e Rafael Correa, do Equador, são eleitos com seu decisivo apoio. Entende que a economia venezuelana não irá longe no mundo global se não aprofundar relações com o Brasil e a Argentina, especialmente. Pleiteia e consegue o ingresso do país no Mercosul. Com Lula, foi um dos artífices da Unasur.
Seu legado inclui a erradicação do analfabetismo, a redução da pobreza em 37%, o aumento da renda e do emprego, a melhora indiscutível nos serviços sociais. E, mais que tudo, o protagonismo político do povo que agora o chora.
A pergunta que paira sobre seus funerais é sobre a sobrevivência do chavismo em sua ausência. Seu vice Nicolás Maduro, que ele apontou como herdeiro, disputará a eleição com o opositor do ano passado, Henrique Caprilles, dentro de 30 dias. A emoção e o sentimento de orfandade ainda serão intensos, favorecendo Maduro. Ele não é Chávez mas poderá, ou não, construir sua própria liderança. Como fez Dilma, criatura de Lula. Mas, ainda que a oposição vença, a Venezuela moldada por Chávez jamais voltará a ser o país elitista e iníquo do pre-chavismo.
Para o Brasil, nenhuma situação deve trazer grandes mudanças no relacionamento bilateral, mesmo não havendo mais a camaradagem que havia entre Lula e Chávez, herdada por Dilma. A Venezuela hoje tem um novo peso político no continente e representa um grande mercado de consumo para os produtos brasileiros, afora outros interesses comuns que tornam a relação bilateral estratégica para os dois países.

quarta-feira, 6 de março de 2013

¡Gloria al bravo Chávez!

Atílio Borón
 
Custa muito assimilar a dolorosa notícia do falecimento de Hugo Chávez Frías. Impossível não maldizer o infortúnio que priva Nossa América de um dos poucos “imprescindíveis”, no dizer de Bertolt Brecht, na luta ainda em curso por nossa segunda e definitiva independência.
A historia dará seu veredicto sobre a tarefa que Chávez cumpriu, e não se duvida de que será veredicto muito positivo. À parte qualquer discussão que se possa travar legitimamente no interior do campo antiimperialista – nem sempre suficientemente sábio para distinguir com clareza entre amigos e inimigos –, é preciso começar por reconhecer que o líder bolivariano virou uma página da história da Venezuela e, por que não?, também da história da América Latina.
A partir de hoje se falará de uma Venezuela e de uma América Latina antes e de outras depois, de Chávez, e não seria temerário conjecturar que as mudanças que impulsionou e que protagonizou como bem poucos em nossa história levam a marca da irreversibilidade. Os resultados das recentes eleições na Venezuela – reflexo da maturidade da consciência política de um povo – dão base a esse prognóstico. Talvez haja regressões na trilha das nacionalizações e se privatizem empresas públicas, mas é infinitamente mais difícil conseguir que um povo que afinal conheceu a própria liberdade e a própria potência, volte atrás e se deixe outra vez submeter.
Em sua dimensão continental, Chávez foi o protagonista na derrota que o continente impusemos ao mais ambicioso projeto do Império para a América Latina: a ALCA. Bastaria isso para instalá-lo na galeria dos grandes de Nuestra América. Mas fez muito mais.
Líder popular, representante genuíno de seu povo, com o qual se comunicava como nenhum governante antes dele soubera fazer, sentia desde jovem o mais visceral repúdio pela oligarquia e o imperialismo. Esse sentimento evoluiu até tomar a forma de projeto racional: o socialismo bolivariano, socialismo do século 21.
Chávez foi quem, em plena noite neoliberal, reinstalou no debate público latinoamericano – e, em grande medida, também no debate internacional – a atualidade do socialismo. Mais que isso, a necesidade do socialismo como única alternativa real, não ilusória, ante o inexorável desmonte do capitalismo, denunciando as falácias das políticas que procuram solucionar sua crise integral e sistêmica preservando os parâmetros fundamentais de uma ordem econômico-social historicamente já desencaminhada.
Como recordávamos acima, foi Chávez, também, o comandante-em-campo que impôs ao imperialismo a histórica derrota da ALCA em Mar del Plata, em novembro de 2005. Se Fidel foi o general estrategista dessa longa batalha, aquela vitória teria sido impossível sem o protagonismo do Chávez bolivariano, cuja eloquência persuasiva precipitou a adesão do anfitrião da Cúpula de Presidentes das Américas, Néstor Kirchner; de Luiz Inacio “Lula” da Silva; e da maioria dos chefes de Estado ali presentes e, de início, pouco propensos – quando não abertamente contrários – a desagradar o imperador bem ali, nas barbas dele.
Quem, senão Chávez, teria podido virar aquela mesa?
O instinto de sobrevivência dos imperialistas explica a implacável campanha que Washington lançara contra seu governo, desde antes do primeiro dia. Cruzada que, ratificando uma deplorável constante histórica, contou com a colaboração do infantilismo ultraesquerdista que, dentro e fora da Venezuela, pôs-se objetivamente a serviço do Império e da reação.
Por isso, a morte de Chávez deixa um vazio difícil, senão impossível, de preencher. Àquela excepcional estatura como líder de massas unia-se a clareza de visão de que, como poucos, sobre decifrar e agir inteligentemente na complexa trama geopolítica do Império que visa a perpetuar a subordinação da América Latina.
Àquela trama só se poderia dar combate se se fortalecesse – alinhado às ideias de Bolívar, San Martín, Artigas, Alfaro, Morazán, Martí e, mais recentemente, de Che e de Fidel – a união dos povos da América Latina e Caribe.
Força livre da natureza, Chávez “reformatou” a agenda dos governos, partidos e movimentos sociais da região, com uma interminável torrente de iniciativas e de propostas integracionistas: da ALBA à Telesur; da Petrocaribe ao Banco do Sul; da UNASUR e do Conselho Sulamericano de Defesa à CELAC. Iniciativas, todas essas, que têm um mesmo indelével código genético: o fervente, firme, jamais vacilante anti-imperialismo de Chávez.
Chávez já não estará entre nós, irradiando essa transbordante cordialidade; o rico, fulminante senso de humor que desarmava os arranjos de protocolo; sua generosidade, o altruísmo que o faziam tão querido. Martiano até a medula, sabía que, como disse o Apóstolo cubano, nenhum homem sem leitura será jamais livre. Foi homem de curiosidade intelectual sem limites.
Em tempos em que praticamente nenhum chefe de Estado lê coisa alguma – o que leriam os seus detratores, Bush, Aznar, Berlusconi, Menem, Fox, Fujimori? –, Chávez foi o leitor com que todos os autores sonham para seus livros. Lia muito, apesar das pesadas obrigações e responsabilidades de governo. E lia com paixão, tendo sempre a mão lápis, canetas, marcadores de texto de várias cores, com que ia marcando e anotava as passagens que o interessavam, as melhores frases, os argumentos de mais peso, de tudo que lia.
Esse homem extraordinário, que me honrou com sua amizade, está morto.
Deixou-nos um legado imenso, inapagável, e os povos de Nuestra América, inspirados por seu exemplo continuarão a andar pela trilha que leva à nossa segunda e definitiva independência.
Acontecerá com ele o que aconteceu ao Che: a morte, em vez de apagá-los da cena política, agigantará sua presença e sua gravitação nas lutas de nossos povos e de nosso tempo. Por um desses paradoxos que a história reserva só aos grandes, a morte o converte em personagem imortal. Parafraseando o hino nacional venezuelano: ¡Gloria al bravo Chávez! ¡Hasta la victoria, siempre, Comandante!
Traduzido por Vila Vudu

segunda-feira, 4 de março de 2013

Síntese da MIDIA IMPRESSA

Ferrovias/riscos – Valor abre manchete para “Empresas veem riscos em nova concessão de ferrovias”. Diz que grupos nascidos na construção pesada iniciaram conversas com empresas especializadas em administração de ferrovias à procura de parceiros para as novas concessões do setor. Jornal diz que, apesar do interesse na formação de consórcios, a iniciativa privada tem dúvidas sobre o modelo proposto pelo governo e vê riscos nos aportes bilionários demandados pelo programa de concessões.Valor diz que, para as empresas, a maior insegurança reside no fato de a Valec ser a responsável por remunerar o investimento. Trem-bala/falta de atualidade– BE, em “Trem de alta velocidade”, informa que a falta de atualidade dos estudos de viabilidade técnica e econômica do trem-bala pode levar a adiamentos no processo de licitação. Ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público do Distrito Federal na Justiça Federal afirma que os estudos geológicos são insuficientes para um empreendimento em que o risco cabe ao poder público e há uma grande margem de incerteza sobre os custos, conforme manifestação do Tribunal de Contas da União em 2010. Editorial do Estado, “Atraso na Transnordestina”. Portos – Valor, internamente, noticia que “Governo aceita antecipar contratos portuários firmados depois de 1993”. Editorial do Globo, “Competição só faz bem” traz como contraponto opinião do presidente da Força, Paulo Pereira da Silva, a quatro mãos com dirigente dos estivadores, “Desconhecimento de causa”, sobre o papel da Casa Civil.
Infraestrutura/R$ 40 bi – Valor chama na capa que “País precisa de mais R$ 40 bi para projetos”. Noticia é que o país terá de adicionar R$ 40 bilhões ao ano aos investimentos de infraestrutura e, desses, o governo espera que os bancos privados compareçam com até 40%, segundo o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, após participar, em Londres, do Fórum Brasileiro de Infraestrutura 2013, organizado pelo Valor. BE dá de manchete que “Governo aposta na alta da taxa de investimento para alavancar o PIB”. Informa que em 2012, a formação de capital caiu 4%e o investimento ficou em 18% do PIB, contribuindo para o baixo desempenho da economia. Para o ministro Guido Mantega, já houve melhora no quarto trimestre, o que garante o crescimento este ano.
Dilma/sindicatos – Estado diz em manchete que “Após dois anos, Dilma busca apoio de sindicatos”. Afirma que a presidenta decidiu seguir o conselho do ex-presidente Lula e tentar se reaproximar das centrais sindicais. Relata que na semana passada, Dilma recebeu os presidentes da CUT e da UGT. Segundo o jornal, ela também determinou aos ministros que analisem as reivindicações dos trabalhadores e verifiquem quais podem ser atendidas a curto prazo. Matéria diz que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), também tenta se aproximar dos sindicatos. Hoje, ele deve receber a direção da Força Sindical. Valor, internamente, afirma que “Dilma quer educação como principal bandeira da campanha à reeleição”. PSB/candidaturas – Folha informa na capa que “PSB articula candidaturas regionais para apoiar Campos”. Diz que partido planeja ter ao menos 12 candidaturas próprias a governador em 2014. Coluna de Ricardo Noblat, no Globo, “PT acua Eduardo Campos”. Aécio/ataque – Painel traz nota que diz que, “depois da gestão da Petrobras no governo do PT, o próximo ponto que Aécio Neves (PSDB) vai atacar é o comércio exterior”. Segundo a coluna, ele dirá que, “sob os governos petistas, o Brasil viu seu peso no comércio global cair e, por questões ideológicas, deixou de selar acordos com blocos econômicos”. Tucano assina na Folha “Mulheres” sobre o Dia Internacional da Mulher. Estado, internamente, noticia que “Ministério do futuro ilustra lamentação peemedebista”. Registra piada feita pelo líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha, sobre a pasta. Traz entrevista com titular Wellington Moreira Franco, que no título chama fala editada dele “Ações da Secretaria não elegem um vereador”.
Brizola Neto/coibir rotatividade – Valor, na capa, diz que “Brizola Neto planeja coibir rotatividade no trabalho”. Informa que, para reduzir a despesa elevada com o seguro-desemprego, o governo federal pretende exigir do trabalhador que solicitar o benefício duas vezes no prazo de dez anos a realização de um curso de qualificação. Desde o ano passado, essa exigência tem sido feita no terceiro pedido, o que levou a um recuo de 5% no volume de benefícios concedidos, afirmou o ministro do Trabalho e Emprego, Brizola Neto. Diz que outra iniciativa defendida pelo ministro é a regulamentação de um artigo da Constituição que prevê uma alíquota adicional de contribuição ao FAT para empresas com rotatividade maior que a média apurada em seu setor. Internamente, Valor noticia que “Ministro reduz para 1,5 milhão estimativa de criação de vagas”.
Rio/áreas pacificadas/500 mil pessoas – Globo, em “Já são 500 mil em áreas pacificadas”, reporta que a polícia ocupou ontem favelas do Caju e a Barreira do Vasco para a implantação de uma UPP. Frisa que, na ação, “não foi disparado um único tiro”. Informa que desde ontem, já é meio milhão de pessoas que vive nas áreas pacificadas. Estadão também registra assunto na capa em “Polícia ocupa o Complexo do Caju”.
Violência no campo/aumento – Globo chama na capa que “Disputa por terra mata mais no país”. Informa que o número de assassinatos causados por disputas de terra passou de 29, em 2011, para 32, em 2012, um aumento de 10%. Desde 2000, foram ao menos 458 mortes por questões agrárias. ONU/ “ignorada” – Correio diz na capa que “Brasil ignora perguntas da ONU sobre violações”. Segundo o jornal, de cada cinco pedidos de explicação enviados pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU, pelo menos três são ignorados, aponta levantamento do Correio. Reporta que temas vão de grandes projetos, como Belo Monte, a execuções sumárias de líderes ambientalistas. Terra/ouro – Estado, na capa, diz que “Preço da terra agrícola sobe mais do que o ouro”. Noticia que, com a alta das cotações de milho e da soja, o preço da terra para a agricultura mais que triplicou nos últimos dez anos. Afirma que, em cinco anos, o valor subiu em ritmo mais rápido e superou as principais aplicações financeiras, incluindo o ouro. Violência urbana/jovens/DF – Correio chama na capa em “Roubar, matar ou morrer ainda jovem” que número de adolescentes envolvidos em delitos aumentou 25,5% em 2012, segundo levantamento da Promotoria de Defesa da Infância e da Juventude do DF.
Jornada da juventude/Galeão/plano “contra caos” – Folha, internamente, destaca que “Igreja e governo traçam plano contra caos aéreo durante evento católico”. Diz que, para evitar um novo caos aéreo durante a Jornada Mundial da Juventude, prevista para acontecer de 23 a 28 de julho no Rio, a Igreja Católica e o governo articulam a criação de áreas de permanência temporária para os fiéis no aeroporto internacional do Galeão. Os espaços ficariam do lado de fora dos terminais de embarque e desembarque. Nelas, além de área de alimentação e serviços como wi- fi, seriam instalados pontos para check-in dos peregrinos, o que evitaria grande concentração de passageiros dentro do terminal longas filas. DF/blecaute/explicações – Folha, internamente, informa que “Planalto cobra explicações sobre blecaute no aeroporto de Brasília”. Informa que operador do terminal e empresa de energia dão versões distintas para o fechamento do aeroporto internacional de Brasília durante parte da manhã do sábado, “que irritou a presidente Dilma Rousseff e movimentou o governo em busca de explicações”.
 
Serviços/alavancagem – Globo destaca na capa que “Déficit dobra no setor de serviços”. Diz que, após o déficit da balança comercial de serviços subir 150%, para US$ 41 bi em 2012, o governo criou força-tarefa para ajudar empresas do setor a exportar mais, incluindo construção e turismo. Afirma que o governo está fazendo uma radiografia do setor para identificar as companhias que exportam serviços, saber que tipo de apoio elas precisam e, com isso, alavancar as suas vendas. BE, na capa, informa em “Cresce interesse francês pelo país” que no ano passado os pedidos de informação à Câmara de Comércio França-Brasil subiram 22%, com ênfase no setor de serviços. Valor destaca no cabeçalho da capa que “Importação de bens de capital cresce e afeta indústria nacional, diz Aubert, da Abimaq”. Consumo – Valor, internamente, noticia que, “Na era Dilma, 90% da alta do PIB veio do consumo”. BE, na capa, noticia em “A disputa pelo cliente classe C” que empresas como Nestlé e Kinberly-Clark unem qualidade com preço baixo para fidelizar consumidores emergentes. Editorial do jornal, “PIB cresce menos no governo Dilma do que com Lula e FHC”.
 
Imóveis/FGTS/teto maior – Estado informa na capa que “Limite do FGTS para casa própria pode subir”. Noticia que a equipe econômica reabriu as discussões para aumentar de R$ 500 mil para R$ 750 mil o valor máximo dos imóveis que podem ser comprados com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço. Diz que o aumento do limite foi pedido por dirigentes de bancos privados ao ministro da Fazenda, Guido Mantega.
 
GO/mais corrupção – Correio na manchete “R$ 40 milhões para irrigar a corrupção” informa que o governo de Goiás anunciou novo projeto de irrigação em Três Barras, no município de Cristalina (GO) para atender os produtores rurais da região a um custo estimado de R$ 66 milhões. Informa que as mesmas obras, a 130km de Brasília, consumiram quase R$ 40 milhões em seis anos, mas nunca beneficiaram um único produtor rural sequer. A construção do sistema, concluída em 2003, se transformou em um escoadouro de recursos públicos e em um grande escândalo de corrupção. Diz que, no mês passado, a Secretaria Estadual de Agricultura anunciou oficialmente o que todos da região já sabiam: a gigantesca obra, apesar de pronta, nunca entrará em funcionamento.
 
PF/Dantas – Estado, internamente, noticia que a Polícia Federal em São Paulo resolveu recusar o inquérito que investiga suspeitas de que o grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas, fez doações ilegais ao PT por meio do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. Afirma tratar-se de uma das várias apurações complementares ao processo do mensalão. Retranca diz que “Decisão do órgão coincide com desejo do Oportunity”.
 
Anvisa/fitoterápicos – Folha noticia como manchete que “Anvisa quer flexibilizar a aprovação de fitoterápicos”. Informa que a agência debate criação de categoria nova para remédio baseado em ervas. Substâncias como tanchagem, chapéu-de-couro, laranja-amarga, erva-de-bugre, macela, chambá, transformadas em medicamentos fitoterápicos, devem ganhar novas regras de comercialização para ter mais espaço nas prateleiras.
 
Cardeais/pressão – Globo destaca como manchete que “Cardeais pressionam para ler dossiê secreto”. Informa que o presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Raymundo Damasceno, disse que cardeais do mundo todo já começam a pressionar para conhecer o conteúdo do dossiê secreto entregue ao Papa Bento XVI, pouco antes da renúncia. Estado acompanha, “Cardeais do Brasil farão pressão por acesso a dossiê”. Folha noticia na capa que religiosos se reúnem hoje pela primeira vez na Congregação Geral, convocada para discutir a transição na igreja
 
Juízes x Barbosa – Globo, internamente, noticia que “Associações de juízes criticam Barbosa”. Informa que a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) e a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) divulgaram anteontem nota pública em que classificam de "preconceituosa, generalista, superficial e, sobretudo, desrespeitosa" a declaração do presidente do STF, Joaquim Barbosa, a jornalistas estrangeiros. Reporta que na última quinta-feira, Barbosa, durante uma entrevista coletiva, declarou que os juízes brasileiros têm mentalidade "mais conservadora, pró-status quo, pró-impunidade".
 
BC/dividendos na mira – Valor informa na capa que “BC pode barrar dividendo de banco”. Notícia é que o Banco Central ganhou poderes para impedir a distribuição de dividendos por bancos que não se adaptarem às novas regras sobre capital mínimo, anunciadas na sexta-feira para ajustar o arcabouço regulatório brasileiro ao novo acordo internacional de Basileia. Rela que o governo editou medida provisória condicionando a distribuição de dividendos ao cumprimento dos novos requisitos prudenciais aprovados pelo CMN. Internamente, Valor informa que, “Para Moody’s, BB e Bradesco serão os mais afetados”.
 
Celular/tablet/consumo de dados – Folha chama na capa que “Consumo de dados por celular e tablet é 12x o volume registrado no ano 2000 em toda a internet”. Reporta que de 2011 para 2012 média de consumo mensal de cada telefone inteligente passou de 189 Mbytes para 342 Mbytes. BE entrevista presidente da Claro, Carlos Zenteno, e chama na capa fala dele, “Qualidade é maratona”.
 
EUA/gastos/sem acordo – BE noticia na capa em “EUA sem acordo sobre cortes” que o presidente Barack Obama se reúne com parlamentares, mas não consegue apoio para limitar redução nos gastos públicos. Editorial do Estado, “O suspense americano”.
 
Chávez/opositores – Estado destaca internamente que opositores protestam e exigem notícias de Chávez. “Painel, da Folha, em “Boletim médico”, diz que prsidenta Dilma tem recebido informações diárias sobre a saúde de Hugo Chávez. “As últimas apontam um quadro estável, mas sem perspectiva de que ele possa prestar em breve o juramento oficial como presidente eleito da Venezuela”.
 
Khomeini/ditadura brasileira – Folha informa na capa que “Ministérios vão liberar papéis da ditadura para consulta”. Informa que um conjunto de documentos confidenciais do Comando da Marinha revela que a ditadura brasileira se aproximou do Irã do aiatolá Khomeini, fundador da República Islâmica, em plena guerra Irã-Iraque (1980-1989). Segundo a Folha, pelo menos seis ministérios e as três Forças retêm milhares de páginas da ditadura militar (1964-1985).
 
Dilma/arte – Ancelmo Gois, em sua coluna do Globo, registra “olhar sensível” da presidenta Dilma para arte, segundo o crítico Paulo Herkenhoff, na visita ao MAR no Rio na sexta. Diz que ela se deteve mais tempo diante de trabalhos de Tarsila do Amaral e Volpi.

sábado, 2 de março de 2013

Bradley Manning e os crimes de guerra dos EUA


1/3/2013, vídeo e entrevista traduzida com Michael Ratner, advogado
The Real News Network, TRNN
http://therealnews.com/t2/index.php?option=com_content&task=view&id=31&Itemid=74&jumival=9779#.UTDOO6L_mSo

Tradução: Vila Vudu

PAUL JAY, editor sênior de TRNN: Michael Ratner, advogado de Wikileaks, assistiu à audiência, ontem, em que Manning falou, em tom firme, com inteligência e confiança, detalhando as inúmeras brutalidades às quais assistiu e que o levaram a enviar os documentos que, sim, enviou a Wikileaks. Aqui, Michael Ratner fala à TRNN e conta o que viu.

Michael, que fala conosco de New York City, é presidente emérito do Centro de Direitos Constitucionais; é presidente do Centro Europeu pelos Direitos Humanos e Constitucionais em Berlim; é o advogado que defende Julian Assange nos EUA; e também é membro do conselho editorial de The Real News Network. Obrigado pela entrevista.

MICHAEL RATNER: É um prazer estar com você, Paul.

JAY: Você ontem viveu dia muito fortemente emocionante, assistindo ao julgamento histórico de Bradley Manning. O que aconteceu lá?

RATNER: Fui cedo para Fort Meade, e foi coisa de dia inteiro. Bradley Manning estava na sala do tribunal. A maior parte de imprensa foi direcionada para um auditório, e só uns poucos – eu também, mas não sou jornalista – fomos autorizados a entrar na sala em que Bradley Manning depôs. Foi dia especial, porque o advogado de Bradley Manning e o próprio Bradley decidiram que Bradley se declararia culpado em algumas das acusações, com penas menores; mas não nas acusações de espionagem e colaboração com o inimigo..

Fato é que, para mim, no plano emocional, foi um dia devastador. No fim do dia, sentia-me uma ruína, emocionalmente devastado. Mas, ao mesmo tempo... Quem lá estava viu, afinal, quem é Bradley Manning. É um herói. Um desses raros homens que, diante de um crime para o qual todos fecham os olhos, encontra o que fazer e age.

Tecnicamente, Bradley, hoje, declarou-se culpado em nove acusações. E, quando o acusado se declara culpado, a corte tem de ter certeza de que o acusado entende perfeitamente o que está fazendo, que entende a natureza da confissão de culpa. Então, a corte pede ao acusado que narre detalhadamente as próprias ações. Bradley Manning declarou-se culpado de distribuir, ou de transferir a WikiLeaks (que são meus clientes), todos os documentos dos chamados “Iraq War Logs”, dos “Afghan war logs”, o vídeo “Collateral Murder”, telegramas do Departamento de Estado, os 13 telegramas de Reykjavik, etc.

Mas o mais interessante, nessa admissão de culpa em nove acusações, foi que a juíza permitiu que Bradley lesse uma declaração de cerca de 30 laudas. A leitura durou duas, quase três horas. E esse documento, sim, permitiu ver que tipo de homem é Bradley Manning. Foi declaração profunda, imensamente emocionante.

Começa com quando ele se alistou no exército; fala depois de sua primeira missão no Iraque. E essa primeira missão já foi associada a algo que se conhece como SigAct, abreviatura de “atividades significativas”: são os relatórios diários de tudo que acontece em campo. E Bradley, quanto mais lia aqueles relatórios, mais perturbado se sentia com o que via acontecer no Iraque: número de mortos, número de... Bradley disse que entendeu rapidamente que estavam assassinando pessoas cujos nomes constavam de uma ‘lista de matar’. Que absolutamente não estavam ajudando a salvar ninguém. E conta que concluiu que teria de haver discussão muito séria sobre a contrainsurgência: se existe para ajudar alguém ou para ferir inocentes e matar alvos predefinidos.

Ao mesmo tempo em que trabalhava com os arquivos da guerra do Iraque – era parte do seu trabalho – trabalhava também com os arquivos da guerra do Afeganistão, material muito semelhante, condições semelhantes, locais semelhantes. Todos esses arquivos passaram pelas  mãos de Bradley.

Também ao mesmo tempo, ouviu falar da organização WikiLeaks. E ouviu falar de WikiLeaks porque WL acabava de divulgar – nem lembro quantas dezenas de milhares de SMSs, aquele, com as mensagens de texto de pessoas que estavam dentro do World Trade Center quando foi atacado. Assim, ele tomou conhecimento da existência de WL. Em seguida fez algumas pesquisas pelo computador, e descobriu que, em 2008, havia um documento do governo dos EUA sobre como desmontar a organização WL.

Quer dizer... Foram dois processos: Bradley lendo os arquivos da Guerra do Iraque, os arquivos da Guerra do Afeganistão e, em seguida, fazendo contato, como fez, com WikiLeaks.

Mas, no início, só havia os arquivos da Guerra do Iraque e os arquivos da Guerra do Afeganistão, e Bradley cada vez mais perturbado com o que lia. De início, não fez qualquer movimento. Mas, em certo momento, ele viajou aos EUA já com todos aqueles arquivos baixados em seu computador, acho, ou num CD, talvez num pequeno cartão para transporte de dados. Estava em Maryland. Nevava muito. Bradley não conseguia decidir-se sobre o que fazer com os arquivos. Falou sobre eles com um amigo, seu namorado, pelo menos durante algum tempo, e perguntou a ele “o que você faria se tivesse com você coisas que todos os norte-americanos têm de ver?” O rapaz nada disse de relevante. Bradley continuou a pensar nos arquivos, que continuavam a incomodá-lo.

Quando voltava de Boston a Maryland, entrou numa loja Barnes & Noble, para fugir da tempestade de neve e, também, porque precisava do acesso à banda larga, e, dali, enviou os documentos a WikiLeaks. Enviou pela própria página de WL, na qual há uma sessão para envio anônimo de documentos. Depois, Bradley, como já dissera antes, diz que se sentiu muito aliviado; “eu tinha certeza de que era algo que o povo norte-americano tinha de ver; que todos têm de debater essa guerra. E eu esperava que os arquivos da Guerra do Afeganistão e os arquivos da Guerra do Iraque modificassem a situação”. Assim, o primeiro bloco de documentos estava enviado.

A partir daí, é claro, há correspondência, de algum modo, entre Manning e WikiLeaks. Manning nunca soube quem estava na outra ponta do contato por computador. Diz que, em algum momento, é possível que tenha sido o próprio Julian Assange, ou, talvez, alguém chamado Daniel Schmitt (um rapaz alemão que esteve com os WikiLeaks durante algum tempo, Domscheit/Schmitt). Mas Bradley não sabe quem seria. Diz que, sim, bem poderiam ser outras pessoas das organizações WikiLeaks. “Eu nunca soube com quem me comunicava, da organização WikiLeaks. Todos os contatos eram anônimos.”

Bradley diz também que, ninguém associado com a Organização WikiLeaks (WLO) pressionou-o para que lhes desse mais informação. “A decisão de entregar documentos a WikiLeaks foi exclusivamente minha”, ele disse. É bem claro que Bradley é pessoa politizada. Pelo menos, entende claramente que a opinião pública tem de conhecer exatamente o que fazem os governantes.

Depois disso, o grande acontecimento foi o vídeo “Collateral Murder”. As pessoas, nos gabinetes no Iraque, discutiam se os vídeos seriam legais, se estariam de acordo com as leis de guerra e do serviço militar, ou não. Bradley decidiu ver, ele mesmo, os tais vídeos. E viu. E horrorizou-se porque “primeiro, sim, até se poderia argumentar que tivesse sido acidente”, quando os dois jornalistas da Reuters foram mortos com tiros de arma que atirava do que parece ser um helicóptero. E, sim, é possível que tenha acontecido um engano, como Bradley disse. E há discussão até hoje sobre se teriam, mesmo, de assassinar os jornalistas da Reuters.

Mas o problema é que, em seguida, aparece uma caminhonete para socorrer as pessoas feridas... E os atiradores no helicóptero atiram contra a caminhonete. E isso, Bradley parece não ter dúvida alguma, é crime de guerra, ação bem claramente proibida. Era pessoal de resgate, que vinha resgatar os feridos. Ninguém portava armas. Mas o vídeo permite ouvir as falas dos militares dentro do helicóptero, a sanha por sangue. E a expressão que ele usou: sanha de sangue [orig. bloodlust]. Quando veem alguém que rasteja no chão, aparentemente já ferido, alguém diz no helicóptero que “tomara que ele saque a arma”. Evidentemente, para terem o pretexto necessário para matá-lo.

O vídeo também o incomodou. Incomodou-o, sobretudo, o fato de o vídeo não ter sido entregue à Agência Reuters, apesar de a Reuters tê-lo requisitado, em nome das famílias dos dois jornalistas mortos. E o governo dos EUA, o CENTCOM, os militares responderam que nem tinham certeza de que tivessem o tal vídeo. E o vídeo lá estava. Outra vez, o que temos é Bradley profundamente incomodado com o que via e agindo, reagindo, tomando uma atitude.

Essa é a segunda acusação face à qual Bradley declarou-se culpado: ter entregado aquele vídeo, outra vez, como antes, enviado à página de WikiLeaks. Esse vídeo sequer estava classificado como secreto – o que é interessante. Mas Bradley enviou o vídeo, sim, à organização WikiLeaks.

O terceiro caso é com a polícia iraquiana. Pediram que Bradley ajudasse a polícia do Iraque, a polícia de Bagdá, que os ajudasse a identificar, insurgentes, não sei, ou outros desse tipo. Àquela altura, 15 pessoas foram entregues à polícia iraquiano. E Bradley examinou aqueles casos; pediu para examiná-los. E descobriu que nada havia contra aquelas pessoas; no máximo, acusações de terem colado cartazes criticando a corrupção no governo iraquiano. Mais uma vez o caso incomoda Bradley, porque aqueles prisioneiros foram terrivelmente maltratados. Bradley temeu que fossem mortos ou desaparecessem ou, até, que fossem mandados para Guantánamo, se fossem entregues aos EUA.

Então, sua primeira providência foi tentar relatar o caso aos seus próprios superiores, os quais, é claro, não lhe deram qualquer atenção. Bradley, outra vez, enviou os arquivos relacionados àqueles prisioneiros, para WikiLeaks. WikiLeaks não publicou aqueles documentos, mas, é claro, Bradley continuava conversando com WikiLeaks. Mas o caso dos iraquianos presos chamou a atenção de Bradley para outro tópico: Guantánamo.

O que Bradley disse à corte foi “[incompr.] tem direito de interrogar pessoas, é claro, mas Guantánamo é moralmente questionável. O que fazemos ali é manter encarceradas pessoas inocentes, pobres, gente de escalão muito inferior, e Barack Obama prometeu fechar Guantánamo. Minha opinião é que manter aquela prisão fere os EUA”.

A partir daí, Bradley passou a trabalhar no que hoje se chama “arquivos dos detentos”, arquivos sobre cada um dos prisioneiros de Guantánamo. E, quando falou com WikiLeaks, disse que mandaria aqueles arquivos; WikiLeaks respondeu “OK, são arquivos antigos, já perderam o conteúdo político, mas são historicamente importantes para o caso Gauntánamo; e podem ser úteis aos advogados”. Então, os arquivos foram enviados para WikiLeaks.

Na sequência, a última coisa sobre a qual Bradley falou foram os telegramas do Departamento de Estado. Houve telegrama anterior, chamado “Reykjavik 13”, que, de fato, foi o primeiro documento, pelo que sei, que WikiLeaks divulgou online. Reykjavik 13 foi recolhido de uma website que tem algo a ver com a Islândia. E, de repente, lá estava a Islândia – no coração da crise financeira. – E havia terríveis pressões, pelo Reino Unido e pelos EUA, sobre a Islândia, para que o país se rendesse aos programas de resgate e de austeridade. E a Islândia recusou. E o tal telegrama falava das pressões que os EUA estavam fazendo sobre a Islândia. E Bradley Manning – que sabia o que mais ninguém sabia – reagiu. Denunciou que os EUA estavam assediando a Islândia. Que não pode ser. Que nada, naquele caso, poderia ser secreto.

Com isso, claro, Bradley chegou aos telegramas diplomáticos. – Bradley leu todos os telegramas sobre o Iraque, cada um daqueles telegramas, disse ele; e percebeu que, basicamente, todos aqueles telegramas incluíam crimes, criminalidade de diferentes níveis. O que o convenceu de que aquele tipo de diplomacia também prejudica os EUA: diplomacia de segredos inconfessáveis dos quais o público jamais toma conhecimento. Em seguida, então, enviou a WikiLeaks os telegramas diplomáticos.

Mas o que se vê em cada um desses casos, é que Bradley foi influenciado, sempre, pelo que viu ou leu. Foi sincera e profundamente atingido e influenciado. E não conseguiu nada, nas tentativas que fez para alertar, primeiro, os seus superiores. Se não conseguia fazer nada dentro da estrutura onde estava – o que mais poderia fazer? Então, decidiu que todos, todos os cidadãos dos EUA, toda a opinião pública, nos EUA e no mundo, tinham de ser informados. Porque era preciso discutir aquilo tudo. Supôs que talvez, com a discussão, se conseguiria mudar aquelas políticas.

Mas... Houve vários momentos muito interessantes, no depoimento. A certa altura, quando já havia voltado para Maryland, pensando em divulgar os arquivos sobre o Iraque e o Afeganistão, Bradley contou que, em primeiro lugar, fez contato com outros veículos. Telefonou a um dos editores do The New York Times e deixou uma mensagem na secretária eletrônica, ou na página do editor. Jamais houve resposta. Telefonou ao The Washington Post e, disse ele, ninguém, ali, o levou a sério. Foi quando entendeu que nada conseguiria, em matéria de divulgar os fatos, nem do Washington Post nem do New York Times. Disse que, então, começou a procurar outros meios para divulgar os arquivos. No final, considerando o que WikiLeaks já fizera no passado, Bradley disse que concluiu que seria o melhor meio de divulgar os arquivos.

O que pensei, naquele tribunal, vendo e ouvindo aquele rapaz, 22 anos, que se alistou no Exército aos 20 anos, e que aos 22 já distribuía aqueles documentos para WikiLeaks, porque se sentiu horrorizado, perturbado... O que pensei ali, naquela hora, é que esse rapaz é um herói. Bradley Manning é um grande herói. Um homem que viu o que os militares dos EUA faziam no Afeganistão, no Iraque, em Guantánamo, que viu o que o Departamento de Estado fazia pelo mundo... E decide que é indispensável agir, fazer alguma coisa.

Infelizmente, pagará preço muito, muito alto pela sua coragem...

Para que todos entendam, tenho de explicar um pouco como aquilo funciona. Não é como o que se vê nas cortes comuns, quando é possível fazer um acordo com o Procurador, quando há pena máxima e pena mínima, conforme o crime que o acusado escolha confessar. No caso desse tribunal militar as coisas não funcionam desse modo.

Trata-se, nesse caso, do que a juíza chamou de “naked plea” [lit. “admissão nua”(?) (NTs)]. Significa que Bradley apenas decidiu declarar-se culpado nessas nove acusações. Então, a juíza requereu que ele narrasse todos os atos praticados.

Mas essas não são as acusações mais graves. Até aí, só se falou de acusações que, se o acusado for condenado, gerarão pena de 20 anos de prisão. Mas a questão é que o procurador não é obrigado a aceitar coisa alguma. Ele pode dar andamento ao processo e exigir julgamento de todas as demais acusações, as mais graves. Pode até usar elementos do que Bradley Manning confessou ter feito e de como agiu.

E esses desdobramentos é que serão realmente decisivos. Mas o primeiro passo também conta muito. Bradley demonstrou que é homem que faz e assume a responsabilidade pelo que faz. A declaração que leu no tribunal é perfeitamente verossímil, faz perfeito sentido, é crível. De fato, é documento impressionantemente sincero e claro. Pode-se esperar que o juiz seja tocado por aquela fala. Pode-se esperar que a sentença considere que o acusado declarou-se culpado de alguns feitos. Mas não, de modo algum, se declara culpado das acusações que a Procuradoria amontoa contra ele e que podem condená-lo à prisão perpétua. Foi um dia de tribunal realmente impressionante, Paul.

JAY: Muitos disseram que Manning seria homem perturbado, pessoa fraca... Que impressão você teve. De que tipo de homem se trata?

RATNER: Sabe... Vi Manning pela primeira vez na audiência em que ele testemunhou sobre os abusos e a tortura que havia sofrido, durante praticamente um ano, no Iraque e na prisão de Quantico. Já naquele dia, via-se que não é fraco, nem perturbado; é, de fato, muito diferente disso. É homem forte, muito inteligente. Já se via claramente na audiência sobre a tortura e viu-se novamente agora, o mesmo homem.

Em primeiro lugar, é visivelmente pessoa muito inteligente. Não fosse, não teria sido enviado para missão no serviço de computação de alto nível, computadores, informes. É evidente que ele entende do que fazia e fez, em serviço para o qual foi selecionado e nomeado.

Mas também é pessoa que tem personalidade política, que percebe as implicações do que pensa, de como se apresenta. Não é fraco nem é voz fraca.

Num certo momento da audiência, a juíza lhe fez uma pergunta; Bradley respondeu que não poderia responder, porque teria de revelar informação secreta. Muitos riram, porque... ali, sob processo, sob ataque do Promotor, ele ainda pensou mais em proteger informação secreta do que em responder à juíza. Alguns riram. Outros permaneceram sérios. Outros baixaram a cabeça.

Mas é claro que foi dia duríssimo para Bradley Manning... Será sentenciado a pena muito longa. Esperemos que não receba a pior sentença. Esperemos que considerem essas acusações nas quais ele declarou-se culpado.

Ainda se deve registrar aquela declaração lida, umas 35 páginas, que não foram distribuídas a ninguém, nem a advogados nem a jornalistas presentes. Só a juíza recebeu o documento. Mas havia cópias circulando entre aqueles caras que andavam por ali, no salão, em uniforme de camuflagem. Nós não recebemos. Evidentemente, não é documento secreto. Eu, como outros, ouvimos a leitura de todo o documento, palavra a palavra; claro que não é secreto. O que há é que essa corte é conhecida por demorar muito, inadmissivelmente demais, para distribuir documentos devidos à defesa.

Já há importante processo iniciado contra essa Corte, pelo Centro [de Direitos Constitucionais]. Já obrigamos essa Corte a liberar alguns documentos devidos à Defesa. Mas a declaração que Manning leu no tribunal é documento muito, muito importante. Todos, jovens, velhos, que leiam aquela declaração hão de sentir-se tocados. Talvez mais gente se disponha a agir, a fazer o que possa, para que esse país seja forçado a andar na direção do estado de direito, na direção do respeito à lei. Para que os EUA deixem de ser a máquina de matar que, me parece, Bradley Manning viu, com clareza, em escandaloso funcionamento.

[Agradecimentos. Fim da entrevista]

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