sexta-feira, 27 de abril de 2012

Dragões neoliberais, sonhos molhados eurasianos e delírios à Robocop

Uma história do mundo BRIC a BRIC
26/4/2012, Pepe Escobar, TomDispatch http://goo.gl/0uPq8

Goldman Sachs – na pessoa do economista Jim O’Neill – inventou o conceito de um novo bloco nascente no planeta: os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul). Os mais cínicos imediatamente traduziram a sigla BRIC como “Bloody Ridiculous Investment Concept” [aprox. “Conceito de Investimento MUITO Ridículo”].

Nada tinha de ridículo. O mesmo Goldman estima que, em 2050, os países BRICS serão responsáveis por quase 40% do Produto Interno Bruto (PIB) global, e lá estarão reunidas quatro das cinco maiores economias mundiais.
[1]

De fato, a sigla terá de ser expandida para incluir Turquia, Indonésia, Coreia do Sul e, sim, sim, também o Irã nuclear. Talvez BRIIICTSS? Apesar de todos os problemas de nação que vive sob sítio econômico[2], o Irã também vai abrindo caminho no grupo N-11, outro conceito prospectivo já circulante. (N-11, ‘Next-11’ [‘Próximos’-11] são as 11 economias que se estima que se tornarão emergentes em futuro próximo.)

A pergunta de multitrilhões de dólares continua no ar: a emergência dos BRICS é sinal de que realmente entramos num novo mundo multipolar?

Paul Kennedy, esperto historiador de Yale (famoso pela “superextensão imperial das Grandes Potências”
[3]) está convencido de que ou estamos bem próximos de atravessar ou já atravessamos uma “catarata histórica”[4] que nos levou até bem além do mundo unipolar pós-Guerra Fria da “única superpotência”. Há, diz Kennedy, quatro razões para isso: a lenta erosão do dólar norte-americano (antes, 85% das reservas globais; hoje, menos de 60%); a “paralisia do projeto europeu”; a ascensão da Ásia (o fim de 500 anos de hegemonia ocidental); e a decrepitude da ONU.

O Grupo dos Oito (G-8) já é cada dia mais irrelevante. O G-20, no qual se incluem os BRICS, podem ainda vir a revelar-se importantíssimos. Mas há muito a fazer para cruzar a tal “catarata histórica”, além de simplesmente deixar-se sugar inapelavelmente para dentro de grupos: é preciso reformar o Conselho de Segurança da ONU e, sobretudo, é preciso reformar o sistema de Bretton Woods, com especial atenção a duas de suas instituições cruciais: o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.

Por outro lado, é possível que o jeito do mundo seja mesmo o vai-que-vai queira-ou-não-queira. Afinal, como superpotências emergentes, os BRICS têm uma tonelada de problemas. Sim, só nos últimos sete anos, o Brasil acrescentou 40 milhões de pessoas
[5] ao mercado de consumo de classe média; até 2016, terão sido investidos outros $900 bilhões – mais de 1/3 do PIB – em energia e infraestrutura; e o Brasil não está tão exposto quantos outros países BRICS ao imponderável comércio mundial, dado que as exportações não passam de 11% do PIB, menos, até, que nos EUA.

Apesar de tudo isso, há problemas-chave que não mudam: falta de melhor administração, para nem falar no pântano da corrupção. Os jovens neoendinheirados brasileiros não dão qualquer sinal de serem menos corruptos que as velhas e arrogantes elites comprador que governavam o país.

Na Índia, a opção parece estar entre caos administrável e caos não administrável. A corrupção entre a elite política do país faria Shiva corar de orgulho. Abuso do poder estatal, controle nepotista sobre os contratos relacionados à infraestrutura, saque desabrido de recursos minerais, escândalos em grandes negócios imobiliários envolvendo patrimônio público – de tudo há muito, mesmo que a Índia não seja um Paquistão hindu. Não, pelo menos, até agora.

Desde 1991, “reforma” na Índia só significa uma coisa: comércio desenfreado e afastar o estado, da economia. Não surpreende pois que nada se faça para reformar as instituições públicas que são, elas mesmas, um escândalo. Administração pública eficiente? Nem pensar! Em resumo, a Índia é um motor econômico caótico e, em certo sentido, ainda não é sequer potência emergente; muito menos é superpotência.

A Rússia, também, ainda tenta encontrar a poção mágica, inclusive uma política de estado capaz de explorar a abundante riqueza dos recursos naturais, o território/espaço extraordinários e o impressionante talento social que lá se acumulou. A Rússia tem de modernizar-se rapidamente; exceto em Moscou e São Petersburgo, no resto do país prevalece um relativo atraso social. Os líderes russos ainda não se sentem confortáveis com a China na vizinhança (conscientes de que em qualquer aliança sino-russa, a Rússia será sempre o primo visivelmente mais pobre); e tampouco confiam em Washington. Estão ansiosos com a despopulação dos territórios orientais e preocupados com a alienação religiosa de suas populações muçulmanas.

E eis que entra em cena novamente o Putinator-presidente
[6], com sua fórmula mágica para a modernização: uma parceria estratégica Alemanha-Rússia que beneficiará a elite do poder/oligarquia dos negócios, mas não, necessariamente, a maioria dos russos.

Dead in the Woods [Morto no bosque]

O sistema Bretton Woods, criado depois da II Guerra Mundial, já está oficialmente morto, é totalmente ilegítimo, mas... O que os BRICS planejam fazer em relação a ele?

Na reunião em New Delhi no final de março, trabalharam para criar um banco de desenvolvimento dos BRICS
[7] que possa investir em infraestrutura e garantir-lhes crédito para enfrentar as crises financeiras que surjam no percurso. Os BRICS sabem perfeitamente bem que Washington e a União Europeia (UE) de modo algum aliviará o controle que exercem através do FMI e do Banco Mundial. Apesar de tudo, o comércio entre esses países alcançará impressionantes $500 bilhões em 2015, quase todo em suas próprias moedas.

Mas a coesão entre os BRICS, ou, no mínimo, a coesão que exista, centra-se principalmente na frustração, que todos partilham, com a especulação financeira à moda dos Mestres do Universo, que por um triz não jogou pelo penhasco a economia global, em 2008. Sim, os BRICS também mostram notável convergência de políticas e opiniões no que tenha a ver com o Irã, com um Oriente Médio desabrochado em primavera árabe e com o norte da África. No momento, o problema-chave que os BRICS enfrentam é o seguinte: não têm qualquer alternativa ideológica ou institucional ao neoliberalismo nem ao reinado da finança global.

Como Vijay Prashad observou, o Norte Global fez tudo para impedir
[8] qualquer discussão séria sobre como reformar o cassino financeiro global. Não por acaso, o presidente do G-77, grupo de nações em desenvolvimento (de fato, já é G-132), embaixador tailandês Pisnau Chanvitan, alertou contra “comportamento que parece indicar um desejo de ver nascer um novo neocolonialismo.”[9]

Mas as coisas acontecem, mesmo assim, é à moda-diabo. A China, por exemplo, continua a promover informalmente o yuan como moeda globalizante, se não global. Já comercia em yuan com a Rússia e a Austrália, para nem falar de América Latina e Oriente Médio. Cada vez mais, os BRICS apostam no yuan como alternativa monetária a um dólar norte-americano desvalorizado.

O Japão está usando ambas as moedas, iene e yuan, no comércio bilateral com os vizinhos asiáticos gigantes. O fato é que já está em formação uma zona asiática não reconhecida de livre comércio, com China, Japão e Coreia do Sul já a bordo.

O que virá, ainda que inclua futuro brilhante para os BRICS, será sem dúvida muito confuso.
[10] Praticamente, quase tudo é possível: de outra Grande Recessão nos EUA à estagnação na Europa ou, até, o colapso da eurozona; incluindo BRICS mais lentos, tempestades no mercado monetário, colapso das instituições financeiras e quebradeira global.

E por falar em confusão, não se pode esquecer o que disse Dick Cheney, quando ainda era presidente da Halliburton, no Instituto do Petróleo em Londres, em 1999: “O Oriente Médio, com dois terços do petróleo do mundo e custo mais baixo, ainda é, em todos os casos, onde está o prêmio.”
[11] Não surpreende que, ao chegar ao poder como vice-presidente em 2001, sua primeira providência tenha sido ordenar a “libertação” do petróleo iraquiano. Claro. Todos sabem como o negócio acabou.

Hoje (governo diferente, mas idêntica linha de trabalho), é embargo-de-petróleo-cum-guerra-econômica contra o Irã. A liderança em Pequim vê o psicodrama “Washington contra o Irã” como golpe, puro e simples, para mudança de regime, sem nenhuma relação com armas atômicas. Aí também, mais uma vez, o vencedor do imbróglio do Irã é a China. Com o sistema bancário iraniano em crise, e o embargo norte-americano infernizando a vida econômica naquele país, Pequim pode, literalmente, ditar os temos, na compra de petróleo iraniano.

Os chineses estão ampliando a frota iraniana de navios-petroleiros, negócio de mais de $1 bilhão de dólares, e outro gigante-BRIC, a Índia, já está comprando, até, mais petróleo do Irã, que a China. Mas Washington não aplicará sanções aos países BRICS porque, nesses tempos, economicamente falando, os EUA precisam mais dos BRICS, que os BRICS, dos EUA.

O mundo visto por olhos chineses

O que nos traz de volta ao dragão na sala: a China.

Qual é a obsessão radical dos chineses? Estabilidade, estabilidade, estabilidade.

A autoapresentação usual do sistema por lá, em termos de “socialismo com características chinesas” é, evidentemente, mais mítica que as Górgonas. De fato, a coisa está mais para neoliberalismo linha-dura com características chinesas, comandado por homens determinados a salvar o capitalismo global.
[12]

Atualmente, a China está presa no meio de um movimento estrutural, tectônico, de transição, de um modelo de exportação/investimentos, para um modelo puxado por serviços/consumidores. Em termos do explosivo crescimento econômico, as últimas décadas foram quase inimagináveis para muitos chineses (e o resto do mundo), mas, segundo o Financial Times, puseram o 1% mais rico do país no controle de 40-60% de toda a riqueza doméstica. Como encontrar meio para superar tamanho, tão aterrador, dano colateral? Como conseguir que um sistema que tem embutidos tantos e tais problemas funcione para 1,3 bilhão de pessoas?

É onde entra em cena a “estabilidade-mania”. Em 2007, o primeiro-ministro Wen Jiabao alertava que a economia chinesa poderia tornar-se “não estável, não equilibrada, não coordenada e não sustentável”. Os famosos “Quatro Nãos”.
[13]

Hoje, a liderança coletiva, incluído o próximo primeiro-ministro Li Leqiang, está dando um tenso passo adiante, expurgando a “instabilidade” do léxico do Partido. Para todas as finalidades práticas, a próxima fase no desenvolvimento chinês já está em andamento.

Será espetáculo digno de observar-se nos anos próximos.

Como os ‘príncipes coroados’ nominalmente “comunistas” – os filhos e filhas dos principais líderes revolucionários do partido, todos imensamente ricos, graças, em parte, a arranjos amigáveis com corporações ocidentais, além de propinas, alianças com gângsteres, todas aquelas “concessões” a quem der mais e às ligações com a oligarquia capitalista crônica ocidental – levarão a China além das “Quatro Modernizações”?
[14] Sobretudo, com toda aquela fabulosa riqueza a saquear.

O governo Obama, manifestando a própria ansiedade, respondeu à visível emergência da China como potência a ser reconhecida, com um “pivô estratégico”
[15] – das desastradas guerras no Oriente Médio Expandido, à Ásia. O Pentágono gosta de chamar isso de “reequilibração”[16] (por mais que as coisas andem super desequilibradas e até pior que isso, para os EUA, no Oriente Médio).

Antes do 11/9, o governo Bush focara-se na China como seu futuro inimigo global número 1. Então, o 11/9 redirecionou as coisas para o que o Pentágono chamou de “o arco de instabilidade”, o coração petrolífico do planeta, que vai do Oriente Médio à Ásia Central. Dado que Washington estava distraída, Pequim calculou que gozaria da vantagem de uma janela de praticamente duas décadas, quando a pressão estaria aliviada. Nesses anos, poderia concentrar-se numa versão hiperveloz de desenvolvimento interno, enquanto os EUA desperdiçariam montanhas de dinheiro naquela tresloucada “Guerra Global ao Terror”.

12 anos depois, a tal janela está sendo fechada com uma batida, quando, da Índia, Austrália, Filipinas à Coreia do Sul e Japão, os EUA declaram-se de volta ao business da hegemonia na Ásia. Qualquer dúvida de que essa seria a nova trilha dos EUA foi dissipada pela secretária de Estado Hillary Clinton, em manifesto publicado em novembro de 2011 na revista Foreign Policy, sob o título nada sutil de “America’s Pacific Century”.
[17] (E falava desse século, não do século passado!)

O mantra dos EUA não muda: “segurança dos EUA” e, por definição, aconteça o que acontecer no planeta. Seja no Golfo Persa rico em petróleo, onde Washington “ajuda” os aliados Israel e Arábia Saudita, porque se sentem ameaçados pelo Irã, seja na Ásia onde ajuda semelhante é oferecida a corpo sempre crescente de países que dizem sentir-se ameaçados pela China, tudo é feito, sempre, em nome da segurança dos EUA. Num caso e noutro, em absolutamente todos os casos, essa ideia sobrepuja qualquer outra.

Como resultado, se há uma Muralha de Suspeitas de 33 anos a separar EUA e Irã, há hoje, crescendo, uma Grande Muralha de Suspeitas entre EUA e China. Recentemente, Wang Jisi, deão da Escola de Estudos Internacionais da Universidade de Pequim e um dos principais analistas chineses de estratégia, expôs a visão da liderança em Pequim sobre o tal “Pacific Century”, em artigo importante, em que figura como coautor
[18].

A China, dizem os dois autores, espera agora ser tratada como potência de primeira classe. Afinal de contas, “navegou em segurança (...) pela crise financeira global de 1997-98”, provocada, aos olhos de Pequim, por “deficiências profundas na economia e na política dos EUA. A China ultrapassou o Japão como segunda economia mundial e parece ser também a n. 2 na política mundial. (...) Os líderes chineses não creditam esses sucessos aos EUA ou à ordem mundial liderada pelos EUA.”

Os EUA, Wang acrescenta, “são vistos na China em geral como potência declinante no longo prazo (...). É hoje questão de quantos anos, já não de quantas décadas, até que a China ultrapasse os EUA como a maior economia do mundo (...) e parte de uma nova estrutura emergente” (leia-se: os BRICS.)

Em resumo, como Wang e seu coautor pintam o quadro, os chineses influentes veem o modelo de desenvolvimento de seu país como “uma alternativa à democracia e como experiência da qual outros países em desenvolvimento podem aprender, ao passo que tantos países em desenvolvimento que introduziram valores e sistemas políticos ocidentais conhecem hoje a desordem e o caos”.

Quer dizer: os chineses estão vendo um mundo no qual os EUA no ocaso ainda anseiam pela hegemonia global e ainda têm energia para bloquear potências emergentes – a China e os outros BRICS – e impedir que alcancem seu destino de século 21.

O sonho eurasiano molhado do Dr. Zbig

Ora, e como a elite política norte-americana vê esse mesmo mundo? Pode-se dizer que ninguém está mais bem qualificado para discutir esse tema que o ex-conselheiro de segurança nacional, facilitador do oleoduto BTC e, por algum tempo, conselheiro fantasma de Obama, Dr. Zbigniew (“Zbig”) Brzezinski. E ele não hesita em atacar a questão em seu livro mais recente, Strategic Vision: America and the Crisis of Global Power
[19].

Se os chineses mantêm o olhar estratégico sobre as outras nações BRICS, o Dr. Zbig permanece fixado no Velho Mundo, configurado para parecer novo. Agora, argumenta que, para que os EUA preservem alguma forma de hegemonia global, devem apostar num “Oriente expandido”. Significaria reforçar os europeus (sobretudo em termos de energia) ao mesmo tempo em que abraça a Turquia, que ele imagina como molde para novas democracias árabes; e engaja a Rússia, politicamente e economicamente, de modo “estrategicamente prudente e sóbrio.”

A Turquia, por falar dela, nada tem de modelar, porque, apesar da Primavera Árabe, não se vê, no futuro perscrutável, nenhuma nova democracia árabe. Mesmo assim, Zbig crê que a Turquia possa ajudar a Europa e, portanto, os EUA, por vias muito mais práticas, a resolver determinados problemas de energia global, facilitando “acesso desimpediu através do Mar Cáspio até o gás e o petróleo da Ásia Central.”

Sob as atuais circunstâncias, porém, isso, também, continua a ser pura fantasia. De fato, a Turquia só poderá ser país de trânsito no grande jogo da energia no tabuleiro eurasiano que há muito tempo chamo de Oleo-gasodutostão [orig. Pipelineistan
[20]], se os europeus conseguirem agir em conjunto. Terão de convencer a energeticamente rica e autocrática “república” do Turcomenistão[21] a ignorar sua poderosa vizinha, a Rússia, para vender à Europa o gás natural de que a Europa carece. E há também outra questão de energia cuja solução parece bem pouco provável atualmente: Washington e Bruxelas terão de superar as sanções e embargos[22] contraproducentes contra o Irã (e os jogos de guerra que vêm no mesmo pacote) e começar a negociar com seriedade com os iranianos.

Pois mesmo assim o Dr. Zbig propõe a ideia de uma Europa em segunda-marcha, como chave para o futuro poder dos EUA sobre o planeta. Visualizem o quadro como versão animada de um cenário no qual a atual eurozona está em semicolapso. Zbig preserva o papel de liderança da burocracia inepta dos gatos gordos de Bruxelas que hoje governam a União Europeia, e apoia uma outra “Europa” (principalmente os países do “Club Med” do sul) fora do euro, com movimentação nominalmente livre de bens e pessoas entre as duas. Ele aposta – e nisso reflete um traço chave do pensamento de Washington – em que uma Europa em segunda-marcha, um Big Mac eurasiano, ainda colado pelo quadril aos EUA, mesmo assim possa ser ator globalmente decisivo para o resto do século 21.

E então, é claro, o Dr. Zbig exibe todas as suas cores de guerreiro da Guerra Fria, louvando uma “estabilidade” norte-americana futura “no Extremo Oriente” inspirada no “papel que a Grã-Bretanha desempenhou no século 19 como equilibradora e estabilizadora da Europa”. Estamos falando, em outras palavras, sobre o diplomata armado número um desse século. Ele concede, graciosamente, que “uma parceria global ampla EUA-China” seja ainda possível, mas só no caso de Washington conservar significativa presença geopolítica no que chama de “Extremo Oriente” –, “a China aprove ou não”.

A China não aprovará

Em certo sentido, tudo isso é conversa já conhecida, como também grande parte da atual política de Washington. Nesse caso, é, mesmo, versão remix de seu magnum opus de 1997, The Grand Chessboard
[23] [O grande tabuleiro de xadrez], no qual mais uma vez certifica que “o vasto continente Transeurasiano é a arena central dos negócios mundiais.” Só que agora a realidade ensinou-lhe que a Eurásia não pode ser conquistada e que a melhor chance dos EUA e tentar trazer Turquia e Rússia para seu lado.

O Robocop é quem manda

De fato, Brzezinski soa benigno, se se compara o que diz ele e o que Hillary Clinton tem dito em pronunciamentos recentes, inclusive o que disse
[24] à Conferência cujo nome já dá nó na língua World Affairs Council 2012 NATO Conference [Conferência do Conselho de Negócios Mundiais da OTAN 2012]. Ali, como faz regularmente o governo Obama, ela destacou “o duradouro relacionamento da OTAN com o Afeganistão” e elogiou as negociações entre EUA e Kabul, com vistas a “uma parceria estratégica de longo prazo entre nossas duas nações.”

Tradução: apesar de não conseguirem dar conta nem de uma guerrilha de pashtuns minoritários, e apesar de tentarem há anos, nem o Pentágono nem a OTAN têm qualquer intenção de reequilibrar qualquer de suas possessões no Oriente Médio Expandido. Já negociando
[25] com o governo do presidente Hamid Karzai em Kabul por direitos de permanência até 2024, os EUA estão decididos a manter três grandes bases estratégicas afegãs[26]: Bagram, Shindand (próxima da fronteira com o Irã) e Kandahar (próxima da fronteira com o Paquistão). Só espíritos terminalmente ingênuos considerariam o Pentágono capaz de abandonar voluntariamente esses postos preciosos para monitorar a Ásia Central e os concorrentes estratégicos Rússia e China.

A OTAN, Clinton acrescentou em tom sinistro, “expandirá suas capacidades de defesa para o século 21”, incluindo o sistema de mísseis de defesa que a aliança aprovou na reunião de Lisboa em 2010.

Será fascinante ver o que pode significar a possível eleição do socialista François Hollande à presidência da França. Interessado em uma parceria estratégica mais profunda com os BRICS, Hollande comprometeu-se com o fim do dólar norte-americano como moeda mundial de reserva. A questão é: a vitória de Hollande será como meter um macaco na loja de porcelana dos trabalhos da OTAN, depois dos anos de governo do Grande Libertador da Líbia, esse neonapoleônico criador de cenas Nicolas Sarkozy (para quem a França nada é além de mostarda no steak tartar de Washington).

Não importa o que pensem o Dr. Zbig ou Hillary, muitos países europeus, fartos das aventuras de buraco negro dos dois no Afeganistão e na Líbia, e com o modo como a OTAN agora só serve aos interesses globais dos EUA, apoiam Hollande nesse ponto. Mesmo assim, será batalha morro acima, dificílima. A derrubada de Muammar Gaddafi e a destruição do regime líbio foi o ponto alto da agenda recente da OTAN no MENA (Middle East-Northern Africa [Oriente Médio-Norte da África]). E a OTAN continua a ser o plano B de Washington para o futuro, se a rede de sempre de think tanks, fundos, fundações, dotações, ONGs e mesmo a ONU não conseguir provocar o que bem se pode descrever como “mudança YouTube de regime”.

Em resumo: depois de ir à guerra em três continentes (na Iugoslávia, no Afeganistão e na Líbia), convertendo o Mediterrâneo em virtual lago da OTAN, e patrulhar sem descanso o Mar da Arábia, a OTAN estará, segundo Hillary, “apostando na liderança e na força dos EUA, exatamente como fizemos no século 20, também para o século 21 e adiante.” Assim sendo, 21 anos depois do fim da União Soviética – razão de ser original da OTAN –, parece que o mundo acaba assim: não num bang, mas com a OTAN, operando em modo de gemido, fazendo as vezes de Robocop global perpétuo.

Voltamos outra vez ao Dr. Zbig e à ideia dos EUA como “promotor e garantidor de unidade” no ocidente, tanto quanto como “equilibrador e conciliador” no Oriente (razão pela qual precisa de bases militares, do Golfo Persa
[27] ao Japão[28], incluindo as bases no Afeganistão[29]). E ninguém esqueça que o Pentágono jamais desistiu da ideia de alcançar Dominação de Pleno Espectro.

Ante toda essa potência militar, porém, vale a pena ter em mente que esse é caracterizadamente um Novo Mundo (também na América do Norte). Contra armas e barcos armados, contra mísseis e drones, há o poder econômico. As guerras de moedas estão ativadas. Rússia e China, países BRICS, têm cordilheiras de dinheiro. A América do Sul está rapidamente se organizando em bloco. O Putinator-presidente já ofereceu ou oleoduto à Coreia do Sul. O Irã planeja vender seus petróleo e gás em troca de uma cesta de moedas, nenhuma das quais será o dólar. A China está pagando para expandir
[30] sua Marinha mercante e os mísseis terra-mar. Um dia, Tóquio talvez afinal entenda que, enquanto permanecer ocupada por Wall Street e pelo Pentágono, viverá sob recessão perpétua. E até a Austrália pode, eventualmente, não se deixar empurrar para uma guerra comercial contraproducente, contra a China.

Assim, esse nosso mundo do século 21 está tomando o formato, em vasta medida, de um confronto entre EUA/OTAN e os BRICS, com casca e tudo, dos dois lados. Perigo: que em algum ponto da linha a coisa vire Confronto de Pleno Espectro. Porque – e que ninguém se engane –, diferentes de Saddam Hussein ou Muammar Gaddafi, os BRICS sim, podem reagir ao fogo.

[1] Ver http://www.goldmansachs.com/our-thinking/brics/brics-reports-pdfs/long-term-outlook.pdf

[2] “O mito do Irã ‘isolado’”, Pepe Escobar, 18/1/2012, em http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2012/01/pepe-escobar-o-mito-do-ira-isolado.html

[3] A expressão “imperial overstretch of the Great Powers” [aprox. ‘superextensão imperial das Grandes Potências] apareceu em 1987, no livro The Rise ang Fall of the Great Powers [KENNEDY, Paul. Ascensão e Queda das Grandes Potências: Transformação Econômica e Conflito Militar de 1500 a 2000. Rio de Janeiro: Campus, 1989. 675 p.], para descrever o contexto em que as principais nações do mundo dão-se conta de que suas capacidades políticas, econômicas e militares são inadequadas para proteger e atender seus respectivos interesses e obrigações globais (mais em http://www.answers.com/topic/imperial-overstretch-2#ixzz1tAFflDpy [NTs]).[4] Em http://www.nytimes.com/2011/10/26/opinion/26iht-edkennedy26.html?_r=1

[5] Em http://www.global-briefing.org/2012/04/brazil-showcases-economic-potential/

[6] Em http://www.economist.com/node/21548949

[7] Em http://en.ria.ru/business/20120328/172443631.html
[8] Em http://www.atimes.com/atimes/Asian_Economy/ND11Dk01.html
[9] Em http://www.atimes.com/atimes/Global_Economy/ND17Dj06.html

[10] Em http://www.leap2020.eu/GEAB-N-63-Contents_a9602.html

[11] Em http://www.energybulletin.net/node/559

[12] Em http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2011/09/pepe-escobar-o-ocidente-e-o-resto-em.html
[13] Em http://mba.yale.edu/news_events/CMS/Articles/7337.shtml
[14] Parte do programa de Deng Xiaoping para a República Popular: a modernização da agricultura, da indústria, da ciência e tecnologia e das forças militares (em http://cscs.umich.edu/~crshalizi/T4PM/four-modernizations.html).[15] Em http://www.tomdispatch.com/blog/175476/tomgram:_michael_klare,_a_new_cold_war_in_asia/

[16] Em http://news.xinhuanet.com/english/indepth/2011-12/23/c_131323762.htm

[17] Em http://www.foreignpolicy.com/articles/2011/10/11/americas_pacific_century

[18]Em http://www.brookings.edu/~/media/Files/rc/papers/2012/0330_china_lieberthal/0330_china_lieberthal.pdf

[19] BRZEZINSKI, Zbigniew, (jan.) 2012, Strategic Vision: America and the Crisis of Global Power, New York: Basic Books. Lê-se um excerto da Introdução em http://www.huffingtonpost.com/zbigniew-brzezinski/strategic-vision_b_1242976.html

[20] Em http://www.tomdispatch.com/post/175123/ira_chernus_cold_war_s_ghost_blocks_mideast_peace

[21] Em http://www.tomdispatch.com/post/175071/pepe_escobar_pipelineistan_goes_af_pak

[22] Em http://www.tomdispatch.com/archive/175528/

[23] BRZEZINSKI, Zbigniew, The Grand Chessboard: American Primacy and Its Geostrategic Imperatives, Basic Books, 1997.[24] Em http://www.state.gov/secretary/rm/2012/04/187392.htm

[25] Em http://www.nytimes.com/2012/04/23/world/asia/us-and-afghanistan-reach-partnership-agreement.html

[26] Em http://www.wired.com/dangerroom/2012/04/afghanistan-pact/#more-78978

[27] Em http://www.tomdispatch.com/blog/175321/tomgram:_nick_turse,_off-base_america__

[28] Em http://www.tomdispatch.com/blog/175214/tomgram:_john_feffer,_can_japan_say_no_to_washington/

[29] Em http://www.tomdispatch.com/archive/175204/nick_turse_america's_shadowy_baseworld

[30] Em http://online.wsj.com/article/SB10001424052970204397704577074631582060996.html

quarta-feira, 25 de abril de 2012

A Arma Secreta de Israel

O mundo exige tudo do Irã e nada de Israel!
Documentário: A Arma Secreta de Israel


Para ver clique no link abaixo:


A Arma Secreta de Israel é um documentário realizado pela BBC em 2003, que conta a história de Mordechai Vanunu, o denunciante das armas nucleares israelenses, que foi sentenciado a 18 anos de prisão pelo seu governo, dos quais 11 foram passados em isolamento. Veja o documentário, com legendas em português.

Tendo sido transmitido pela primeira vez em 2003, poucos dias antes do início guerra do Iraque, este é um importante documentário que nos mostra como a suposta “única democracia do Oriente Médio”, raptou um dos seus cidadãos em solo estrangeiro, tendo depois julgado-o secretamente, por este ter revelado ao mundo aquilo que já se suspeitava: que Israel tem um programa nuclear bastante avançado, calculando-se que o país possui um arsenal nuclear com cerca de 100 a 200 bombas atômicas, as quais, nunca foram inspecionadas pela comunidade internacional.

Este é um dos poucos documentários realizados sobre o assunto e que nos revela também o secretismo existente na sociedade israelense em todos os seus setores.

Um documentário bastante atual. Basta para isso, trocar a então situação do Iraque com a atual situação do Irã, para verificarmos que a retórica usada é mesma. Dois pesos e duas medidas.

O mundo exige tudo do Irã e nada de Israel.
Título Original: Israel's Secret Weapon, 2003, (44 minutos)
Realização: Olenka Frenkiel, BBC.
Tradução e legendas: Malandro (Português)
Fundamental! - Sinopse de Malandro



Fonte: Redecastorphoto


"Hoje, 200 milhões de crianças vão dormir nas ruas das grandes cidades do mundo. Nenhuma delas é cubana!"




terça-feira, 24 de abril de 2012

Síntese dos TELEJORNAIS

DILMA NO NORDESTE: combate à seca – O Jornal da Band disse que “a presidente Dilma Rousseff se reuniu hoje com governadores do Nordeste para discutir o problema da seca. O fenômeno atinge 600 cidades na região. Mais de 200 estão em estado de emergência. sertão é uma das regiões que mais sofrem com a falta de chuvas. Reportagem destacou a situação no Ceará onde “abril está sendo o mais crítico, as chuvas estão 70% abaixo da média” e no interior Rio Grande do Norte “a situação não é diferente. Quem não pode pagar água tem que recorrer aos carros-pipas, distribuídos gratuitamente pelo estado. (...) A presidente Dilma Rousseff declarou: “Nós pretendemos não deixar que a seca devaste tudo o que conquistamos nos últimos anos, de crescimento, de melhoria de vida, de condições de sobrevivência no semiárido nordestino”. Sem mostrar o discurso da presidenta, o Repórter Brasil disse que a presidenta Dilma Rousseff foi a Sergipe para se encontrar com os governadores da região e anunciou a liberação de R$ 2,7 bilhões.  Segundo a reportagem, “o pacote de ajuda tem seis medidas: ampliação do abastecimento por carros-pipa, aumento do Programa Água Para Todos, recuperação de 2.400 poços artesianos, ampliação do Programa Garantia Safra, criação do Bolsa Estiagem, que prevê o pagamento de R$ 400 para agricultores familiares e a liberação de créditos emergenciais com limite de financiamentos de 12 mil para pequenos agricultores e de até cem mil para médios e grandes produtores. O ministro da Integração Fernando Bezerra disse que essas ações trabalham em duas direções: as emergenciais que é colocar água para não faltar água para o consumo humano e para a dessendentação (sic) de animais no sentido de a gente minimizar a perda dos rebanhos. Estamos, por outro lado, reforçando ações estruturantes para que a gente possa gerar emprego”. Dados do Ministério da Ciência e Tecnologia mostram que a seca deve atingir 1.100 municípios nos próximos seis meses. Doze milhões de pessoas devem sofrer com a falta de água. Comitês estaduais serão criados para acompanhar a implantação das medidas e a aplicação dos recursos. O Jornal Nacional anunciou a nova reportagem no JN no Ar no sertão baiano e disse que “o problema é tão grave que hoje a presidente Dilma Rousseff anunciou, em Sergipe, a liberação de R$ 2,7 bilhões para medidas emergenciais, como a criação, por medida provisória, do Bolsa Estiagem, de R$ 400, parcelados em cinco vezes”. Sbt e Record ignoraram o assunto.
CPI DO CACHOEIRA: instalação na 4ª feira – O Jornal Nacional disse que no mesmo dia em que o senador Demostenes entrega sua defesa ao Conselho de Ética do Senado, deve ser instalada a CPI que vai investigar a relação de Carlinhos Cachoeira com políticos e empresas. Dos 16 integrantes do Senado, apenas cinco são conhecidos, entre eles o presidente da CPI, Vital do Rêgo (PMDB-PB). Na Câmara, só o PT não indicou seus nomes. São três deputados, e um deles será o relator da comissão. Nesta 2ª feira, o líder do partido disse que há muitos candidatos e que, por isso, a definição ainda não saiu”. Jilmar Tatto disse que “tem um conjunto de companheiros do PT que estão à disposição para cumprir a função nessa CPI. Não tem disputa, tem, eu diria, opiniões diferenciadas, de perfil, mas não é disputa”. O Jornal da Band destacou que “a comissão terá seis meses para concluir as investigações. Mas esse prazo pode ser prorrogado por mais tempo”. O senador Valdir Raupp (PMDB-RO) avaliou que “essa poderá ser uma das CPIs mais sangrentas da história do Congresso Nacional”. No Sbt Brasil, Carlos Chagas lembrou que “uma CPI não julga, não cassa mandatos, não manda ninguém para a cadeia, apenas investiga e repassa seu relatório ao Ministério Público (...)”.
Foco na Oposição – Segundo o Jornal da Band, o PT “já deixou claro que tentará ligar o bicheiro Carlos Cachoeira aos políticos da oposição”. Jilmar Tatto disse que “o envolvimento de membros importantes da oposição, até nesse momento, é bastante significativo. Quer dizer, o envolvimento do Marconi Perillo, do governador do PSDB em Goiás, parece que é sério, assim como do senador do DEM, Demóstenes Torres”. O Jornal da Record mostrou a mesma declaração destacando que “para o líder petista, desta vez, a CPI é ruim para a oposição”. 
Foco no Governo – O Jornal da Band disse que “para o PSDB, a ordem é investigar as relações do governo federal com a construtora Delta, que recebeu quase R$ 4 bilhões do governo petista. Mais da metade dos contratos da empresa com o governo federal receberam aditivos que somam R$ 436 milhões”. O senador Álvaro Dias apareceu questionando: “Quem determinava que esses aditivos fossem concedidos? Que ministro? Dos Transportes, Planejamento, da Casa Civil, ou a Presidência da República? Quem determinava esses aditivos?” O Jornal da Record destacou que “com apenas sete das 32 vagas na comissão, a oposição tenta uma estratégia para acuar o governo, quer uma devassa nas contas da Empreiteira Delta que está nas obras do PAC. Mas o Planalto se antecipa, a Controladoria Geral da União vai investigar os contratos da empresa com o governo federal. A disputa política pode afetar a apuração da CPI”. Sem mencionar a briga politica dentro da CPI, o Jornal Nacional deu a informação de que a CGU abriu uma investigação sobre denúncias de irregularidades em contratos da construtora Delta com o governo federal e que “o ministro-chefe da CGU, Jorge Hage, afirmou que as gravações que vêm sendo divulgadas pela imprensa contêm indícios de crimes, como pagamento de propina, corrupção e tráfico de influência”. Reportagem lembrou que “em 2010, uma operação da Polícia Federal no Ceará, denominada Mão Dupla, prendeu servidores do DNIT e funcionários da Delta, suspeitos de desvio de recursos de obras públicas. A Delta pode ser declarada inidônea, ou seja, ficará impedida de assinar contratos com órgãos públicos e terá seus contratos com o governo federal suspensos”. O Repórter Brasil deu a informação em nota.
NOVO CODIGO PENAL: enriquecimento ilícito O Jornal Nacional deu em nota que a comissão de juristas criada pelo Senado para discutir mudanças no Código Penal aprovou hoje uma proposta que criminaliza o enriquecimento ilícito. Pelo projeto, político, juiz ou funcionário público que não conseguir comprovar a origem de bens, ou de dinheiro, responderá na Justiça por crime contra a administração pública. Os juristas propõem pena de um a cinco anos de prisão, além do confisco do bem ilegal. A comissão tem até o fim de maio para apresentar um anteprojeto, que terá de ser votado na Câmara e no Senado. 
INCENTIVOS: Guerra dos portos – O Jornal da Band destacou que o Senado vota nesta 3ª.feira uma lei para unificar o imposto cobrado de produtos importados e “deve acabar com a chamada ‘Guerra dos portos’, que prejudica a indústria nacional”. Reportagem mostrou didaticamente como um copo brasileiro paga “19% de ICMS, 12% ao ser fabricado e 7% ao ser distribuído” e um chinês, similar, “entrou no Brasil com apenas 3% de imposto. Só que ao ser distribuído por Goiás, Santa Catarina e Espírito Santo, os estados cobram 7% de ICMS, ou seja, lucro para eles, prejuízo para a indústria nacional”. 
CODIGO FLORESTAL: votação sem acordo – O Jornal da Band disse que na Câmara, as atenções estão voltadas para o Novo Código Florestal. “A atual legislação é de 1960, e segundo os produtores precisa ser atualizada para que o preço dos alimentos continue acessível. O relator promete deixar para a União e para os estados a polêmica sobre a recomposição de áreas desmatadas”.  O relator Paulo Piau explicou que “a União tem que supervisionar e, evidentemente, cobrar dos estados a aplicação da legislação federal. Mas, eu diria, o Brasil está maduro para isso e não há porque temer”.
ECONOMIA: eleição francesa afeta bolsas – Teles mostraram que o presidente Sarkozy ficou em segundo lugar na votação de domingo e vai disputar o segundo turno com o socialista François Hollande. No Jornal da Band, Joelmir Betting disse que “as eleições na França, praticamente no empate técnico para o segundo turno, abalaram as bolsas europeias com quedas de até 3%, hoje. As de Nova York recuaram menos de 1%, a de São Paulo 1,5%. Agora no câmbio, o dólar voltou a subir para R$ 1,88, a maior cotação desde novembro do ano passado”. Na mesma linha, o Jornal Nacional disse que “as propostas de François Hollande para a economia desagradam os investidores. Os números ruins da Espanha e da China também pesaram”.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Experimentar, experimentação

15/4/2012, Judith Revel, Uninomad 2.0
http://uninomade.org/sperimentazione/

Se o tema da “experiência” sempre foi objeto de alentados debates teóricos, e se a palavra é reconhecida como parte do vocabulário da filosofia, a noção de “experimento, experimentação” é por muitos motivos muito menos fácil de usar – salvo quando se refere àquele tipo de interrogação filosófica específica, epistemológica, que analisa os modos de funcionamento e as práticas científicas. Mas o que acontece quando se tenta introduzir uma noção como a de “experimento, experimentação”, na reflexão política?

Para o senso comum, uma política digna do nome é quase sempre o exato oposto do que poderia implicar a experimentação, se a experimentação – bem longe do significado que tem para a pesquisa científica, onde se refere a um eficaz mecanismo de validação e/ou invalidação das hipóteses – é, ao contrário, uma tentativa, uma sondagem, um bricolage. Em resumo: é como o passo incerto de quem avança, tateante, sobre terreno desconhecido, tentando ver melhor até que ponto seria realmente possível aventurar-se.

Por que temos tanta dificuldade para imaginar que a reflexão e a prática política podem ser objeto de experimentação? E, se pudesse acontecer, o que seria, de fato, um experimento, uma experimentação?

Nossa incerteza deriva, provavelmente, do fato de que a experimentação tenha ficado prisioneira de uma velha ideia, em virtude da qual temos sempre de reconhecer nossos limites: para bem agir, é preciso antes de tudo, conhecer; e para conhecer, é preciso ter traçado uma linha de separação entre o que nos foi concedido possuir pela consciência, e o que, ao contrário, de modo algum pode ser posto como objeto.

Quantas vezes consideramos a experimentação como espécie de refugo do que seria “racional” e denunciamos o idealismo, o irrealismo. Fizemos isso em nome de um pragmatismo que logo se converteu em senso comum daquela economia de homens e mulheres que se chama “a arte de governar”. Denunciamos a experimentação como risco inútil, como por em perigo nossas certezas mais necessárias, como a subversão de uma ordem que pré-estabelecemos: por que andar tateando, onde nos podemos apoiar na presença que nos dá segurança, das referências, das linhas, das redes conceituais e dos pontos fixos? Em resumo: fizemos da experimentação o exato oposto do que é geralmente imposto como objeto da política: uma boa gestão das coisas existentes, ou, em outras palavras, uma aceitação baseada nas necessidades do mundo. Demos aos cientistas a tarefa de experimentar no campo da pesquisa fundamental, mas o fizemos de tal modo que nossa existência concreta – ficasse, paradoxalmente, protegida.

A separação das três perguntas: “o que posso conhecer?”, “o que devo fazer?” e “e o que me é dado esperar?”, tão familiares aos leitores de Kant, continua a irrigar o pensamento contemporâneo. Conhecer, agir e esperar implicam três distintos espaços de reflexão. Pois tentemos pensar na direção contrária. Conhecer, agir, esperar: embora não queiramos que se sobreponham, a disjunção entre as três aponta, precisamente, como numa imagem em negativo, a longa via – mas sempre possível – da experimentação política; porque, se a experimentação ainda pode ter algum sentido para a pólis, é exatamente esse: conhecer, agir, esperar, num só gesto; saber, modificar e inventar juntos.

Michel Foucault, no fim da vida, voltou ao sonho louco de fazer valer na nossa vida – quer dizer, tanto na prática da filosofia como nos gestos cotidianos a partir dos quais construímos nossa existência – exatamente essa experimentação. E o fez, num jogo muito irônico, em comentário a um texto de Kant.

Mas não do Kant das três Críticas; e, sim, de um texto em que Kant, fascinado pela incisiva ruptura que representava, na metade dos 700, o pensamento das Luzes, tentava dizer, a seu modo, o que o século estava tentando inventar.

“O que é o Iluminismo?”
[1], o texto kantiano, data de 1784, cinco anos antes da Revolução Francesa. Duzentos anos depois, em 1984, Foucault, leitor de Kant, descobre o enorme valor daquele texto, no momento em que fora escrito: a tentativa de ler, no momento presente, alguma coisa de inaugural e de nova – a Razão chegada afinal à sua maturidade. Mas ele também lerá (e, provavelmente, tanto quanto discerne) a esperança de uma experimentação política, de uma exploração dos possíveis, de um desejo de liberdade selvagem (farouche) além das constrições e das determinações que a época, apesar de tudo, impõe.

Essa experimentação é aquela que o próprio Kant, depois do tumulto de 1789, quase 15 anos depois do primeiro texto, caracterizará como um desejo de revolução, quer dizer, ao mesmo tempo como uma disposição de toda a humanidade e como uma novidade irredutível às determinações históricas nas quais a revolução se dá: “não se esquece de um tal fenômeno na história da humanidade, porque revelou na natureza humana uma tal disposição, uma tal faculdade de progresso, que nenhuma política havia podido, nem com a máxima sutileza, deduzir do curso precedente dos eventos” (I. Kant, O Conflito das faculdades
[2]).

A revolução experimenta, enquanto avança tateante e abre vias inéditas. E quando ocorre de “cair na rotina” – imagem do próprio Kant; e mesmo que derive ou fracasse conscientemente, ainda assim testemunha a potência dos homens e mulheres para inventar, de dentro do próprio mundo.

A experimentação é precisamente esse questionar o campo atual dos possíveis. Bem distante da utopia – que não trabalha por dentro do “já dado” das coisas presentes –, a experimentação tenta a aposta, ao mesmo tempo em que analisa o que é, e tenta sua transformação radical. Não se trata nem de reduzir-se ao mero registro das necessidades sofridas de um mundo, nem de sonhar com outro mundo: trata-se de mudar esse mundo que há.

Uma política da experimentação é portanto a antípoda da renúncia (da qual o pragmatismo não passa, muito frequentemente, de bela máscara). Tampouco tem algo a ver com os sonhos estéreis de volta a um Éden perdido, ou da variante que promete “um futuro risonho” ou um “luminoso porvir” – em resumo, nada tem a ver com horizontes inalcançáveis e por isso sempre voltam.

Se tem de ser posta em prática, essa prática experimental da política “não deduzirá das formas do que somos o que é impossível fazer ou conhecer; mas libertará da contingência o que fez ser o que somos, a possibilidade de não o ser mais – não o fazer mais, não o pensar mais – o que somos, fazemos ou pensamos” (M. Foucault, O que é o Iluminismo?
[3]). Em resumo, é uma atitude nas fronteiras do mundo, que faz de cada homem aquele que, ao mesmo tempo, diagnostica a própria situação, cartografa as próprias determinações e inventa uma diferença possível.

Assim, a política é em grande parte requalificada e pode-se quase usar os termos que Foucault usa a propósito da atitude crítica em Kant, no momento em que a crítica reveste a história: “é preciso não concebê-la como uma teoria, uma doutrina, sequer como um corpo permanente de saber que se acumula; é preciso concebê-la como uma atitude, um ethos, uma vida filosófica na qual a crítica do que somos é a própria análise dos limites postos e a tentativa de sua superação possível”.

A política como experimentação não é outra coisa que esse duplo movimento de busca e de individuação das formas e do estado presente das coisas, por um lado; e, por outro, da invenção de possíveis inéditos. Certo, a experimentação não exclui nem os erros nem os fracassos – mas a simples aceitação do que é sempre nos preserva dos horrores da história, nessa beira do tempo durante o qual, a qualquer momento, homens e mulheres, embora construídos pela história, tornam-se atores da história.

Hoje, a experimentação política está no coração de uma série de realidades, que, cada uma a seu modo, dizem da força da intuição kantiana e confirmam a justeza da análise de Foucault. Posto que a história não é imóvel, a gramática e as instituições políticas da modernidade estão em plena mudança.

Tudo se move: o conceito de cidadania e a realidade material das fronteiras nacionais, a própria representação política como cimento da democracia moderna e as formas “alargadas” da ação política coletiva (partidos e sindicatos), o sentimento de pertencimento e a definição do que chamamos de “esfera pública”, a extensão da governança estatal até espaços que teríamos provavelmente considerado, até há poucos anos, como esfera exclusiva do privado, e a emergência, bem além de qualquer simples divisão entre público e privado, de uma nova qualidade para todos os bens – nem estatais, nem privados, nem públicos, mas comuns.

Há de tudo para ser reinventado, a partir de dentro de um mundo que foi formado por quatro séculos de modernidade e que continua, ainda agora, em grande parte, moderno. Do recente fenômeno dos “indignados”, aos diferentes movimentos Occupy, das experimentações de democracia participativa às mais variadas formas de coletivos – usuários de serviços, moradores de quarteirão, trabalhadores, sem-documentos, sem-teto, sem-terra, defensores do meio ambiente... – e da copropriedade, tudo incita a repensar as vias da ação política: como tomar a palavra, como fazer-se ouvir e como ouvir os outros, como organizar-se, como tomar decisões, como fazer-se entender, como agir, como administrar uma relação de forças.

Por isso é preciso pensar hoje a experimentação: com certeza é um tatear, e muito claramente é um bricolage; mas nunca sem antes, em primeiro lugar, ter analisado
​​localmente, pontualmente, aquilo de que se trata; nunca antes de haver compreendido de que era feito o mundo, para que se possa construir outro.

Desse ponto de vista, a experimentação é o contrário da política como sistema: faz ninho nas pequenas coisas, constrói-se de baixo para cima, ensaia e recomeça, gagueja e aprende, partilha e arrisca-se, corrige-se e reforça-se; e os seus efeitos de realidade são muito menos importantes que aquilo de que a experimentação dá testemunho: o que Foucault chamava, em tom divertido, de “o trabalho indefinido da liberdade”.

* BRUGÈRE, F.; LE BLANC G., Dictionnaire politique à l’usage des gouvernés [Dicionário político para uso dos governados], Paris: Bayard, 2012, 505 pp.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

MAIS UMA (de verdade) DO LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO

Diálogo urbano, no meio de um engarrafamento. Carro a carro.

- É nisso que deu, oito anos de governo Lula. Este caos. Todo o mundo com carro, e todos os carros na rua ao mesmo tempo. Não tem mais hora de pique, agora é pique o dia inteiro. Foram criar a tal nova classe média e o resultado está aí: ninguém consegue mais se mexer. E não é só o trânsito. As lojas estão cheias. Há filas para comprar em toda parte. E vá tentar viajar de avião. Até para o exterior - tudo lotado. Um inferno. Será que não previram isto? Será que ninguém se deu conta dos efeitos que uma distribuição de renda irresponsável teria sobre a população e a economia? Que botar dinheiro na mão das pessoas só criaria esta confusão? Razão tinha quem dizia que um governo do PT seria um desastre, que era melhor emigrar. Quem pode viver em meio a uma euforia assim? E o pior: a nova classe média não sabe consumir. Não está acostumada a comprar certas coisas. Já vi gente apertando secador de cabelo e lepitopi como e fosse manga na feira. É constrangedor. E as ruas estão cheias de motoristas novatos com seu primeiro carro, com acesso ao seu primeiro acelerador e ao seu primeiro delírio de velocidade. O perigo só não é maior porque o trânsito não anda. É por isso que eu sou contra o Lula, contra o que ele e o PT fizeram com este país. Viver no Brasil ficou insuportável.

- A nova classe média nos descaracterizou?

- Exatamente. Nós não éramos assim. Nós nunca fomos assim. Lula acabou com o que tínhamos de mais nosso, que era a pirâmide social. Uma coisa antiga, sólida, estruturada...

- Buuu para o Lula, então?

- Buuu para o Lula!

- E buuu para o Fernando Henrique?

- Buuu para o... Como, "buuu para o Fernando Henrique"?!

- Não é o que estão dizendo? Que tudo que está aí começou com o Fernando Henrique? Que só o que o Lula fez foi continuar o que já tinha sido começado? Que o governo Lula foi irrelevante?

- Sim. Não. Quer dizer...

- Se você concorda que o governo Lula foi apenas o governo Fernando Henrique de barba, está dizendo que o verdadeiro culpado do caos é o Fernando Henrique.

- Claro que não. Se o responsável fosse o Fernando Henrique eu não chamaria de caos, nem seria contra.

- Por quê?

- Porque um é um e o outro é outro, e eu prefiro o outro.

- Então você não acha que Lula foi irrelevante e só continuou o que o Fernando Henrique começou, como dizem os que defendem o Fernando Henrique?

- Acho, mas...

Nesse momento o trânsito começou a andar e o diálogo acabou.

Luis Fernando Verissimo - O Estado de S.Paulo

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Título original - O Dia que durou 21 anos


http://youtu.be/0cY_khg-yLw

Extraordinário Documentário que revela minuciosamente a participação do governo dos Estados Unidos no golpe militar de 1964 que durou até 1985 e instaurou a ditadura no Brasil.