segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Concluí recentemente um documentário independente, “A História Sionista”, na qual apresento, não somente a história do conflito Israel/Palestina, como também a razões centrais do mesmo: a ideologia sionista, seus objetivos  (passados e presentes) e seu total controle, não só da sociedade israelense, como também, e de maneira crescente, da percepção que o mundo ocidental tem do Oriente Médio.

Estes conceitos já foram demonstrados no excelente Documentário “Ocupação 101”, de Abdallah Omeish e Sfyan Omeish, mas em meu documentário utilizo a perspectiva de um israelense, ex-soldado, atualmente na reserva e alguém que passou toda sua vida à sombra do sionismo.

Espero que encontrem um lapso de tempo para assistir “A História Sionista” e, se quiserem/puderem, passar e repassar para outras pessoas.

Este Documentário foi realizado somente por mim, Renen Berelovich, sem nenhum pressuposto, ainda que tenha me esforçado para alcançar elevado nível profissional.
Oxalá esta produção doméstica, abaixo, venha ao encontro dos interesses dos espectadores: Com legendas em português.


Renen Berelovich

25-04-2011

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Bora discutir Belo Monte sem falcatrua?

Novembro 22nd, 2011   (No views ) 
Ok, vamos discutir Belo Monte? Mas que tal fazermos isso com base em dados reais? Sim, porque qualquer discussão baseada em suposições, falseamento, mentiras, não vai levar a lugar algum. Só vai desvirtuar o debate e promover mais ignorância. Então, a partir dos dados fidedignos, podemos nos posicionar contra ou a favor e, melhor, podemos exigir que se cumpra o combinado. Foram décadas de discussão sobre o projeto, que foi alterado para atender muitas das demandas, como não-alagamento de terras indígenas, diminuição dos impactos na região, melhoria das condições de vida das populações das cidades do entorno.
Não podemos cair na 'esparrela' das Reginas Duartes da vida, que aparecem aqui e ali pontuando com a cara constrita que estão "com medo". Ainda mais quando a causa do medo é informação deturpada. O pior é ver ambientalista tarimbado alimentando essa falcatrua, comemorando por exemplo o sucesso de um vídeo de artistas que em vez de jogar luz sobre o assunto, prefere fazer terrorismo barato, com base em informações defasadas, falsas até - chegaram a afirmar que o Parque Nacional do Xingu, que fica mais de 1.300 km ao sul do local da usina, poderá ser inundado!! Pô, aí não, vai... muita apelação! (não acredita? Veja aqui a distância de um para o outro)
Como bem disse o Gilberto Camara, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), recentemente em seu blog, os ambientalistas estão perdendo a oportunidade histórica de conseguir avançar, exigindo que o governo e a iniciativa privada promovam a sustentabilidade em seus projetos. Em vez disso, estão apelando para o obscurantismo, a desinformação, o marketing raso, e com isso perdem credibilidade. Uma pena. Quando sentam para discutir e negociar honestamente, conseguem boas vitórias - como a moratória da soja, que envolveu sojeiros da Amazônia, Greenpeace e até o McDonald's. É assim que funciona numa democracia moderna: os diferentes sentam à mesa, colocam seus argumentos, 'senões' e 'poréns' e tentam chegar a um denominador comum. Isso foi feito com Belo Monte, tanto que o projeto mudou da água pro vinho nesse meio tempo e hoje tem tudo para ser exemplo para outras obras do tipo que virão - e virão, não tem pra onde correr - para a Amazônia.


Mas enfim, vamos aos fatos sobre Belo Monte, que estão longe do bicho-papão pintado por aí:
* O lago de Belo Monte terá 503 km2, dos quais 228 km2 já são o leito do próprio rio Xingu. E boa parte da área restante já está desmatada por criadores de gado, agricultores e madeireiras ilegais. O desmatamento efetivo por conta da usina, portanto, é muito pequeno se comparado com o tamanho do empreendimento, a energia que fornecerá e os benefícios que trará à região. E o lago, uma vez criado, servirá para proteger o entorno de cerca de 28 mil hectares (280 km2), já que vira uma Área de Preservação Permanente (APP).
* É normal que empreendimentos hidrelétricos, e quase todas as fontes de geração de energia, tenham uma capacidade de geração e um fator de potência - ou seja quanto dessa capacidade será possível gerar em média em um ano. No caso de Belo Monte, que tem capacidade instalada de 11.233 MW, a geração média é de 4.571 MW, ou 41%. Esse número é o suficiente para abastecer 40% do consumo residencial de todo o Brasil. Ao longo de sua elaboração, o projeto Belo Monte foi modificado para restringir os impactos que poderia causar ao meio ambiente e à população da região, reduzindo-se a área de inundação prevista em 60% em relação ao projeto inicial. Isso diminuiu a geração média de energia, mas foi importante para a diminuição do seu impacto.
É pouco? Nem tanto. Dá uma olhada nos dados que este blog compilou sobre a média em outros países (na China é 36% e nos EUA, 46%) e mesmo no Brasil, em outras usinas já em operação, como Itaipu, Tucuruí.
* A média nacional de área alagada é de 0,49 km2 por MW instalado, em Belo Monte essa relação é de apenas 0,04 km2 por MW instalado.
* 70% da energia a ser produzida por Belo Monte destinam-se ao Sistema Interligado Nacional (SIN) e apresenta o segundo menor valor por MW / hora entre todos os empreendimentos elétricos dos últimos 10 anos (R$ 78 por MW/h). Aquele papo de que a energia de Belo Monte beneficiará apenas esta ou aquela empresa, é balela, lenda. A energia gerada pela usina será conectada ao SIN e, com isto, gera energia para todo o país. O mesmo acontece com TODAS as demais usinas construídas por aqui.
* Há duas maneiras de se construir uma usina hidrelétrica: basear-se exclusivamente no critério de eficiência, em que tería que dispor de um lago enorme, como era o projeto original de Belo Monte de 1980, alagando amplas regiões, ou um sistema energeticamente menos eficiente - o de geração de energia em cima da corretenza do rio, denominado fio d'água - justamente para privilegiar questões ambientais. Belo Monte é desse segundo tipo, não sendo tão eficiente como a média das hidrelétricas brasileiras (na faixa de 50%) justamente em respeito a questões sociais e ambientais.
* Nenhum índio terá que sair de suas terras por causa do projeto e os ribeirinhos que serão realocados vivem, em sua maioria (quase 7 mil famílias), em palafitas nos igarapés de Altamira, em condições sub-humanas. O governo pretende realocar essas famílias para condomínios habitacionais que ficam em torno de 2 quilômetros de distância de onde estão hoje. São cerca de 18 mil pessoas. A promessa do governo é que essas pessoas receberão casas em locais totalmente urbanizados, com saneamento básico, postos de saúde, escolas e locais de lazer, tudo antes do final de 2014. É anotar e cobrar.
* Substituir a energia de Belo Monte por eólicas e energia solar parece fácil, mas é praticamente impossível. Precisamos de 5 mil MW por ano de energia adicionada ao sistema para garantir o mínimo necessário para que o país continue se desenvolvendo e gerando emprego e renda, e garantindo a inclusão de milhões de brasileiros que hoje estão à margem de todo e qualquer consumo. Isso não é possível, no curto/médio prazo, com eólica e solar. O Brasil até tem investido bastante nessas duas formas de geração de energia, somos o país que mais tem atraído empresas do setor para cá, mas é coisa para médio-longo prazo. Enquanto isso, fazemos a transição - mas com energia de baixo impacto e limpa, como a hidrelétrica. Nenhum outro país do mundo consegue isso - EUA, China, Europa, Ìndia, todos estão fazendo investimentos em energia renovável (eólica, solar, etc) com base numa economia sustentada por energia suja - nuclear, térmicas a carvão ou óleo diesel.
Para se ter uma ideia, para ter o mesmo potencial energético de Belo Monte, seria necessário instalar mais de 6 mil aerogeradores, de 3MW cada, ocupando uma área de 470 km2 - ou quase o tamanho do lago de Belo Monte (503 km2).
Bom, tem muito mais coisa para se pontuar, mas já tem um bocado aí pra refletirmos, né mesmo? As coisas nem sempre são tão simples como querem fazer crer uns e outros, nem o diabo é tão feio.
Tem mais informação boa circulando por aí, seguem algumas dicas - quem quiser indicar outros bons textos, coloca na área de comentários que acrescento à lista abaixo:





quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Para resgatar um pouco a história e reafirmar a necessidade da construção da hidrelétrica de Belo Monte;

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Anatomia [útil, pra nós] da incerteza econômica global


20/11/2011, Mohamed A El-Erian, Project Syndicate


 
A sensação de incerteza é palpável em todo o ocidente. As pessoas preocupam-se com o próprio futuro, e número recorde de seres humanos temem hoje que os filhos terminem em pior situação que os pais. Infelizmente, as coisas ainda ficarão mais instáveis nos próximos meses.

Os EUA enfrentam dificuldades para levar a economia de volta à trilha de alto crescimento e criação de empregos em ritmo vigoroso. Centenas de milhares de cidadãos tomaram as ruas das cidades norte-americanas, outros milhares estão nas ruas das cidades europeias, a exigir sistema mais justo. Na eurozona, as crises financeiras já derrubaram dois governos. Representantes eleitos foram substituídos por tecnocratas nomeados encarregados de restaurar a ordem. E as preocupações quanto à integridade institucional da eurozona – crucial para a arquitetura da Europa moderna – continuam a aumentar.

Essa incerteza vai bem além dos países e regiões. Os que tentam espiar o que há depois da próxima esquina também se preocupam com a instabilidade de uma ordem econômica global, na qual as dificuldades pelas quais passam os sistemas ocidentais centrais estão gradualmente destruindo os bens públicos globais.

Não é coincidência que tudo isso esteja acontecendo ao mesmo tempo. Cada acontecimento, e, com certeza, a evidência de que tudo se passa simultaneamente, aponta para uma mudança histórica no paradigma que modela a economia global – e para a ansiedade que acompanha a perda das âncoras de fixação às quais todos se mantiveram ligados até há pouco tempo, sejam âncoras econômicas e financeiras, sejam âncoras sociais e políticas.

Restaurar aquelas âncoras demandará tempo. Não há plano de jogo, e os precedentes históricos ajudam pouco. Apesar disso, duas coisas parecem já bem claras: diferentes países estão optando, por decisão ou por necessidade, por diferentes vias, e o sistema global como um todo ainda não encontrou meio pelo qual reconciliar essas diferenças.

Algumas mudanças serão evolutivas, e levarão anos para tornar-se claramente manifestas; outras serão rápidas e mais dramáticas. Mesmo assim, por mais complexo que tudo isso pareça – e tudo isso é complexo por definição, porque mudanças de paradigma são complexas, embora, felizmente, sejam raras –, vale a pena tentar traçar um quadro analítico, por simples que seja, que ajude a lançar alguma luz sobre o que esperar e sugira meios para melhor adaptar-se às novidades.

Esse quadro resulta de um atalho analítico simples: identificar um conjunto de variáveis explicativas, e construir o que os estatísticos chamam de “equação reduzida”. O objetivo não é dar conta de todas as especificidades, mas, apenas, definir um pequeno número de variáveis que deem conta dos fatores chaves, mesmo que não os expliquem perfeitamente nem completamente.

Se se adota essa abordagem, pode-se dizer que o futuro de várias economias ocidentais, e da economia global, será moldado conforme a habilidade para navegar sob quatro dinâmicas inter-relacionadas: financeira, econômica, social e política.

A dinâmica financeira tem a ver com orçamentos. Muitas economias ocidentais terão de enfrentar os efeitos do legado perverso dos anos em que viveram de empréstimos, em economias muito fortemente alavancadas; e as economias que não tenham esse problema, como a Alemanha, estão ligadas a outras economias que o têm. Frente a essa realidade, diferentes países optarão por diferentes vias para se desalavancar. Essas diferenças, de fato, já são visíveis.

Outras economias, como a Grécia, estão em situação de tão gigantesco endividamento, que, de fato, mal se consegue pensar em outra solução que não seja, puro e simples, o calote da dívida, solução traumática e instabilidade econômica ainda maior; e nada sugere que a Grécia seja a única economia ocidental a ser obrigada a reestruturar a própria dívida. Outros países, como o Reino Unido, já trataram, rapidamente, de assumir controle mais severo do próprio destino econômico, por mais que a ‘austeridade’, inevitavelmente, implique sacrifícios consideráveis.

Um terceiro grupo de economias, que têm à frente os EUA, ainda sequer começaram a considerar explicitamente a necessidade de se desalavancarem. Porque têm mais tempo, os EUA estão tentando um caminho menos visível, e muito mais gradual – uma “repressão financeira” –, pelo qual as taxas de juro são forçadas para baixo, de tal modo que os credores, inclusive os submetidos a renda fixa modesta, subsidiam os devedores.

A desalavacagem está intimamente ligada à segunda variável – o crescimento econômico. Dito em termos simples, quanto maior a capacidade de um país gerar renda nacional adicional, maior sua habilidade para pagar os juros da dívida, ao mesmo tempo em que o padrão de vida dos cidadãos é sustentado e até aumentado.

Muitos países, entre os quais Itália e Espanha, têm de superar barreiras estruturais de competitividade, crescimento e geração de empregos mediante reformas plurianuais nos mercados de trabalho, pensões e aposentadorias, moradia e nas políticas econômicas dos governos. Alguns, como os EUA, podem combinar reformas estruturais e estímulos à demanda de curto prazo. Uns poucos países, como a Alemanha, estão hoje colhendo os frutos de anos de reformas firmes e graduais (até agora ainda subestimadas).

Mas só o crescimento, por necessário que seja, não basta, dado que as taxas de desemprego e a desigualdade social só fizeram aumentar até agora. É onde é indispensável considerar a terceira dinâmica: o ocidente enfrenta o desafio de gerar não apenas crescimento, mas tem de gerar “crescimento inclusivo”, crescimento econômico e inclusão social. E crescimento com inclusão social implica, necessariamente, maior “justiça social”.

Já há hoje em todo o ocidente a consciência profunda de que o capitalismo ocidental tornou-se injusto. Alguns atores – à frente dos quais os grandes bancos – acumularam lucros gigantescos durante o boom, e foram salvos de perdas também gigantescas quando sobreveio a baixa. Os cidadãos já não aceitam o falso argumento de que esse resultado não desejado refletiria o ‘excepcionalismo’ do papel dos bancos nas economias. E como, afinal, aceitariam tal argumento, se os ‘resgates’ multibilionários não trouxeram de volta nem os empregos nem o crescimento?

A exigência, nas ruas, por sistema mais justo não calará. Só se deve esperar que se alastre, com clamor popular cada vez mais alto e mais claro. Não resta alternativa ao ocidente, além de buscar equilíbrio mais justo – entre capital e trabalho; entre as gerações presentes e futuras; e entre o setor financeiro e a economia real.

Assim chegamos à última variável: o papel dos políticos e dos legisladores. Virou moda, nos EUA e na Europa, falar de uma debilitante “falta de lideranças”. Essa ideia só faz chamar a atenção para o quanto uma muito complexa mudança de paradigma pressiona hoje as ideias, os processos e os sistemas de governo tradicionais.

Diferentes nisso das economias emergentes, os países ocidentais são mal equipados para enfrentar mudanças estruturais e seculares – e não é difícil entender que seja assim. Afinal, as grandes economias ocidentais – com certeza durante o período erroneamente chamado de “Grande Moderação”[1], entre os anos 1980 e 2008 – sempre foram predominantemente cíclicas. Quanto mais tempo demorarem a ajustar-se, maiores os perigos.

A vasta maioria de nós, que estamos no polo receptor dessas quatro dinâmicas, nem por isso temos de nos deixar paralisar pela incerteza e pela ansiedade. Temos, isso sim, de usar essa “equação reduzida” para monitorar os acontecimentos, aprender com eles e adaptar-nos. Sim, sem dúvida haverá volatilidade, pressões surpreendentemente fortes e resultados estranhos, em termos históricos. Mas a mudança no paradigma global, além de alterar os riscos, também altera as oportunidades.

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[1] Orig. Great Moderation. James Stock, economista de Harvard, cunhou a expressão “a grande moderação” em artigo co-assinado com Mark Watson, de Princeton, em 2004 (“Has the Business Cycle Changed and Why” [O ciclo de negócios mudou e por quê]). Ben S. Bernanke deu grande divulgação à expressão, em discurso intitulado “The Great Moderation”, dia 20/2/2004, quando era diretor do Federal Reserve, durante a presidência de Alan Greenspan. O discurso pode ser lido em http://www.federalreserve.gov/boarddocs/speeches/2004/20040220/default.htm  (em inglês) [NTs].

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Mulher do ministro Lupi sai em defesa do marido em “outra versão da história”

17/11/2011 18:40, Por Redação - do Rio de Janeiro

Lupi é alvo de denúncias na imprensa conservadora

Mulher de Carlos Lupi, ministro do Trabalho, a jornalista Angela Lupi fez circular pelas redes sociais, nesta quinta-feira, o texto intitulado Carlos Lupi: a outra versão da história, no qual descreve os últimos acontecimentos em relação à série de denúncias veiculadas na imprensa conservadora contra o marido. Segundo Angela Lupi, trata-se de uma “briga de cachorro grande”.

“Ele sabe que é simplesmente o alvo menor que precisa ser abatido para que seja atingido um alvo maior”, afirma no texto.

Leia aqui, na íntegra, a carta da Srª Lupi.

Caso Lupi: a outra versão da história

Você tem direito de ter a sua verdade. Para isso você precisa conhecer todas as versões de uma história para escolher a sua. A deles é fácil, é só continuar lendo a Veja, O Globo, assistindo ao Jornal Nacional. A nossa vai precisar circular por essa nova e democrática ferramenta que é a internet.

Meu nome é Angela, sou esposa do Ministro do Trabalho e Emprego Carlos Lupi. Sou jornalista e especialista em políticas públicas. Somos casados há 30 anos, temos três filhos e um neto. Resolvi voltar ao texto depois de tantos anos porque a causa é justa e o motivo é nobre. Mostrar a milhares, dezenas ou a uma pessoa que seja como se monta um escândalo no Brasil.

Vamos aos fatos: No dia 3 de novembro a revista Veja envia à assessoria de imprensa do Ministério do Trabalho algumas perguntas genéricas sobre convênio, ONGS, repasses etc. Guarda essa informação.

Na administração pública existe uma coisa chamada pendência administrativa. O que é isso? São processos que se avolumam em mesas à espera de soluções que dependem de documentos, de comprovações de despesas, prestação de contas etc. Todo órgão público, seja na esfera municipal, estadual ou federal, tem dezenas ou centenas desses.

Como é montado o circo? A revista pega duas pendências administrativas dessas, junta com as respostas da assessoria de imprensa do Ministério dando a impressão de que são muito democráticos e que ouviram a outra parte, o que não é verdade, e paralelamente a isso pegam o depoimento de alguém que não tem nome ou sobrenome, mas diz que pagou propina a alguém da assessoria do ministro.

No dia seguinte toda a mídia nacional espalha e repercute a matéria em todos os noticiários, revistas e jornais. Nada fica provado. O acusador não tem que provar que pagou, mas você tem que provar que não recebeu. Curioso isso, não? O próprio texto da matéria isentava Lupi de qualquer responsabilidade. Ele sequer é citado pelo acusador. Mas a gente não lê os textos, só os títulos e a interpretação, que vêm do estereótipo “político é tudo safado mesmo”.

Dizem que quando as coisas estão ruins podem piorar. E é verdade. Na terça-feira Lupi se reúne na sede do PDT, seu partido político em Brasília para uma coletiva com a imprensa. E é literalmente metralhado não por perguntas, o que seria natural, mas por acusações. Nossa imprensa julga, condena e manda para o pelotão de fuzilamento.

E aí entra em cena a mais imprevisível das criaturas: o ser humano. Enquanto alguns acuados recuam, paralisam, Lupi faz parte de uma minoria que contra-ataca. Explode, desafia. É indelicado com a presidenta e com a população em geral. E solta a frase bomba, manchete do dia seguinte: “Só saio a bala”. O que as pessoas interpretaram como apego ao cargo era a defesa do seu nome. Era um recado com endereço certo e cujos destinatários voltaram com força total.

Era a declaração de uma guerra que ainda não deixou mortos, mas já contabiliza muitos feridos. Em casa, passado o momento de tensão, Lupi percebe o erro, os exageros e na quinta-feira na Comissão de Justiça do Congresso Nacional presta todos os esclarecimentos, apresenta os documentos que provam que o Ministério do Trabalho já havia tomado providências em relação às ONGs que estavam sendo denunciadas e aproveita a oportunidade para admitir que passou do tom e pede desculpas públicas a Presidenta e a população em geral.

A essa altura, a acusação de corrupto já não tinha mais sustentação. Era preciso montar outro escândalo e aí entra a gravação de uma resposta e uma fotografia. A resposta é aquela que é repetida em todos os telejornais. Onde o Lupi diz “não tenho nenhum tipo de relacionamento com o Sr Adair. Fui apresentado a ele em alguns eventos públicos. Nunca andei em aeronave do Sr. Adair”.

Pegam a frase e juntam a ela uma foto do Lupi descendo de uma aeronave com o seu Adair por perto. Pronto. Um novo escândalo está montado. Lupi agora não é mais corrupto, é mentiroso.

Em algum momento, em algum desses telejornais você ouviu a pergunta que foi feita ao Lupi e que originou aquela resposta? Com certeza não. Se alguém pergunta se você conhece o Seu José, porteiro do seu prédio? Você provavelmente responde: claro, conheço. Agora, se alguém pergunta: que tipo de relacionamento você tem com o Seu José? O que você responde? Nenhum, simplesmente o conheço de vista.

Foi essa a pergunta que não é mostrada: que tipo de relacionamento o Sr. tem com o Sr. Adair? Uma pergunta bem capciosa. Enquanto isso, o próprio Sr. Adair garante que a aeronave não era dele, que ele não pagou pela aeronave e que ele simplesmente indicou.

Quando comecei na profissão como estagiária na Tribuna da Imprensa, ouvi de um chefe de reportagem uma frase que nunca esqueci: “Enquanto você não ouvir todos os envolvidos e tiver todas as versões do fato, a matéria não sai. O leitor tem o direito de ler todas as versões de uma história e escolher a dele. Imprensa não julga, informa. Quem julga é o leitor”.

Quero deixar claro que isso não é um discurso para colocar o Lupi como vítima. O Lupi não é vítima de nada. É um adulto plenamente consciente do seu papel nessa história. Ele sabe que é simplesmente o alvo menor que precisa ser abatido para que seja atingido um alvo maior. É briga de cachorro grande.

Tentaram atingir o seu nome como corrupto, mas não conseguiram. Agora é mentiroso, mas também não estão conseguindo, e tenho até medo de imaginar o que vem na sequência.

Para terminar queria deixar alguns recados:

Para os amigos que nos acompanham ou simplesmente conhecidos que observam de longe a maneira como vivemos e educamos os nossos filhos eu queria dizer que podem continuar nos procurando para prestar solidariedade e que serão bem recebidos. Aos que preferem esperar a poeira baixar ou não tocar no assunto, também agradeço. E não fiquem constrangidos se em algum momento acompanhando o noticiário tenham duvidado do Lupi. A coisa é tão bem montada que até a gente começa a duvidar de nós mesmos. Quem passou por tortura psicológica sabe o que é isso. É preciso ser muito forte e coerente com as suas convicções para continuar nessa luta.

Para os companheiros de partido, senadores, deputados, vereadores, lideranças, militantes que nos últimos 30 anos testemunharam o trabalho incansável de um “maluco” que viajava o Brasil inteiro em fins de semana e feriados, filiando gente nova, fazendo reuniões intermináveis, celebrando e cumprindo acordos, respeitado até pelos adversários como um homem de palavra, que manteve o PDT vivo e dentro do cenário nacional como um dos mais importantes partidos políticos da atualidade. Eu peço só uma coisa: justiça.

Aos colegas jornalistas que estão fazendo o seu trabalho, aos que estão aborrecidos com esse cara que parece arrogante e fica desafiando todo mundo, aos que só seguem orientação da editoria sem questionamento, aos que observam e questionam, não importa. A todos vocês eu queria deixar um pensamento: reflexão. Qual é o nosso papel na sociedade?

E a você Lupi, companheiro de uma vida, quero te dizer, como representante desse pequeno nucleozinho que é a nossa família, que nós estamos cansados, indignados e tristes, mas unidos como sempre estivemos. Pode continuar lutando enquanto precisar, não para manter cargo, pois isso é pequeno, mas para manter limpo o seu nome construído em 30 anos de vida pública. E quando estiver muito cansado dessa guerra vai repousar no seu refúgio que não é uma mansão em Angra dos Reis, nem uma fazenda em Goiás, sequer uma casa em Búzios, e sim um pequeno sítio em Magé. Que corrupto é esse? Que país é esse?”.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Contra os capitalistas fundamentalistas pirados

Assim não dá! Occupy!

Contra os capitalistas fundamentalistas pirados
16/11/2011, Dafydd Taylor, Asia Times Online, “Speaking Freely” [título modificado]

http://atimes.com/atimes/Global_Economy/MK16Dj06.html


A crise financeira global avança, e ouvimos repetir com insistência que, apesar de alguns problemas, todos os benefícios da modernidade seriam resultados incontestáveis do sistema capitalista.

Que a mão invisível, que Adam Smith tão notoriamente documentou, nos trouxe o progresso industrial, das linhas de montagem ao telégrafo e à Internet. Nada disso é bem assim. A linha de montagem, sistema fabril inspirado nas invenções de Sir Richard Arkwright (1732-1792), mais de um século antes de Henry Ford, foi resposta aos efeitos da Revolução Agrária Britânica.

Vastos pools de mão de obra barata criados pelo cercamento da terra comum, combinados com as políticas econômicas do mercantilismo tornadas especialmente efetivas pelo crescimento do império fizeram da Grã-Bretanha a nação líder do processo de industrialização. O desenvolvimento industrial foi resultado dessa interação entre estado e setor privado. Essas lições, que o ocidente parece nunca ter compreendido satisfatoriamente, foram atentamente aprendidas pela China – hoje o país mais bem sucedido do planeta.

A Grã-Bretanha só adotou o livre comércio como política, no final do século 19 – nação plenamente industrializada, que se entrincheirou para defender essa posição; e defesa que incluiu conter ou limitar o crescimento dos concorrentes. A força que puxou adiante o desenvolvimento da primeira rede de comunicações eletrônicas que o mundo conheceu, o telégrafo, foi o Império Britânico.

Nos EUA, o desenvolvimento também foi comandado pelo estado e por intervenção do estado. Mais especificamente: a intervenção do Departamento de Defesa dos EUA foi fator decisivo para o desenvolvimento das redes de computadores. E aqui se deve registrar uma importante verdade: foi a pressão competitiva dos soviéticos que forçou o estado nos EUA, através do Departamento de Defesa, a comandar o desenvolvimento de uma rede de comunicações computador-computador.

Todo esse desenvolvimento puxado pelo estado aconteceu no ocidente “capitalista”. Em resumo: o ocidente saiu-se melhor que os russos, na Guerra Fria, não porque era capitalista, contra soviéticos comunistas. O ocidente venceu a Guerra Fria porque o ocidente manteve-se mais pragmático que ideológico. No ocidente, o desenvolvimento e a organização econômica não tiveram de ser mantidos ‘puros’; as coisas se misturaram mais.

Isso não implica dizer que nada se aproveita no pensamento pró ‘livre mercado’, para construir políticas econômicas que prestem. Em termos simples, os mercados florescem porque as pessoas, entregues a seus próprios meios, sempre tendem a especializar-se e a trocar. A isso se chama “mercado”. A genialidade de Smith foi tanto (i) ter documentado e teorizado o que sempre foi um estado natural das coisas, quanto (ii) ter visto ali um modelo econômico recomendável. Um dos seus mais poderosos insights foi ‘ver’ a importância do marginal sobre o absoluto.

A água, muito mais vitalmente necessária e importante que o uísque, vende-se mais barata. Por quê? A resposta está no benefício marginal. O preço que as pessoas estão preparadas para pagar não é governado pelo valor absoluto de uma mercadoria, mas pelo valor de mais um copo d’água, ou de uísque. A Escócia, terra de Smith nunca enfrentou escassez de água.

E num mercado perfeito, diz a teoria, o preço tende a convergir para o custo marginal de produção. Só se pode vender alguma coisa pelo custo extra de produzir mais um do mesmo produto. Como alguém poderia sobreviver de investimentos, num sistema assim?

As instituições educacionais são crucialmente importantes para qualquer desenvolvimento técnico. Essas instituições não são instituições capitalistas. Instituição que vise a ser educacional não aprovará alunos em troca de mensalidade paga, mas em troca de resposta reconhecida a algum tipo de teste. Esse não é sistema de mercado. Se fosse, haveria diplomas (valiosos e prestigiados no mercado) à venda. E não há. Se a instituição vende diplomas, o diploma automaticamente se desvaloriza.

Em resumo, a vasta maioria dos – se não todos os – grandes desenvolvimentos técnicos, exigem hoje, como sempre exigiram, intervenção do estado e defesa contra a concorrência, para que o desenvolvimento sobreviva. O que o setor privado faz muito bem é, só e sempre, copiar os desenvolvimento inovadores, produzi-los industrialmente e distribuí-los comercialmente.

Apesar de tudo isso, o atual discurso político e econômico dominante ainda assume que o sistema capitalista seria vital para o desenvolvimento de novas tecnologias. Não é e nunca foi. Essa é uma crença baseada na fé, não na razão ou em fatos. Hoje, a teoria do mercado racional já deveria estar tão publicamente desmoralizada quanto a teoria do comunismo soviético e a teoria da 'imprensa livre'.

O que o capitalismo faz é distribuir, pelos mecanismos comerciais, produtos novos e melhores, ou novos e melhores meios de fazer coisas. O capitalismo comunica a inovação, muito rapidamente, isso sim. Mas o capitalismo absolutamente não produz inovação. O capitalismo não promove a inovação e jamais promoveu. O capitalismo só promove o comércio.

Mercado é qualquer fórum no qual compradores e vendedores encontrem-se para acertar um preço e concluir uma troca: pode ser eBay e pode ser o terreiro de uma aldeia africana. Se todos os que vendem conseguem chegar a um preço semelhante, onde todos os vendedores são independentes, mas é do interesse de todos manterem-se próximos (como aves num bando, abelhas num enxame), pode-se dizer que, sim, o mercado é livre. Mas aí nada há, de inovador ou de inovação. Esse comportamento é tão antigo quanto, ou talvez mais antigo, que a civilização.

Assim sendo, por que tantos tanto repetem a ideia de que o capitalismo encorajaria a inovação? É ideia também sempre repetida, que o setor privado seria bom e o setor público, mau. Que qualquer regulação do setor privado, capitalista, bloquearia a inovação. O que se vê hoje é que o capital não regulado – deixado livre, portanto – arrastou o mundo para a crise econômica que enfrentamos hoje.

Há paralelos próximos entre a desregulação dos 1980s e 1990s e dos 1920s, e entre a crise atual e a grande depressão dos 1930s. E também há paralelos entre o colapso do padrão ouro e a crise atual na eurozona. Em vários sentidos, vivemos hoje a segunda fase da globalização: a primeira começou nos anos 1920s. Já aconteceu antes. O capitalismo desregulado nos devolveu, pela segunda vez, ao ponto a que já nos devolvera antes.

Crer no capitalismo como promotor do progresso é uma fé, uma crença. Nem os mercados são racionais, nem são racionais os economistas, os financistas e os banqueiros.

Enquanto políticos, economistas, jornalistas não desenvolverem alguma ideia realista, não religiosa e não fundamentalista, sobre o funcionamento do sistema capitalista, não há qualquer chance de que alguém comece a esboçar alguma política econômica aproveitável, para o futuro.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Israel nuclear revisitada

10/11/2011, Joseph Massad, Al-Jazeera, Qatar


Joseph Massad é professor associado de Política e História Intelectual Árabe Moderna
na Columbia University, em New York.


Quantas vezes será preciso recontar essa história? É sabida de todos nos EUA, na Europa, no mundo árabe, de fato, no mundo inteiro. Lê-se sobre isso na imprensa internacional desde o final dos anos 1960s. Os detalhes históricos do caso são também bem conhecidos.

Em 1955, o presidente Dwight Eisenhower deu a Israel o primeiro pequeno reator nuclear em Nahal Sorek; em 1964, os franceses construíram para Israel o muito maior reator nuclear Dimona, no deserto de Naqab (Negev); em 1965, Israel roubou dos EUA, 90,9 kg de urânio enriquecido para fazer bombas (ação de espiões israelenses numa empresa da Pensilvania, Nuclear Materials & Equipment Corporation); em 1968, Israel sequestrou um navio liberiano em águas internacionais e roubou a carga de 200 toneladas de yellowcake que o navio transportava. Desde o início dos anos 1970s, Israel tem bombas atômicas.

Apesar dos desmentidos oficiais, todo o mundo sabe que Golda Meir, quarta primeiro-ministro de Israel, esteve a um passo de lançar 13 bombas nucleares sobre Síria e Egito em 1973 e só desistiu de cometer esse ato de genocídio quando Henry Kissinger deu a Israel toda a capacidade aérea de ataque, a maior da história naquele momento, de que Israel precisava para reverter o curso da guerra de 1973 (como a revista Time noticiou o caso). Israel manteve estreita colaboração na construção de armas nucleares com o regime de apartheid da África do Sul durante décadas, colaboração que só terminou quando terminou o regime de apartheid da África do Sul, em 1994.

Desde então, especialistas estimam que Israel tenha mais de 400 bombas atômicas, incluindo armas termonucleares que chegam a megatons, além de bombas de nêutrons, armas nucleares táticas e ogivas para transporte das bombas. Também tem o sistema de mísseis necessário para lançar suas bombas, com alcance de 11.500km (maior que a distância que separa Israel e Irã). Israel também tem submarinos capazes de lançar ataques nucleares e jatos capazes de entregar onde queiram a carga nuclear que Israel decida usar, contra quem decida usar, quando decida usar.

Diligentemente, Israel sempre impediu que seus vizinhos sequer construíssem reatores nucleares para finalidades pacíficas. Violou a lei internacional ao bombardear o reator nuclear Osirak que os franceses estavam (em 1981) construindo para o Iraque, em ataque aéreo não provocado, apesar de o reator estar sendo construído para ser usado, conforme declaração dos governos de França e Iraque, para pesquisa científica. Israel também bombardeou o que, segundo relatórios de inteligência seria um reator nuclear que a República Popular da Coreia (Coreia do Norte) estaria construindo na Síria em 2007. O Mossad (serviço secreto israelense) várias vezes foi associado ao assassinato de inúmeros cientistas e físicos nucleares egípcios, iraquianos e iranianos, ao longo de décadas.

Israel não assinou e continua a recusar-se a assinar o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares e não autoriza nenhum tipo de inspeção, pelos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica da ONU, no seu reator Dimona.

Israel, país agressivo e predatório que tem longa história de ataques contra países vizinhos desde que foi ‘fundado’, expulsou centenas de milhares de pessoas, criou milhões de refugiados palestinos, libaneses e egípcios, assassinou dezenas de milhares de civis e usou armas proibidas pela legislação internacional (de bombas de napalm a bombas de fósforo, para citar só os casos mais bem conhecidos), continua a ocupar territórios palestinos, e o povo palestino vive sob ocupação estrangeira, o que viola a lei internacional.

Israel é governada por uma ideologia de estado fundamentalista, racista, antimuçulmana e antiárabe, à qual aderem seus governantes, suas instituições de governo e, também, sua cultura popular e política e muitas das leis do estado israelense.

De fato, Israel não apenas vive de fazer guerra quase ininterrupta contra seus vizinhos como, também, exige que as potências ocidentais invadam os países vizinhos de Israel e, simultaneamente, patrocina campanhas de ódio racista contra árabes e muçulmanos nos EUA e em toda a Europa, além de incorporar a mesma ideologia racista nos currículos de escolas e universidades e em grande parte da produção cultural nacional israelense.

 
Políticas racistas

Os EUA, protetores de Israel, são o único estado da Terra que algum dia, deliberadamente, usou bombas atômicas contra populações civis e até hoje, 66 anos depois, ainda defende aquela decisão, que levou àquele ato genocida, e ensina a população, nas escolas e pela imprensa, a também defendê-lo.

Os EUA também cuidam de evitar que o arsenal atômico de Israel jamais seja discutido no Conselho de Segurança da ONU, apesar das persistentes propostas para que a questão nuclear israelense seja julgada naquele fórum. A insistência com que os EUA cuidam de manter como “segredo” (conhecido de todos) a capacidade nuclear de Israel é construída e mantida, dentre outros motivos, para manter ativa a ajuda que os EUA continuam a dar a Israel, apesar de a condição essencial para receber esse tipo de ajuda ser que os países receptores sejam signatários do Tratado de Não Proliferação... que Israel nunca assinou e recusa-se a assinar.

Mesmo assim, os EUA e Israel, que há muito tempo são as principais ameaças à paz mundial e, de fato, os mais ativos provocadores de guerras em todo o mundo desde a II Guerra Mundial, insistem em dizer ao mundo que o Irã seria ameaça à paz mundial, caso possua uma bomba atômica.

O Irã é país cujo governo revolucionário e democrático jamais invadiu país algum (ao contrário, o Irã foi atacado pelo Iraque de Saddam em 1981, por decisão das ditaduras comandadas pelas ricas famílias do petróleo do Golfo e seus patrocinadores EUA e França).

Deixando-se de lado, por um momento, as políticas racistas dos EUA que definem quem poderia e quem não poderia ter armas nucleares (segundo um critério racista que determina que só europeus e seus aliados europeus poderiam ter o que quer que seja), é preciso dizer que, se há corrida nuclear no Oriente Médio hoje, foi gerada e estimulada pelo espírito violento e belicista de Israel e pelo fato de que, em toda a região, só Israel mantém arsenal ativo de armas de destruição em massa.

Se se tratar de o Oriente Médio ser zona livre e armas nucleares, nesse caso o esforço da comunidade internacional deve começar por desarmar Israel – o único país na região que tem bombas atômicas. E que deixem em paz o Irã – onde o mundo nem sabe se há ou não, ou se estão em desenvolvimento ou não, essas armas.

O racismo do governo Obama contra árabes e muçulmanos não conhece limites. Mas, entre os povos do Oriente Médio (árabes, turcos e iranianos), os critérios racistas de Obama não persuadem ninguém.

Ter ou não ter armas nucleares é questão de segurança humana, no que diga respeito a quem viva próximo de Israel. Ter armas nucleares não é privilégio racial nem dos norte-americanos nem dos europeus.

É possível que os EUA não temam as bombas atômicas de Israel. Mas quem viva perto de Israel, países e populações civis que há muitos anos são alvo do terror israelense, temem Israel. Por muitos bons motivos, que todos na região conhecem.

Só depois que Obama aprender essa lição, se aprender, os povos da região voltarão a ver alguma seriedade e poderão atribuir alguma credibilidade à sempre tão repetida (falsa) preocupação dos EUA com a ‘proliferação’ nuclear.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Fiscalização do governo ou poder paralelo?

POR Venício A. de Lima

No clássico Four Theories of the Press, de Siebert, Peterson e Schramm – uma das consequências indiretas do longo trabalho da Hutchins Commission, originalmente publicado no auge da Guerra Fria (University of Illinois Press, 1956) –, uma das funções descritas para a imprensa na chamada “teoria libertária” era exercer o papel de “sentinela” da liberdade.

Em outro livro, também clássico, que teve uma pouco conhecida tradução brasileira (Os Meios de Comunicação e a Sociedade Moderna, Edições GRD, 1966), Peterson, Jensen e Rivers assim descrevem a função:

Os libertários geralmente consideravam o governo como o inimigo mais temível e tradicional da liberdade; e, mesmo nas sociedades democráticas, os que exercem funções governamentais poderiam usar caprichosa e perigosamente o poder. Portanto, os libertários atribuíam à imprensa a tarefa de inspecionar constantemente o governo, de fazer o papel da sentinela, chamando a atenção do público sempre que as liberdades pessoais estivessem perigando (p. 151-152).

Nos Estados Unidos, a teoria libertária foi substituída pela teoria da responsabilidade social, mas o papel de fiscalização sobre o governo permaneceu, lá e cá, geralmente aceito como uma das funções fundamentais da imprensa nas democracias liberais representativas.

 
Jornalismo investigativo

O chamado “jornalismo investigativo”, que surge simultaneamente ao “ethos” profissional que atribui aos jornalistas a “missão” de fiscalizar os governos e denunciar publicamente seus desvios, deriva do papel de “sentinela” e é por ele justificado. A revelação de segredos ocultos do poder público passou a ser vista como uma forma de exercer a missão de guardião do interesse público e a publicação de escândalos tornou-se uma prática que reforça e realimenta a imagem que os jornalistas construíram de si mesmos.

Com o tempo, a mídia passou a disputar diretamente a legitimidade da representação do interesse público, tanto em relação ao papel da Justiça – investigar, denunciar, julgar e condenar – como em relação à política institucionalizada de expressão da “opinião pública” pelos políticos profissionais eleitos e com cargo nos executivos e nos parlamentos. Tudo isso acompanhado de uma permanente desqualificação da Política (com P maiúsculo) e dos políticos.

Na nossa história política há casos bem documentados nos quais a grande mídia reivindica para si esses papéis. O melhor exemplo talvez seja o da chamada “rede da democracia” que antecedeu ao golpe de 1964 e está descrita detalhadamente no livro de Aloysio Castelo de Carvalho, A Rede da Democracia – O Globo, O Jornal e o Jornal do Brasil na Queda do Governo Goulart (1961-64); NitPress/Editora UFF, 2010.

Mais recentemente, a presidenta da Associação Nacional de Jornais (ANJ) declarou publicamente:

A liberdade de imprensa é um bem maior que não deve ser limitado. A esse direito geral, o contraponto é sempre a questão da responsabilidade dos meios de comunicação. E, obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo, de fato, a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada. E esse papel de oposição, de investigação, sem dúvida nenhuma incomoda sobremaneira o governo" (“Ações contra tentativa de cercear a imprensa”, O Globo, 19/3/2010, pág. 10).


Poder paralelo

Como chamou a atenção o governador Tarso Genro, na abertura de um congresso nacional contra a corrupção, organizado pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul, em outubro passado:

Criou-se um jornalismo de denúncia, que julga e condena. Usam a corrupção como argumento para dizer que as instituições não funcionam e tentar substituí-las (...) atualmente, os casos mais graves são investigados pela mídia e divulgados dentro das conveniências dos proprietários dos grandes veículos (...) fazem condenações políticas de largas consequências sobre a vida dos atingidos, e tomam para si até o direito de perdão, quando isso se mostra conveniente (http://sul21.com.br/jornal/2011/10/grande-midia-quer-instituir-justica-p...).

Será que estamos a assistir no Brasil à comprovação prática da afirmação de Paul Virilio: “A mídia é o único poder que tem a prerrogativa de editar suas próprias leis, ao mesmo tempo em que sustenta a pretensão de não se submeter a nenhuma outra”? A resposta a essa questão deve ser dada pela própria Justiça e pelas instituições políticas. A ver.

Venício A. de Lima é sociólogo e jornalista; autor, entre outros, de Comunicação e Cultura: as Ideias de Paulo Freire; 2ª. ed. revista, com nova introdução e prefácio de Ana Maria Freire. EdUnB/Perseu Abramo, 2011

Milhares de manifestantes estudantis retorno as ruas de Londres

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Entendendo a Líbia

Dar direção aos movimentos

Adriano Benayon*


Crescem os protestos contra as intoleráveis injustiças sofridas pelos povos em grande parte deste mundo. Na Espanha, na Itália, na Grécia e em Portugal surgem grandes manifestações, desencadeadas pelo brutal aumento dos sacrifícios exigidos dos já sacrificados, pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Banco Central Europeu, a fim de beneficiar bancos europeus e estadunidenses.

Experiência semelhante foi suportada, muitas vezes, por países latino-americanos. Entre eles o Brasil, que está menos distante do que imagina de mais uma crise nas contas externas, acompanhada de agravamento das já degradadas condições de vida da maioria de sua população.

Merecem atenção também as manifestações de resistência civil nos EUA e Reino Unido (Inglaterra), sedes da oligarquia financeira que comanda a tirania mundial. Especialmente, o “Ocupemos Wall Street” aponta para o alvo correto: os grandes bancos internacionais, cujos controladores e associados dominam não só as finanças, mas também o petróleo, os armamentos, a grande mídia, a indústria químico-farmacêutica etc.

Em suma: os concentradores do poder econômico-financeiro exercem absolutismo político cada vez maior, mandando nos governos “democráticos” eleitos pelo dinheiro e pela mídia. Esses não passam de gerentes da “democracia” e do cinismo que dá esse nome à tirania e que chama de liberdade a opressão, e de defesa de direitos humanos o genocídio cometido contra nações com armas de destruição de massa.

Se, em muitos países há alguma consciência da fonte do problema, no Brasil o povo parece anestesiado pelo ópio da TV enganadora. Os governistas pintam tudo de cor de rosa, como se não houvesse razão para manifestações contrárias ao status quo, enquanto oposicionistas, ainda mais submissos ao império, tentam capitalizar o élan dos indignados com a corrupção.

Os promotores das marchas “contra a corrupção” não entendem ou fingem não entender que – embora ela seja praticada por políticos e por muitos do serviço público – a mega-corrupção começa no setor privado, especialmente nas transnacionais sediadas no exterior, grandes beneficiárias das políticas públicas implantadas no País desde 1954.

A partir de então e crescentemente, tornou-se legal. e não identificada como corrupção, a mega-corrupção que entrega o mercado brasileiro à exploração de cartéis e oligopólios e que desnacionalizou o setor produtivo privado, além de privatizar a quase totalidade das empresas e bancos estatais e de pôr o que restou do setor público ao inteiro serviço das grandes empresas, principalmente estrangeiras.

O Brasil só faz figura de potência emergente para quem gosta de se iludir. A pobreza da grande maioria e também o atraso relativo do País resultam do modelo de dependência financeira e tecnológica. Ele não foi implantado por equívoco, mas de caso pensado: foi desenhado para isso, sob a influência e a pressão das potências imperiais que intervieram em 1954, 1961, 1964 e organizaram, entre 1982 e 1988, a pretensa volta ao “regime democrático”

A concentração da economia nas mãos das transnacionais só poderia dar no que deu: recorrentes crises nas contas externas, que geraram a dívida externa. Quando esta e seus juros se avolumaram, a ponto de levar à inadimplência forçada e ao consequente freiamento de sua expansão (final dos anos 70, início dos 80), despontou, em perene crescimento, a dívida pública interna.

Esta constitui enorme fardo, que inviabiliza o desenvolvimento do País, reduzindo a níveis ridículos os investimentos da União Federal e dos Estados. Aquela assumiu as dívidas destes e lhes exige juros tão absurdos como os que ela própria paga ao sistema financeiro.

Formou-se assim o esquema de quádrupla sugação dos brasileiros: a primeira, pagar impostos altíssimos e mal distribuídos: os pobres (mais de 83% da população) entregam mais de 30% do que ganham; os de renda média (menos de 15% da população) têm carga tributária acima de 50%, e as grandes empresas, bancos e outros investidores, além de poder evadir impostos, só são tributados nos ganhos financeiros em, no máximo, 15%.

A segunda sangria é as pessoas gastarem elevadas quantias com serviços que deveriam ser públicos, gratuitos ou módicos, nas áreas de saúde, educação etc., além de sofrerem prejuízos com saneamento e transportes inadequados e com energia injustificadamente cara, devido às privatizações e à falta de investimentos públicos na infra-estrutura que ainda lhe cabe prover.

Os pobres e a classe média são mal atendidas ou nem o são, porque não têm como pagar clínicas, hospitais e escolas privadas, de qualidade, de resto, questionável e favorecidas pelo mercado com que o Estado lhes presenteia ao não proporcionar esses serviços à sociedade.

A terceira sugação são os juros escorchantes, múltiplos da taxa SELIC dos títulos públicos, de longe a mais alta do mundo, com 5,5% aa., corrigida a inflação. Chegam a cerca de 240% aa. no cartão de crédito, 180% no cheque especial e a 90% em empréstimos a pequenas empresas.

A quarta é adquirir bens e serviços a preços muitíssimo mais altos que os praticados em países mais dotados de indústrias intensivas de tecnologia, e mesmo que na Argentina, México e outros latino-americanos.

Exemplo gritante é a indústria automobilística transnacional favorecida com subsídios escandalosos desde o golpe de 1954, aumentados por JK. Isso prossegue, até hoje, com empréstimos do BNDES a juros baixos e n outras benesses prestadas às transnacionais em geral.

De fato, elas se cevam também com incríveis subsídios à exportação, desde o final dos anos 60 (Delfim Neto), – isentadas de gravames em suas superfaturadas importações – bem como com a isenção do ICMS na exportação, presenteada pela Lei Kandir/Collor. Cresceram no Brasil com capital formado no próprio mercado brasileiro e com dinheiro público.

Este ano, em oito meses, só as montadoras de veículos transferiram ao exterior mais de US$ 4 bilhões em lucros registrados, o que não inclui os ganhos com o subfaturamento de exportações e o superfaturamento de importações, nem os serviços superfaturados ou fictícios pagos às matrizes.

Agora, e mais uma vez, as montadoras estrangeiras foram agraciadas com proteção à “indústria nacional”, mediante elevações do IPI para veículos importados, alegadamente para evitar a “invasão” de carros chineses e coreanos. As montadoras aqui instaladas estão livres do IPI majorado, utilizando 65% de componentes produzidos no MERCOSUL. A reserva de mercado, que não existe para a indústria nacional, mesmo porque acabaram com ela, tornou-se política governamental para favorecer os “investimentos diretos estrangeiros – IDES”.

Os IDEs estão na raiz dos problemas, inclusive o da dívida interna, cujos juros são a expressão maior da submissão do País à escravização financeira, em nível injustificável conforme os parâmetros que balizam as taxas em todo o mundo. Por isso, a dívida adveio da capitalização de juros, estando os bancos e os aplicadores financeiros entre os grandes beneficiários do modelo econômico e político que inviabiliza o Brasil como nação.

Para concluir: sem liderança capaz de compreender as grandes sugações e de identificar os causadores delas, não há como fazer que qualquer movimento popular leve às transformações que se impõem, por mais que ganhe ímpeto em função das insuportáveis condições de vida do povo.

* Adriano Benayon é Doutor em Economia e autor de “Globalização versus Desenvolvimento” abenayon.df@gmail.com